Regionalidade

Rotatividade sorteada é melhor
saída para Clube dos Prefeitos

DANIEL LIMA - 19/01/2010

Só existe um maneira de evitar que o controle presidencial do Clube dos Prefeitos do Grande ABC permaneça na bitola estreita de jogo de cartas partidárias marcadas ou no mínimo um jogo em que, legítimos ou não, interesses partidários aflorem e dominem a cena: que seja aprovada uma resolução dos atuais comandantes dos Paços Municipais que introduza como cláusula pétrea o critério de rotatividade sorteada. O sistema convencional, adotado desde 1990, quando da criação do Clube dos Prefeitos, de rotatividade relativa e politizada, não é o mais recomendado.


Os conflitos entre petistas e tucanos autênticos ou disfarçados que dominam a cena regional como consequência de nuances eleitorais que se aproximam precisam ser minimizados. A saída é o consenso em torno da rotatividade programada.


É fácil sim de resolver essa pendenga que destila mais idiossincrasias no ambiente da principal entidade pública do Grande ABC ou daquela que deveria ser a principal entidade pública do Grande ABC: sorteia-se para as próximas três administrações — os dois anos dos atuais mandatários e os oito anos dos mandatos que virão a partir de 2012 — a ordem cronológica presidencial por Município.


Será que interessa aos atuais prefeitos, ou aos prefeitos que em conjunto detêm o controle temporário do Clube dos Prefeitos, essa prova de desprendimento em favor de menos ebulição e mais racionalidade à frente da instituição?


Tenho dúvidas, mas acredito no bom senso do prefeito Clóvis Volpi, virtual sucessor de José Auricchio Júnior, de São Caetano. O titular do Paço de Ribeirão Pires é o indicado pelos demais três prefeitos não-petistas da região. Com o próprio voto, alcançaria a maioria necessária num colégio eleitoral de apenas sete titulares.


Por mais que se tente argumentar que o almoço realizado há 15 dias entre os quatro prefeitos tucanos ou aliados dos tucanos no Grande ABC foi apenas um encontro informal, ninguém resistirá à lógica de que se tratou de fato de uma prévia do resultado a ser homologado para o comando do Clube dos Prefeitos.


Além de Clóvis Volpi e de José Auricchio Júnior, também participaram Aidan Ravin (de Santo André) e Kiko Teixeira (de Ribeirão Pires). Os prefeitos petistas não foram convidados. Argumenta-se que tanto Oswaldo Dias (de Mauá) quanto Luiz Marinho (de São Bernardo) estavam em férias e que Mário Reali, de Diadema, corria atrás da tentativa de atenuar as dores da mãe, que acabou falecendo neste último domingo.


Não acredito na versão de encontro informal quando se percebe que o noticiário do Diário do Grande ABC foi declaratório na definição do resultado de uma votação formalmente marcada apenas para fevereiro.


Tratou-se sim de posicionamento público de tucanos e tucanos dissimulados para manter a visibilidade do Clube dos Prefeitos na tonalidade azul, contra o vermelho petista.


Talvez não fosse diferente se o PT contasse com maioria de votos. Provavelmente agora os petistas comecem a entender porque se utilizaram tanto marketing e aparatos eleitorais da pesada no segundo turno que levou Aidan Ravin à mais surpreendente vitória no País, depois de terminar o turno inicial com apenas 21% dos votos válidos.


A expectativa de que o Clube dos Prefeitos passe a contar, portanto, com lideranças previamente definidas por Município, enseja outra vantagem, além de reduzir a carga de adrenalina nos bastidores: permitiria ao representante do Executivo que ocupará a presidência na sequência cronológica sorteada provável maior interação com temáticas ali debatidas, além de, claro, preparar-se tendo o tempo como aliado.


Quem conhece as entranhas do Clube dos Prefeitos sabe que o presidente se dedica arduamente ao mandato, enquanto os demais atuam como vice-prefeitos, em cargo de expectativa. É por isso que o Clube dos Prefeitos produziu tão pouco em duas décadas de atividades. Aliás, já escrevi sobre isso e até formulei proposta de mudança que, como se sabe, foi descartada.


Já que a eleição de Clóvis Volpi está tão encaminhada quanto a convocação de Ronaldinho Gaúcho para a Seleção Brasileira (ou seria Dunga um cabeçudo que preferiria o tosco Júlio Batista, por exemplo?) nada mais providencial que o próximo presidente do Clube dos Prefeitos tomar a iniciativa de levar adiante a proposta de rotatividade programada. Do sorteio para se definir os próximos cinco comandantes da instituição, ficariam de fora tanto ele quanto o atual presidente, José Auricchio Júnior.


Com o rodízio instalado e com a definição dos próximos 10 titulares por sorteio, obter-se-ia outra vantagem: não haveria espaço para a reeleição.


Parece tão simples tudo isso, não é mesmo? Esse é o problema quando se está em jogo a disputa por votos para deputado, governador, senador e Presidente da República. Quem está com a faca e o queijo na mão de uma maioria inescapável joga para o futuro eventuais mudanças que, com novos personagens, acabam se perpetuando porque sete é número ímpar e alguma agremiação partidária — como o PT no passado — vai comandar as ações estratégicas.


Clóvis Volpi tem uma grande oportunidade para mudar esse histórico de mesmice e de conflituosidade. Se José Auricchio Júnior não o fizer antes, mandato que ainda exerce.


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