Muito do silêncio envergonhado, quando não dissimulado, quando não
diversionista, da institucionalidade em farrapos do Grande ABC se deve ao peso
de consciência de uns e de outros.
O fracasso do Fórum da Cidadania ainda não foi assimilado porque todos se
julgam individualmente com culpa no cartório. Visto e analisado como a maior
empreitada coletiva da história do Grande ABC, o Fórum da Cidadania virou
estigma individual de quem das consequências participou.
Trata-se de avaliação imprecisa. O Fórum da Cidadania não morreu de morte
morrida porque um e outro participante trocaram os pés da ambição individual
pelas mãos da integração regional, mas porque o coletivo derrapou. Quando se
sabe que coletivismo enseja contraponto de transferência involuntária ou não de
compromissos para terceiros, imaginando-se que o todo é maior que as partes,
chega-se a um paradoxo aparentemente complexo: ou todos pecaram e cada um assume
individualmente a responsabilidade ou todos pecaram e cada um procura limpar a
própria barra individualmente.
Seria crueldade demais entender que alguém tenha atuado individualmente de
forma decisiva para o fim da maior ejaculação institucional que o Grande ABC já
viveu. Um e outro protagonista daquela operação podem ter parcela maior de
responsabilidade, mas só o tiveram, convenhamos, porque o conjunto assim o
permitiu.
Creio que em nenhuma oportunidade que me manifestei sobre o Fórum da
Cidadania tenha cometido a injustiça de individualizar a brochada geral e
irrestrita do organismo criado em meados da última década do século passado para
aproximar os contrários sob a bandeira branca do consenso.
Se o fiz, cometi bobagem possivelmente gestada por momento de azedume. Até
admito e mesmo reitero que um grupo de pessoas com maior massa crítica de
influência no Fórum da Cidadania tenha carga sobressalente de responsabilidade
na perda de rumo e de prumo, mas daí a circunscrever a eles pesada artilharia de
culpabilidade é muito diferente. Faltaram-lhes freios que só o coletivismo
produz.
Certo mesmo é que a patética institucionalidade do Grande ABC de uns tempos
para cá é a ressonância mais explícita da ressaca da glória seguida de agonia do
Fórum da Cidadania.
Embora haja esforço individualizado em saltar dos trilhos da história
daqueles que se envolveram com o Fórum da Cidadania, como se a negação fosse
profilaxia para a alma, a dureza dos fatos mostra que o grau de culpa deve ser
partido e repartido com juízo, até mesmo para que lições do passado não sejam
simplesmente esquecidas.
O Grande ABC só emitirá sinais de recuperação de uma institucionalidade que
além de surda e muda também se tem provado degenerativa caso substitua a inútil
negação pública ou a sobrevalorização íntima de culpas individuais por novas
iniciativas. O silêncio dos culpados não pode de forma alguma ser passaporte à
omissão.
A institucionalidade do Grande ABC depende de reação da sociedade que pode
até mesmo ser localizada e detectável, desde que em seguida se propague por
todos os setores e segmentos econômicos, sociais e públicos.
Do jeito que está não pode ficar, porque esse é o pior dos mundos.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional