O Clube dos Prefeitos, como chamo o Consórcio Intermunicipal, é uma usina de desilusões porque eleva à enésima potência expectativas que caem no vazio ou se esfarelam em minúsculas soluções. É claro que os titulares dos respectivos Paços Municipais jamais assumirão essa definição, nem mesmo quando deixarem os postos.
Não temos vocação para regionalidade fértil. Quanto muito, os prefeitos procuram dar uma valorizada na mercadoria, porque faz parte do enredo até mesmo para que limpem a própria barra. Eles serão sempre melhores em seus municípios porque a governabilidade e a governança estarão sob maior controle.
Tomara que agora, com a formalização do Clube dos Prefeitos como instituição legal, apta a uma série de empreendimentos multilaterais, inicie-se nova jornada. Acredita-se que, finalmente, teremos combustível para o bólido mover-se em velocidade compatível com as demandas sociais e econômicas. Antes, andávamos de calhambeque, mas vendíamos a terceiros incautos e a nós mesmos a idéia de que tínhamos uma Ferrari.
Entretanto e apesar de tudo, não esperem milagres. Não bastassem as divergências municipais que separam os prefeitos, há condimentos políticos e partidários que emperram as relações.
É indispensável espírito público elevadíssimo para superar essas encruzilhadas. A cultura política nacional e internacional sinaliza que só em situações excepcionais as diferenças ideológicas, políticas e partidárias cedem vez à razão. Tomara que o Grande ABC não precise de nenhuma catástrofe para eletrizar o Clube dos Prefeitos.
Fossem os sete prefeitos do Grande ABC de agora — como do Grande ABC desde 1990, quando o Clube dos Prefeitos foi instaurado — detalhadamente observados sob lentes e áudio do BBB teríamos programação enfadonha.
A busca do consenso é a tônica das pautas do Clube dos Prefeitos. Como a instituição é o que menos atazana o dia-a-dia dos prefeitos, exceto para quem é o presidente da vez, tudo que se coloca na mesa acaba bem-vindo. Principalmente se não ferir interesses e se o objetivo coletivo seja extraordinário, mesmo que inexequível.
As reuniões do Clube dos Prefeitos sempre foram vedadas à Imprensa e à sociedade provavelmente os titulares dos Executivos tenham consciência de que os intermináveis shows de consensualidades improdutivas ou pouco produtivas não teriam a menor graça. Bem diferente, portanto, das intrigas do BBB, feito para ter audiência.
As declarações do empresário e médico Fausto Cestari numa entrevista postada pelo jornal digital ABCD Maior mostra a distância que o separa deste jornalista e de um prefeito como Kiko Teixeira, de Rio Grande da Serra. Este jornalista tem por obrigação funcional observar o Clube dos Prefeitos com olhar crítico, construtivamente crítico, mas crítico. Uma função nem sempre compreendida. Kiko Teixeira sempre foi um observador deslumbrado, com um olho no movimento partidário ao seu redor, outro no movimento eleitoral e o nariz onde não deveria. Já Fausto Cestari cumpre fielmente a função institucional que lhe cabe, uma mistura de analista que não se deixa levar pelo conformismo, mas que também não joga a criança da esperança com a água da bacia da impaciência.
O que disse de mais relevante Fausto Cestari ao ABCD Maior?
Que o vício da gestão pública brasileira já contaminou o Clube dos Prefeitos na forma de perda de memória, que significa a interrupção do acúmulo de experiências e prosseguimento de projetos toda vez que se troca a direção da entidade.
Que vê avanços na atuação da entidade com a transformação do Clube dos Prefeitos em entidade pública e a criação de núcleos estratégicos.
Que sua frustração é ter deixado a direção executiva sem que a entidade tenha conseguido maior solidez e estabilidade na estrutura técnica.
Que o período de transição atual é agudo e que por isso mesmo este é o ano do encerramento do ciclo do primeiro planejamento estratégico criado em 2000.
Que as autoridades do Clube dos Prefeitos precisam mobilizar a região para a realização do primeiro planejamento regional estratégico e ajudar a desenhar o que queremos em 2020.
Que um dos aspectos mais relevantes de sua atuação como executivo de confiança da gestão de José Auricchio Júnior, prefeito de São Caetano, foi a criação de Núcleos Estratégicos, que reúne secretários de cada cidade, o que chama de inteligência regional nos respectivos temas.
Que o imbricamento entre Clube dos Prefeitos e Agência de Desenvolvimento Econômico é bastante positivo quando se observa, como diz ter observado, o compartilhamento de ações e proposta que permitiu a construção de dois sites cujos acessos têm mostrado audiência em alta.
Notem que Fausto Cestari não destilou excessos nem subestimou os problemas, embora não o fizesse estridência comum deste jornalista. Seria incompreensível se se pronunciasse com a certa virulência verbal deste jornalista, porque tanto o cargo que ocupava à frente da entidade como o de assessor especial do prefeito de São Caetano recomendam que o mundo da gestão pública chama de responsabilidade corporativa. Jamais pretendi romper esse invólucro, mas sempre condenei o excesso de zelo que — é o caso de Kiko Teixeira — ignora as dificuldades, quando não as subestima, em nome de falsidades que pretendem enterrar a realidade sob a terra avaliativa de interesses individuais.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional