Falta uma entidade das entidades na Província do Grande ABC para se alcançar um mínimo de organicidade institucional com forte agregado de comprometimento social. Com isso, quem sabe, seria possível abrandar esse estigma de subalternidade cultural no qual patinamos há muito tempo. Falta uma espécie de Rede Nossa São Paulo, que reúne mais de 100 entidades da sociedade civil paulistana.
Falta uma réplica bem melhorada do Fórum da Cidadania do Grande ABC de meados dos anos 1990. Falta um Fórum da Cidadania sem a influência diretiva e marquetológica do Diário do Grande ABC, como no passado, ou de qualquer veículo de comunicação. A tutela comunitária de qualquer veículo de comunicação é uma mistura de oportunismo negocial e comodismo social. Não dá liga. O casamento termina
Volto ao tema entidade das entidades que não é novo no portfólio de regionalidade, gênese desta revista digital, porque não pode passar em branco o que a Rede Nossa São Paulo vem realizando na Capital, para contrariedade de muita gente, principalmente de autoridades públicas negligentes e de uma classe política que manipula os cordéis da mídia com a mesma competência, frequência e letalidade com que o volante Marcos Assunção bate faltas no Palmeiras.
Ainda outro dia o jornal Valor Econômico (que insisto em reafirmar como o melhor produto jornalístico do País) publicou uma matéria mais que interessante sobre a mais recente empreitada da Rede Nossa São Paulo. Trata-se de pesquisa encomendada ao Ibope sobre os órgãos que mais contribuem para a melhoria da qualidade de vida. Apenas 7%, vejam só, escolheram a administração municipal.
Veja a tabela que mostra os resultados:
Governo federal, 15%.
Igreja, 14%
Meios de comunicação, 10%
Prefeitura de São Paulo, 7%
Universidade, 6%
Associações de bairro, 4%
Governo estadual, 4%
Empresas privadas/empresários, 3%
Ministério Público, 3%
ONGs, 3%
Poder Judiciário, 2%
Sindicato de trabalhadores, 2%
Subprefeituras, 2%
Câmara Municipal de São Paulo, 1%
Conselhos Municipais, 1%
Empresas públicas, 1%
Prefeito de São Paulo, 1%
Partidos políticos, 0
Nenhuma destas, 14%
Não soube/não respondeu, 6%
O leitor com mais cultura desta revista digital já sabe aonde pretendo chegar. Já imaginaram uma pesquisa séria que procurasse diagnosticar o mesmo sentimento da população da Província? Que mal causariam os resultados municipais e regionais?
O texto do Valor Econômico não ficou em cima do muro, como é comum na Imprensa repassadora de declarações. "O número ajuda a explicar a forte influência que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente Dilma Rousseff têm como puxadores de voto desta eleição
Até que ponto essa situação se manterá estável ou evolutiva às eleições desta temporada, pergunto eu? E até que ponto essa percepção expande-se para a Província do Grande ABC? Ou a influência de Lula e de Dilma Rousseff seria ainda mais elevada, porque goste-se ou não aqui é o berço de fato, sentimental e também sociológico da centro-esquerda que administra o País?
Sem uma entidade das entidades que não fosse uma fraude, como se constatou ter sido o Fórum da Cidadania, porque por baixo dos panos da democratização e dos embates em torno de consensualidades descobriu-se que havia uma preparação, finalmente executada, de jogada político-partidária, qualquer pesquisa de opinião pública na Província do Grande ABC deve ser vista com desconfiança. Ou deveria ser diferente essa interpretação levando-se em conta os interesses contaminados que caracterizam as entidades das mais diferentes atividades?
O que se lamenta é que a mídia de maneira geral é altamente deficitária em termos de cidadania. Basta ver a baixíssima repercussão das ações da Rede Nossa São Paulo, um entidade que está acima de agremiações políticas. Prefere-se, como se sabe, esbanjar espaços impressos, eletrônicos e radiofônicos com bobagens do tipo da megagrávida que de gestante não tinha nada, exceto a ilusão de que carregava quatro gêmeos numa barriga turbinada de acolchoados.
Uma entidade das entidades numa Província do Grande ABC fragilizada ao longo dos tempos por divisionismos territoriais e as implicações culturais que isso representa é apenas um sonho de quem possivelmente tem espasmos de regionalidade como nutriente à manutenção da própria atividade jornalística.
Ou quem sabe não apareceria alguém decididamente maluco para iniciar uma guinada histórica e cujo compromisso seja realmente com a sociedade, não com votos? Tomara que, levada adiante essa sugestão, o resultado operacional não seja mais uma impostura de grupos articulados para vender ilusões e interesses escusos.
Lamentavelmente, duvido que as muitas individualidades de que dispõe a Província do Grande ABC se reúnam em torno de algo que ultrapasse o terreno minado das manjadas cartas de um baralho mais que controlado por jogadores sem a menor responsabilidade coletiva. Até porque, sabem as individualidades imersas nesses campos minados, que a melhor maneira de permanecerem socialmente vivas é continuarem a frequentar redutos improdutivos. Um círculo vicioso cujo preço salgadíssimo será pago pelas próximas gerações. Aliás, já está sendo pago pela atual geração de jovens e também dos deserdados industriais.
Chegamos ao fundo do poço na sociedade regional, num jogo de hipocrisia coletiva que se sobrepõe às qualificações individuais.
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