Sociedade

Governador e prefeitos ignoram
festa de 10 anos do Mário Covas

DANIEL LIMA - 21/11/2011

A cerimônia comemorativa dos 10 anos de inauguração do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, foi esquecida por todos os prefeitos da região e também pelo governador do Estado. Nem mesmo Orlando Morando, figurinha carimbada regional em eventos dos tucanos, deu as caras nessa festividade partidariamente ecumênica, embora historicamente relacionada ao PSDB. O lançamento de uma edição especial que recupera o histórico do Hospital Mário Covas e apresenta a grandeza dos serviços prestados contou com convidados menos notórios.


 


A chegada do Hospital Mário Covas após mais de duas décadas de idas e vindas, de promessas que pareciam eternas, é um marco regional. Conselheiros de CapitalSocial elegeram a obra, no começo deste ano, a mais positiva da região na primeira década do século 21. Um contraponto ao fato mais negativo, o assassinato do prefeito Celso Daniel.


 


A contraposição dá a ideia do quanto o Hospital Mário Covas é importante para a sociedade regional. Pois lhe viraram as costa na noite de comemoração de uma década de atividades.


 


Nem a maior metrópole sul-americana, a cidade de São Paulo, tem sua própria Faculdade de Medicina (já que a famosa USP é do Estado) para tocar um hospital referência como o Mário Covas. A Província do Grande ABC criou há 45 anos a Fundação do ABC e a Faculdade de Medicina do ABC nota máxima no Enade (5), que fazem a gestão do hospital regional, mas o alto escalão político local não soube prestigiá-lo na passagem da primeira década.


 


Cadê o governador?


 


Nem mesmo o governador Geraldo Alckmin, que assina o prefácio do livro histórico, marcou ponto nas festividades. Ele que esteve naquela mesma quinta-feira, dia 17, na região. Mais precisamente de manhã, na entrega da segunda fase do sistema viário Jacu-Pêssego, que compreende o complexo de viadutos Juscelino Kubitschek, em Mauá. É claro que com Orlando Morando, seu líder na Assembléia Legislativa, a tiracolo.


 


Orlando Morando tem paixão indomável pelo Rodoanel Sul, do qual a Jacu-Pêssego é prolongamento. Estudo minucioso talvez consiga explicar tanta devoção. Ou haveria questões mais complexas a destrinchar?


 


O que interessa mesmo é o apagão institucional que fez do Hospital Mário Covas vítima.  Nenhum prefeito da região, nada de governador, nada de secretário de Estado ou representantes? Convenhamos, é de lascar.


 


Dos tucanos de alguma plumagem, apenas o vereador Paulinho Serra, de Santo André, compareceu. O ex-deputado federal Duílio Pisaneschi também acompanhou os festejos. Pisaneschi carrega no currículo uma colaboração importante às obras, porque conseguiu emenda federal que destinou recursos quase integralmente sustentados pelo governador Mário Covas.


 


Artimanhas políticas


 


Seria muito interessante se prolongasse o mesmo esquecimento das autoridades públicas -- inclusive dos senhores vereadores, a maioria ausente do encontro. Basta que abram mão de artimanha nada democrática de encaminhamento pessoal de pacientes e obedecessem a cronologia de atendimento exclusivamente médico pautado pela Central Reguladora de Vagas do Governo do Estado.


 


Como se sabe, não é bem assim. Carteiradas -- principalmente de vereadores e deputados, dentro do jogo de composição de maiorias legislativas -- ditam algumas regras de ocupação de leitos, de execução de exames, de atendimentos ambulatoriais, de tudo que significa socorrer-se de um endereço que é sinônimo de excelência.


 


Pergunta-se a razão de as autoridades terem esquecido o Hospital Mário Covas no 10º aniversário. Trata-se de um enigma, porque se há algo de que políticos não abrem mão é de uma festa. Ainda mais de uma festa regada à memória de um homem público cuja biografia é incensada.


 


Será que o evento, muito mais que a simbologia da data, um marco na saúde pública da região, não constava da pauta do Clube dos Prefeitos? Se constava, não foi levado a sério? E não foi levado a sério porque do Mário Covas já extraem tudo que é possível e, portanto, não resta nada a complementar?


 


Sem explicações


 


Não existe a mínima possibilidade de o evento no Hospital Mário Covas ter sido vítima de idiossincrasias múltiplas que levariam as agremiações políticas à direita e à esquerda a boicotarem o evento. A unanimidade sobre a eficiência do hospital regional não parece receber a menor contestação.


 


Ou será que existe algum fio desencapado de divergência na rotatividade da direção do Hospital Mário Covas entre prefeituras do Grande ABC que teria provocado descarga elétrica retaliadora? Nada disso tem sentido. O Hospital Mário Covas é simplesmente mais uma vítima do regionalismo de araque.


 


Há tantos insumos e estatísticas a consolidar a preciosidade social dessa obra, que apenas o improviso com que se pensa e se planeja a Província do Grande ABC explica o desinteresse por um marco histórico na saúde regional.


 


Uma reviravolta que, bem instrumentalizada, poderia acender a chama de novas empreitadas para o atendimento de uma população que aumenta no contingente de idosos, bloco mais demandante de assistência médica de alta complexidade. O desprestígio aos 10 anos de um dos poucos fatos relevantes da Província do Grande ABC é prova bem acabada do quanto somos exatamente isso -- provincianos.


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