Atenção, atenção, senhoras e senhores da Província do Grande ABC. O profeta da sinceridade, Nostratamos de Resolver, está de volta. Depois de muitos anos de afastamento, desconsolado com a anorexia social da região, Nostratamos de Resolver volta à cena. Inspirado nas Pulseiras do Sexo, que fazem furor entre adolescentes. Nostratamos de Resolver chega ao Grande ABC com as redentoras Pulseiras da Regionalidade.
São sete as Pulseiras da Regionalidade. Como as notas musicais. Como os sete municípios do Grande ABC. Cada unidade representa uma nota musical. Cada unidade representa uma meta para tornar a Província do Grande ABC integrada em objetivos que impulsionariam, num segundo estágio, novas conquistas.
Nostratamos de Resolver tem alguma esperança de que desta vez a Província do Grande ABC despertará do sono omisso do individualismo vadio, do interesseirismo corporativista, do mutismo acovardado — de todas as mazelas que estamos cansados de denunciar.
Enquanto as Pulseiras do Sexo, de cores diferentes, indicam abraço, sexo oral, chupões no pescoço, seio à mostra, beijo, mordida, dança erótica e relação sexual, as Pulseiras da Regionalidade são potencialmente nobres, cidadãs e de responsabilidade social.
Afinal, além de cores diferentes, embutem sons distintos e objetivos específicos, embora integrados. Querem ver?
A Pulseira da Regionalidade da cor verde significa ação coletiva para criar os chamados pólos tecnológicos. Nada que se compare ao individualismo debochado do prefeito de Santo André, Aidan Ravin, que furou a mobilização regional e se apressou ao prometer um pólo tecnológico que tem cara e jeito de fraude, porque incorpora empresas que chegaram a Santo André bem antes de se ouvir falar na medida que teria o apoio do governo estadual.
A Pulseira da Regionalidade da cor azul significa que teremos gente pensando e agindo com base em Planejamento Estratégico Econômico Regional, plataforma para ações coordenadas e racionais. Gente que não se prenderá ao organograma de qualquer instituição pública ou privada que atue isoladamente. Gente que vai agir transversalmente, compartilhando medidas com representações públicas, empresariado, sindicais e acadêmicas.
A Pulseira da Regionalidade da cor amarela se voltará a agentes que se empenharão em deliberações na área de Segurança Pública. A criminalidade no Grande ABC já foi assustadora, baixou bastante, mas pode melhorar ainda mais. Há fundas rivalidades e improdutividades entre polícias civis e militares, e até mesmo de guardas municipais.
A Pulseira da Regionalidade da cor roxa significa que especialistas se dedicarão a olhar para o sistema viário regional sem o bairrismo municipalista autárquico. Seria um golpe de mestre para usufruir das decantadas vantagens do trecho sul do Rodoanel, antes que essas mesmas vantagens tomem o corpo de novas complicações logísticas.
A Pulseira da Regionalidade da cor branca significa que teremos uma radiografia dos terrenos e galpões industriais vagos, subocupados ou passiveis de reciclagem para dar fôlego a investimentos que fujam do furor especulativo do mercado imobiliário sempre voraz. Está na hora de o Grande ABC exumar os efeitos da desindustrialização dos anos 1990, antes que tudo vire prédios de apartamentos.
A Pulseira da Regionalidade da cor preta significa que os pequenos negócios, do centro e dos bairros, passarão a contar com força-tarefa que minimizará as dores de quem enfrenta o grande negócio. Afinal, não passa de balela essa história de que o mercado não precisa de contenções e medidas compensatórias, de que apenas os mais competentes devem sobreviver. Como garantir que os mais competentes sobrevivem de fato diante de tantas desvantagens para ganhar competitividade?
A Pulseira da Regionalidade da cor vermelha significa que os excluídos sociais de vários matizes encontrarão eco na sociedade em forma de planejamento, coordenação e execução de medidas profiláticas. A ideia de que apenas o Poder Público tem obrigação de entender esse mundo de contrastes não vale para um Grande ABC que se diz tão vanguardista.
Erra redondamente quem acredita que Nostratamos de Resolver baseará desafios em pulseiras estáticas, convencionais. Ele explica em entrevista especial a este site que cada cor corresponderá a uma nota musical resultante de um chip. E que todos os agentes públicos e privados que ocupam posição de relevo na sociedade vão passar a usar sete pulseiras.
Estão incluídos nessa lista de múltiplas pulseiras todos os homens de governo, ou seja, prefeitos, secretários, vereadores, funcionários públicos. Todos, absolutamente todos. Mais: dirigentes de entidades de classe empresarial, de entidades sociais, de entidades sociais e de entidades culturais. Professores de diversos níveis. Médicos, advogados. Nenhum jornalista ou dono de veículo de comunicação ficará livre. Quem tiver rendimentos financeiros e bens materiais acima de R$ 200 mil também vai receber sete pulseiras multicoloridas. Frequentadores de colunas sociais, independentemente de não terem um tostão furado, também vão usar as sete pulseiras. Uma lição para quem quer aparecer.
