Enquanto babamos ovos com a chegada do trecho sul do Rodoanel, que não é lá uma Brastemp para a economia do Grande ABC, um novo golpe está sendo preparado para atingir em cheio nosso PIB (Produto Interno Bruto), que só faz cair em três décadas. Agora a ameaça vem do leste paulistano — a Avenida Jacu-Pêssego, em fase final de construção. A Jacu-Pêssego vai se juntar à gambiarra do puxadinho do trecho sul do Rodoanel que passa por Mauá. Com isso ameaça deslocar um pouco mais o eixo de investimentos àquela área da Capital que sofre um bocado por conta de predominância residencial.
A maioria dos empregos dos moradores de classe média emergente da Zona Leste está em outras regiões de São Paulo. A Jacu-Pêssego pode ser o eixo sobre o qual giraria nova etapa de desenvolvimento, conforme, aliás, projeta a administração paulistana com um programa idealizado lá atrás por Marta Suplicy, então prefeita. Territórios livres não faltam, apesar da febre do mercado imobiliário.
Só está faltando a Zona Leste paulistana nos aplicar nova surra econômica. Como se já não bastasse o show de bola da zona oeste da Grande São Paulo, formada pelo que chamo de Grande Osasco.
Os resultados desse território que tem Osasco e Barueri carros-chefes vêm sendo analisados com frequência neste espaço.
Está mais que comprovado que ainda não encontramos uma saída para a dependência exageradíssima da indústria automobilística. Nossa doença holandesa se manifesta mais e mais. Menos mal que os ventos sopram favoravelmente à produção. Somos responsáveis por cerca de 20% dos veículos de passeios produzidos no País e por 60% de veículos pesados. Mas nada me irrita mais que a indolência regional. Faltam cérebros para refletir um pouco que seja e debater saídas além sobrerrodas.
Apenas para situar o leitor de que não estamos soltos quando deveríamos estar internados por qualquer coisa que tenha relação com doidice, reforço projeção antiga sobre os quais muitos riram mas tiveram, à moda zagaliana, de engolir: o trecho sul do Rodoanel não resolve nossos problemas econômicos porque é uma via segregadíssima, com apenas três acessos que passam longe do centro nervoso da produção industrial. E a Jacu-Pêssego vai acrescentar dose talvez cavalar de complicações, ao encurtar e facilitar a chegada ao Porto de Santos e ao outro lado da Grande São Paulo, em direção a estradas federais e estaduais.
Fomos fustigados e não reagimos à altura na disputa por investimentos que se deslocaram para a Grande Osasco. Agora poderemos tomar um chute nos fundilhos da Grande Zona Leste.
Será que seria demais sugerir que deputados estaduais e deputados federais eleitos em nome do Grande ABC revolucionassem as relações institucionais e, já que estão barrados do baile do Clube dos Prefeitos, tomassem a iniciativa de organizarem-se a fim de elegerem algumas prioridades desenvolvimentistas?
Eles poderiam muito bem definir projetos sobre os quais, com o suporte de assessores diretos, dedicariam atenção especial de reforço aos Executivos do Grande ABC que vivem em torno do Clube dos Prefeitos.
Sim, estou sugerindo que, à revelia da institucionalidade formal, forme-se o Clube dos Deputados. Que tal essa iniciativa? Com isso eles resolveriam vários problemas. Talvez o principal seja a ressurreição da chamada Bancada do Grande ABC, uma ilusão de ótica triunfalista que jamais funcionou de fato na região. Ressurreição, portanto, é apenas força de expressão. Não volta à vida quem jamais viveu, está claro.
O Clube dos Deputados não surgiria nem se manteria em situação de conflito com o Clube dos Prefeitos. Nada disso. Apenas ocuparia espaço de debates com projetos que poderiam, numa etapa seguinte, ser encaminhados ao próprio Clube dos Prefeitos.
Vão dizer os mais céticos que é impossível reunir em torno de uma mesa de objetivos comuns deputados de partidos políticos conflitantes, de interesses divergentes.
Estão absolutamente certos os incrédulos, mas há sempre a possibilidade de abrir-se uma porta ao bom senso e ao consenso. Que tal a questão do Rodoanel, do trecho sul e também do trecho leste, prestes a sair do forno, e também do Rodoanelzinho, no caso a Jacu-Pêssego, para esquentar os tamborins de uma regionalidade em frangalhos?
O que não pode continuar, convenhamos, é essa pasmaceira institucional que deixa tudo, o campo de jogo, a bola, a torcida, o árbitro, e a transmissão de TV, para os prefeitos. Enquanto isso, os deputados eleitos com grande percentagem de votos locais metem-se em atividades parlamentares que o eleitorado mal sabe a quantas andam ou andarão, e se esquecem da influência que poderiam exercer para sensibilizar Executivos a apressar os passos de resoluções que não podem esperar.
Não é utopia esperar que soluções desencadeadas a partir de mobilização dos deputados agilizem as medidas de que o Grande ABC necessita para deixar o campo minado de uma economia de cartas marcadas, cujo desempenho, mesmo nestes tempos de bonança, está muito aquém da média das áreas mais industrializadas do País.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional