O jornal Repórter Diário, versão digital, repercutiu a proposta amalucada e fantasiosa de Valter Moura, novo presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, de construção de um aeroporto na região. O jornalista Leandro Amaral ouviu um especialista no assunto, Edgard Brandão, ex-superintendente da regional sudeste da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária).
Resumindo o trabalho jornalístico, Edgard Brandão fez série de ponderações nada entusiasmadoras, o que era de se esperar. Mas educadamente, para não ferir suscetibilidades do dirigente da Agência, disse textualmente: “Se você me perguntar se é inviável, eu digo que não. Porém não deveria (ser construído)”.
A declaração é equivalente aos projetos megalomaníacos de ocupação da lua. Não é inviável, mas…
Provavelmente Edgard Brandão tenha se referido à viabilidade do aeroporto no Grande ABC levando-se em conta (e driblando-se todos os problemas que ele mesmo apontou) aspectos exclusivamente técnicos. A situação é mais profundamente complexa, porque no jogo pela competitividade e pela rentabilidade dos negócios, não haveria investidor algum que se lançasse a estudar a viabilidade de aeroporto em qualquer pedaço de 12 quilômetros quadrados da região, porque há opções muito mais vantajosas sob todos os pontos de vista em áreas da Grande São Paulo que não façam vizinhança com a Serra do Mar. Sem contar em outras localidades da Grande São Paulo Expandida.
Aliás, sobre isso, não faltam estudos da própria Infraero. O Grande ABC simplesmente não aparece no radar de exequibilidade da obra. Todos os estudos que já foram de alguma forma vazados à mídia não fazem qualquer referência ao Grande ABC.
Escrevi sobre o assunto na semana passada, por isso não vou me alongar. A reportagem do Repórter Diário é providencial porque dá sequência a informações que são relevantes e, com isso, quebra a espinha dorsal de acomodação de outros veículos de comunicação que noticiariam acriticamente a declaração de Valter Moura, dirigente sempre em busca da manchete do dia, mesmo que isso se repita há mais de duas décadas, período, aliás, em que está à frente da presidência vitalícia da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo.
As declarações de Valter Moura durante o cerimonial de posse da Agência de Desenvolvimento Econômico causaram tanto desconforto que há ainda mais restrições ao dirigente por parte das entidades análogas do Grande ABC.
Embora tenha sido indicado por uma conjunção de fatores políticos, principalmente por conta de uma costura com representantes das associações comerciais e industriais, Valter Moura é acusado nos bastidores de seguir de nariz empinado, porque não deu satisfação alguma dos projetos que retirou da manga da camisa esfarrapada.
Além de recriar a idiotice de um aeroporto regional, Valter Moura bateu numa antiga e alquebrada tecla de construção de um centro de eventos no Grande ABC, cuja paternidade remonta a uma multiplicidade de agentes políticos e econômicos que se manifestam sobre o assunto há mais de duas décadas, e renovou a esperança de botar para quebrar a constituição de pólos tecnológicos, tema que não está sob a alçada da entidade que passou a presidir.
O que muitos agentes políticos, econômicos e sociais do Grande ABC ainda não perceberam, ou fingem não perceber, é que Valter Moura é representante de uma entidade abstrata, a Acisbec, e de uma instituição sem representatividade de forças no organograma regional, no caso a Agência de Desenvolvimento Econômico.
Ainda nesta semana, revelaremos dados sobre os estudos que realizamos com o Conselho Editorial de CapitalSocial. Os leitores vão ver a quantas andam o prestígio de entidades empresariais, sindicais e sociais da região.
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