Nostratamos de Resolver avisa que os demais habitantes do Grande ABC não ficarão imunes às Pulseiras da Regionalidade. Quem não se enquadrar nos critérios das sete pulseiras, vai receber duas pulseiras. Eles poderão escolher as cores e, consequentemente, as finalidades e as nota musicais. Quem vai lhes distribuir as pulseiras serão os habitantes do chamado primeiro escalão institucional, ou seja, os tomadores de decisões e os formadores de opinião. As escolhas terão de ser criteriosas. Só poderão receber duas pulseiras quem de fato se preocupar com o futuro do Grande ABC.
O princípio lógico de que quanto mais pulseiras distribuídas, mais possibilidades de se alcançar os objetivos traçados não é apenas uma equação sociológica. É também uma questão de ordem matemática. Com mais remadores, a embarcação ganha maior velocidade e é possível fugir da borrasca.
Nostratamos de Resolver esclarece que as Pulseiras da Regionalidade vão converter-se num fato inédito e que, portanto, não podem ser confundidas com guetos de jovens adeptos das Pulseiras do Sexo. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Isso não significa que amantes das Pulseiras do Sexo não possam utilizar as Pulseiras da Regionalidade. O único problema é que provavelmente terão excesso de acessórios no braço.
Acredita Nostratamos de Resolver que o mundo inteiro vai dirigir olhares para essa província de 2,7 milhões de pessoas. Afinal, uma sinfonia nada agradável marcará a vida da população do Grande ABC. Como assim? Ora, a partir do lançamento do projeto das Pulseiras da Regionalidade, cada movimento de braço vai provocar sons estridentes, sempre de acordo com as respectivas notas musicais.
Nostratamos de Resolver pede para esclarecer que as Pulseiras da Regionalidade devem ser usadas num mesmo braço. Não importa se braço direito ou braço esquerdo. Nostratamos de Resolver não quer ser acusado de direitista nem esquerdista. Cada um que faça a opção que desejar. Vale mesmo é o livre-arbítrio. Longe de Nostratamos de Resolver o slogan que o Diário do Grande ABC utilizou nos anos 1990 numa campanha de valorização do produto e do Grande ABC. O bordão “O braço direito do Grande ABC” pegou mal no berço do sindicalismo.
Não esperem que as Pulseiras da Regionalidade emitam sonidos beethovianos. Nada disso. Serão ruídos desagradáveis em forma musical. Bastará um movimento qualquer de braço para aquelas pulseiras provocarem acordes insuportáveis.
Calma, senhoras e senhores, porque há um remédio contra a histeria musical que, espera Nostratamos de Resolver, tome conta do Grande ABC.
Para cada avanço numa das sete metas vinculadas às cores das pulseiras e às notas musicais, se consumará queda gradual dos decibéis. Ou seja: há uma projeção de que o inferno do barulho descerá ao Grande ABC, mas na medida em que se equacionar cada uma dos sete desafios, teremos redução importante do incômodo.
Nostratamos de Resolver jura pelas próprias barbas de profeta da sinceridade que não será implacável com o Grande ABC. Garante que manterá a sensibilidade aguçada. Que não perseguirá ninguém. E que dará prêmio pelo empenho individual. Que prêmio? Quem se dedicar de fato às causas a que se propôs ou a que foi imposto, terá a percepção individual de som menos desconfortável. Quem mentir, quem for braço curto, quem fingir que está empenhado para valer, receberá o castigo do incômodo auditivo elevado às alturas.
Nostratamos de Resolver avisa que não espera muito da Província do Grande ABC. Ele entende que por muito tempo a barulheira emitida pelas Pulseiras da Regionalidade vai repercutir em diferentes ambientes da região. Generoso, afirma que dará folga à população. Respeitará o horário destinado ao silêncio. Milagrosamente, as pulseiras de calarão entre 10 da noite e seis da manhã. Exceto em alguns casos, ressalva. Usuários renitentemente prevaricadores não terão perdão. Vão dormir, se conseguirem, com o barulho das pulseiras, a cada mexida na cama. Para que não perturbem o sono da vizinhança, um novo milagre operará: o som será de percepção exclusivamente individual. Cansativamente individual.
Ponderei que seria desumano manter as pulseiras vivas durante 24 horas por dia. Ninguém merece tanto castigo. Nostratamos de Resolver não quis conversa. Acha que nessa passagem pelo Grande ABC não pode ser condescendente. Está cansado de tanta promessa de integração regional que, em períodos eleitorais, ganha novas formas de malandragem semântica.
Benditas Pulseiras da Regionalidade. Teremos um Grande ABC insone por muito tempo. Nostratamos de Resolver deve saber o que está fazendo, não acham?
Total de 476 matérias | Página 1
26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional