Regionalidade

Uma agenda para
iluminar a região

DA REDAÇÃO - 05/12/2003

Completamente despreparado para o circo de horrores da globalização sem redes de proteção, o que será do Grande ABC do futuro, da pós-globalização iniciada no governo Collor de Mello e recrudescida durante o governo Fernando Henrique Cardoso? Como deveriam se comportar os governos municipais, empreendedores privados, agentes sindicais e sociais nos próximos anos que abrangem o governo Lula da Silva e seus sucessores? Quais são os referenciais elementares para que o Grande ABC consiga safar-se do esquartejamento a que foi submetido na última década, caindo pelas tabelas da riqueza industrial, base do equilíbrio social?

Em decisão que revoluciona o conceito de fazer jornalismo no País, a Editora Livre Mercado e a newsletter CapitalSocial decidiram preparar um conjunto de propostas para balizar o Grande ABC do futuro próximo que, provavelmente, terá muita influência no Grande ABC do futuro mais distante. Trata-se de uma agenda regional que em larga escala e de uma forma ou de outra já permeia o histórico editorial de LivreMercado, principal insumo da Editora Livre Mercado e prestes a completar 14 anos de circulação, há muito constrói e dissemina idéias e resoluções que, agora, passam por sistematização e ganham a forma de enorme feixe editorial sobre o qual seus profissionais dedicam atenção e monitoramento permanentes.

É uma maneira recorrente de lavar as mãos a falta de apetite das publicações nacionais em encarar a produção jornalística como obra que pode ser compartilhada com a sociedade a partir de pressupostos que saltam de suas próprias entranhas de conhecimento e experiência. É mais fácil a mídia permanecer em postura de observação descompromissada, avalizadora acrítica ou contestadora de ocasião, do que tomar a iniciativa de propor medidas que parametrizem as mudanças que se fazem necessárias.

No caso específico do Grande ABC, o histórico de LivreMercado e de CapitalSocial é imensa exceção à regra. Em pelo menos três livros recentemente lançados — Complexo de Gata Borralheira, Meias Verdades e República Republiqueta — o jornalista e diretor-executivo da Editora Livre Mercado, Daniel Lima, expõe a linha editorial da melhor publicação regional do País, explorando temários que se cristalizam agora em forma de manual de conceitos de redação, versão mais dinâmica e contemporânea dos convencionais manuais técnicos de redação porque ultrapassa os limites do umbigo corporativo e ortográfico.

Por isso, a decisão de preparar uma agenda para, como um farol, iluminar a prática de regionalidade e metropolização no Grande ABC, não deve surpreender os leitores de LivreMercado. Quem acompanha atentamente a estrutura editorial observará que a concentração dos enunciados que se seguem é mais uma camada de blindagem que se sobrepõe às anteriores na luta que a publicação trava contra o comodismo, o triunfalismo, a demagogia, o partidarismo, o individualismo e o corporativismo que estimularam o golpeamento da economia regional, sobretudo nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Avessa ao ziguezague editorial que as publicações nacionais praticam com teimosia e frequência sob o manto tosco de imparcialidade e neutralidade, LivreMercado toma a inédita iniciativa de escancarar sua missão editorial nem sempre perceptível, embora coerentemente sustentada ao longo dos anos. Ou seja: o que antes entendia-se como pacote informal de agregados que dispensava ênfase ao espírito de interdependência, porque se considerava perceptível inclusive a olhos menos atentos, agora ganha embalagem própria, única e mais atrativa para quem pretende entender a correlação de compromissos e responsabilidade de um veículo de comunicação e o público ao qual se dirige.

Nada surpreendente, portanto, porque a Editora Livre Mercado e CapitalSocial se manifestam como veículos de comunicação que transcendem vetores tradicionais de interlocução com o público leitor. Há muito a postura de considerar missão cumprida a simples propagação de informações de fontes nem sempre confiáveis foi atirada ao lixo dos conceitos desses veículos. Cutucar o status quo com vara curta e grossa de um jornalismo que mescla inconformismo com solidariedade é uma marca registrada concebida há muito tempo e em situações nem sempre confortáveis, porque enfrenta ondas de ufanismo irresponsável que ignoram os indicadores de esfacelamento econômico.

O rompimento com o convencionalismo que atribui à mídia o papel de mera repassadora de informações há muito é exercitado na Editora Livre Mercado. Entretanto, agora atinge estágio mais avançado. Resolvemos, como se observa, partir para a definição de uma agenda de prioridades para a região. Se vão dizer que a pretensão da publicação é esquadrinhar o Grande ABC, que digam — porque o que se oferece não são medidas arbitrárias, megalomaníacas. Pelo contrário, trata-se em realidade de uma compactação de propostas amadurecidas pelo tempo e que, se aplicadas, se mostrarão profundamente transformadoras.

Resta saber, por fim, até que ponto o Grande ABC extremamente distante dos conceitos de capital social — a capacidade de instaurar interlocuções produtivas entre governo, mercado e comunidade — será capaz de tomar um banho de cidadania, retirando a poeira do amontoado de vícios que explicam os desfalques que marcam sua geografia econômica e social.

 Evitar tratamento festivo a eventos e propostas que não ultrapassam o terreno de conjecturas.Exemplo: os infinitos acordos formulados pela Câmara Regional não passam, na maioria dos casos, de cartas de intenção. Entretanto, o que exala do noticiário é o mau cheiro de um propagandismo manipulador que agride o bom senso e a perversa situação socioeconômica do Grande ABC. Prova contundente de que o Grande ABC de papel não corresponde ao Grande ABC de fato está na própria cronologia contrastante dos últimos 10 anos, quando pontificaram bajulações à institucionalidade regional interrompida e trôpega, enquanto a riqueza industrial evaporava.

 Exigir a disseminação de conceitos e práticas de empreendedorismo entre os estabelecimentos de ensino público e privado para possibilitar salto em direção à solidez dos negócios, principalmente de pequeno porte.Exemplo: ainda é muito larga a distância que separa a academia e o empreendedorismo de pequeno porte no Grande ABC. Cases de sucesso genuinamente regional, em meio ao turbilhão macroeconômico, são valiosíssimos materiais de estudos. Uma pena que universidades, faculdades e escolas de Segundo Grau ainda não tenham percebido a importância de valorizar o empreendedorismo local como plataforma de estudos, principalmente para despertar nos alunos a consciência prática de que, à falta de empregos, só restará a alternativa do negócio próprio. Uma boa maneira de romper a tradição do Grande ABC da manufatura para o Grande ABC de cérebros.

 Incentivar mecanismos de preparação e de proteção aos empreendedores de pequeno porte dos setores comercial e de serviços para o enfrentamento dos grandes conglomerados nacionais e internacionais.Exemplo: a cronologia de investimentos dos grandes conglomerados comerciais e de serviços que aportaram na região em paralelo ao esvaziamento industrial não difere da desídia que se deu no Brasil e na América Latina. Somos vítimas de uma acachapante falta de planejamento espacial e setorial. Amenizar o drama do desemprego renitente que sobreveio com a fragilização do setor industrial descentralizado e evadido é um desafio que precisa ser enfrentado.

 Estimular ações que coloquem academia, governos municipais e sociedade num mesmo e amplo compartimento de amarração dos dispositivos de regionalidade.Exemplo: não tem passado de pura falácia a integração regional em nível exclusivamente político-institucional. Quando, então, se avança para estágio superior, com a sensibilização de entidades de classe empresarial, sociais e não-governamentais, o vexame é ainda maior. Câmara Regional, Consórcio de Prefeitos, Agência de Desenvolvimento Econômico e o desfalecido Fórum da Cidadania dançam muito mal e sob ritmos variados e muitas vezes antagônicos. As instituições de ensino são um mundo à parte. Apenas ensaiam participar, com idas e vindas que mais comprometem do que enaltecem o setor.

 Exigir representantes do mercado e da comunidade como agentes de decisão nas instâncias públicas de cunho municipal e regional.Exemplo: A Agência de Desenvolvimento Econômico e o Consórcio de Prefeitos são fortalezas praticamente inexpugnáveis à participação da comunidade. A Câmara Regional, ficção que alguns tentam vender como realidade, nem merece ser mencionada. Falta sociedade nos dispositivos institucionais que se criaram na região. Prevalece uma institucionalidade manquitola, em que o peso dos governos municipais é quase que monopolizador e, como tal, sujeito a vieses que não necessariamente interessam ao conjunto da comunidade.

 Defender a ocupação dos mananciais por meio de combinação de desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.Exemplo: Não existe incompatibilidade entre economia e meio ambiente a ponto de tornar os debates sobre o uso das áreas de mananciais espécie de Fla-Flu insuperável. Enquanto prevalece esse viés arraigadamente conservador e mistificador, porque os mananciais têm sido vitimados há décadas não por ocupação econômico-produtiva mas por invasões demográficas especulativas, as condições de sustentabilidade se agravam.

 Exigir das entidades empresariais ações que ultrapassem interesses exclusivamente corporativos, principalmente no sentido de dar maior competitividade à região.Exemplo: é histórico o fracasso das entidades empresariais do Grande ABC no campo institucional. Exceto em algumas ocasiões, quando interesses corporativos se mesclaram com possível despertar comunitário, entidades ligadas ao empresariado jamais se mobilizaram de fato para alterar o rumo dos acontecimentos, num procedimento que, aliás, é lugar-comum no País. Compartimentadas por municípios, as entidades empresariais ignoram conceitos de regionalidade estratégica.

 Exigir das entidades sindicais reflexão permanente sobre as repercussões sociais de reivindicações e conquistas trabalhistas.Exemplo: omissos ao longo da história nas questões que fogem ao interesse de sua própria geografia institucional, os sindicatos de trabalhadores precisam exercer novo modelo de capital social. As reivindicações trabalhistas são tão legítimas na concertação dos benefícios à classe como a extroversão rumo ao equilíbrio socioeconômico da região. Ou seja: o Grande ABC continuará ferido de morte no campo trabalhista se não associar aos ganhos reivindicatórios dos sindicatos mais atuantes a contraface de movimentos conjugados que visem a dar maior equilíbrio ao jogo do mercado.

 Exigir mecanismos institucionais para retirar a economia do Grande ABC da dependência estrutural dos setores automotivo e petroquímico.Exemplo: esse é o grande nó górdio do desenvolvimento econômico sustentável do Grande ABC. A dependência de duas atividades globalmente competitivas, casos das petroquímicas e das automotivas, transformou a região em campo minado. Basta recorrer aos números da última década, quando 100 mil empregos industriais com carteira assinada desapareceram das fábricas da região, para decifrar o tamanho da encrenca. A grandiloquência com que se costumam referir os triunfalistas ao parque automotivo da região esconde nosso calcanhar-de-aquiles: nos tornamos vulneráveis demais no jogo bruto da concorrência internacional automotiva. Pior ainda: quanto mais nos aproximamos dos níveis de competitividade, menos emprego e geração de renda exibiremos.

 Exigir de entidades sociais mobilizações além dos interesses corporativos de seus associados.Exemplo: o fracasso do Fórum da Cidadania é sintomático da falta de enraizamento e entrelaçamento das entidades sociais do Grande ABC. Há evidente dispersão de forças e mesmo antagonismos, além da atávica viseira de enxergar apenas o próprio umbigo corporativo e os limites territoriais. A consensualidade decisória propagada pelo Fórum da Cidadania se mostrou ineficaz depois do chamamento das entidades. O que sobrou tem mais a ver com omissão do que o indispensável contraditório.

 Estimular permanentemente a integração regional nos aspectos econômico, social, cultural e político por meio de várias instâncias de representações.Exemplo: essa resolução passa necessariamente pela articulação multilateral dos organismos locais e regionais que precisam observar o Grande ABC como amplo laboratório cuja importância e força de pressão decorrerão da capacidade de seus agentes estabelecerem diagnósticos sobre os quais concentrarão as baterias de evoluções. A compartimentação temática das organizações, presas à camisa de força do corporativismo, destrói conexões que caracterizam sistemas integracionistas.

 Desqualificar políticas públicas voltadas à disseminação de medidas microeconômicas que comprometam o todo regional.Exemplo: as eventuais vocações econômicas individuais dos municípios do Grande ABC não podem servir de pretexto para a aplicação de políticas públicas e privadas de desenvolvimento isolado. A iniciativa se mostrará sempre irracional, na medida em que a genética regional será contrariada no aspecto mais importante destes tempos de transformação: competitividade em relação a outros territórios próximos ou distantes. Está estatisticamente provado que o modelo de guerra fiscal adotado pelas prefeituras da região como salvação coletiva dos municípios é um fracasso absoluto porque se insere no campo de efeito e não de causa do esvaziamento econômico.

 Incentivar a utilização de recursos provenientes de impostos, taxas e contribuições municipais para o aparelhamento técnico-operacional da economia regional.Exemplo: a recuperação do setor comercial dos municípios do Grande ABC, com série de decisões que determinarão nova realidade na infra-estrutura física e também na área de marketing compartilhado poderia ser fortemente enfatizada com a criação de fundos municipais criados com receitas pré-definidas de tributos próprios das prefeituras, especialmente do IPTU. Já há experiências internacionais com esse desenho e cujos resultados têm sido extraordinariamente positivos. Nesse sentido, é preciso que, ao mesmo tempo em que haja ousadia do Executivo, as demais representações da sociedade participem do processo.

 Estabelecer referências de efetividade e produtividade regionais aos deputados estaduais e federais eleitos predominantemente ou significativamente com votos no Grande ABC.Exemplo: à falta de uma pauta de prioridades que contemplem as demandas específicas de cada município e do Grande ABC como um todo, o que se verifica historicamente na relação dos parlamentares eleitos fortemente ou não com votos regionais é que eles praticamente nada conseguem de substantivo. É preciso dar às ações pontuais a importância residual que de fato comportam, substituindo-as por manobras transformadoras. Na situação em que se encontra, apenas um macroplanejamento econômico e social, com participação efetiva dos governos do Estado e federal, além do mercado e da comunidade, poderá reinstalar o Grande ABC na rota do desenvolvimento sustentável.

 Incentivar medidas restritivas de gastos com o funcionalismo público com base em dados disponíveis em instituições independentes de avaliação dos custos do poder público.Exemplo: as despesas do funcionalismo público dos municípios do Grande ABC, tanto do Executivo quanto do Legislativo, deveriam ser parametrizadas com os dispêndios menores que saltam de estatísticas do ranking dos principais municípios paulistas. A perversidade administrativa dos dispêndios salariais e de despesas gerais do Executivo e do Legislativo com base na Lei de Responsabilidade Fiscal é um equívoco a ser corrigido. Boa parte do montante da redução de custos poderia ser aplicada em programas de desenvolvimento econômico, com efeitos muito mais expressivos no dinamismo social.

 Exigir dos agentes públicos, privados e sociais permanente pressão por medidas preventivas de profundo alcance para desestimular a transformação do Grande ABC em endereço preferencial da incidência criminal.Exemplo: o Grande ABC como um todo e a quase totalidade de seus municípios, individualmente, ocupam os últimos postos no ranking dos principais territórios paulistas de medir incidência criminal. No caso específico de furtos e roubos de veículos, o que se tem no Grande ABC é um encavalamento de registros policiais que se perpetua ano após ano, sem que absolutamente nada de consistente minimize a situação. Um dos resultados mais desalentadores da fragilidade das estruturas policiais na região é o exagerado ônus a que os proprietários de veículos são submetidos, com as apólices de seguro alcançando custos só comparáveis aos da Baixada Fluminense.

 Cobrar das autoridades públicas diagnóstico e ações para combater as carências de infra-estrutura material que atravancam o desenvolvimento econômico regional.Exemplo: é mais do que evidente o encalacramento logístico do Grande ABC, apertado numa Grande São Paulo que cresce em direção oposta à Serra do Mar, onde estão os sete municípios locais. Obras viárias e ferroviárias estão no horizonte regional como resposta ao sitiamento, mas a dinâmica econômica não permite que a vagarosidade seja companheira da competitividade. É preciso que verdadeiras operações de sensibilização das esferas estadual e federal sejam encetadas para o caráter de urgência do Grande ABC.

 Exigir das autoridades públicas a qualificação de estudos técnicos para dar sustentação às necessidades da infra-estrutura social.Exemplo: no vácuo da descentralização da indústria automotiva, combinada com a deserção empresarial, sobrou ao Grande ABC um acúmulo imenso de obrigações para amenizar a depauperação do quadro social. A proporção de recursos tributários amealhados pelo Estado e pela União é infinitamente maior que o retorno. A sensibilização do governo do Estado e do governo federal para contrabalançar a disforme via dupla de recursos retirados e recursos repassados deve ser tomar como base estudos tecnicamente irrebatíveis.

 Combater informações de agentes públicos, sociais e empresariais que, à falta de compromisso com a regionalidade, optarem pelo espetaculoso sem fundamentação.Exemplo: a perniciosa e improdutiva onda de triunfalismo não pode mais vicejar no Grande ABC, sob pena de transgredir o bom senso e assaltar eticamente os descalabros sociais. A implementação de políticas públicas e mesmo privadas de recuperação institucional, econômica e social do Grande ABC dispensa ufanismos interesseiros. Por isso não se pode delegar a profissionais de conduta duvidosa a condição de porta-vozes de entidades, outorgando-lhes por omissão ou sugestão a senha para mistificações que já se provaram desmoralizadoras e inibidoras de reações produtivas.

 Exigir transparência de dados orçamentários das instituições públicas, inclusive com transposição das informações para o campo virtual, na rede mundial de computadores.Exemplo: os valores gastos por organismos públicos não podem ser propriedade de poucos diretamente relacionados à estrutura dirigente. A Agência de Desenvolvimento Econômico vive situação de quase mendicância financeira que ajuda a explicar as dificuldades para executar planejamentos técnicos. Enquanto isso, o Consórcio de Prefeitos propaga disponibilidade de caixa cujo destino seria melhor aplicado em planejamento estratégico preparado por especialistas em unir teoria e prática.

 Cobrar dos estabelecimentos de ensino mantidos com recursos públicos maior empenho e comprometimento com questões municipais e regionais.Exemplo: Tanto na Agência de Desenvolvimento Econômico quanto no Consórcio de Prefeitos, a presença de representantes de academias públicas da região está em desacordo com a importância do momento econômico e social do Grande ABC. Um novo modelo de intersecção dessas instituições poderia se tornar porta de entrada para a superação histórica do distanciamento entre as partes. Há uma reserva de mão-de-obra universitária muito mal explorada pelos organismos públicos da região. Bolsistas, por exemplo, poderiam retribuir a generosidade dos municípios com ações comunitárias no campo social e econômico.

 Incentivar a inserção de instituições assistenciais entre as preocupações de responsabilidade social de organizações privadas, públicas e não-governamentais.Exemplo: o convênio entre o Sebrae e Nossas Madres Terezas para a aplicação de cursos técnicos de gestão de entidades sociais é simbolicamente a comprovação de que bastam incentivo e boa-vontade para que ao voluntarismo se acrescente metodologia. Mais que nunca, a situação social da região exige que exemplos como o do Sebrae e Nossas Madres tenham ramificações e se convertam em importantes paradigmas de responsabilidade social. Inserir essa e outras eventuais experiências pode ganhar contornos de sinergia que em muito colaboraria para alterar nossa regionalidade.

 Exigir dos governos estadual e federal participação permanente de interlocutores oficiais.Exemplo: a falta de um interlocutor oficial do governo Lula da Silva no Grande ABC e mesmo a pouco expressiva diplomacia preparada pelo governo Geraldo Alckmin ajudam a explicar por que a região não consegue poder de convencimento para as prioridades sociais e econômicas. Contar efetivamente, no dia a dia, com representantes do governo federal e do governo estadual concretamente, com assento nas mesas de decisões, pode parecer privilégio ao qual o Grande ABC pretende se dar ao luxo, mas não passa mesmo de decisões indispensáveis depois de uma década de tormentas.

 Defender a constituição de um fundo de recursos financeiros oriundos de orçamentos municipais ou de doação de empresas privadas para a contratação de especialistas que atuariam no assessoramento das instituições de cunho regional e dos parlamentares conceituados como representantes do Grande ABC.Exemplo: os quadros técnicos de que dispõem as prefeituras e que atuam tanto na Agência de Desenvolvimento Econômico quanto no Consórcio de Prefeitos não têm, na maioria dos casos, visão negocial do espaço regional. Não são especialistas em competitividade. Essa qualificação é própria de consultorias especializadas, cujos profissionais, exatamente por não estarem vinculados política e administrativamente a interesses específicos das administrações locais, poderiam implementar medidas tecnicamente mais produtivas.

 Exigir das instituições regionais calendário permanente de intercâmbio com organizações internacionais vocacionadas ao temário metropolitano.Exemplo: as temáticas regionalidade e metropolização são cruciais para que o Grande ABC ultrapasse definitivamente as fronteiras do provincianismo gerencial e administrativo que o fere de morte desde que se dividiu em sete pedaços. Por isso, nada mais interessante que oxigenar as veias municipais e regional com insumos de conhecimentos e experiências internacionais. Pioneiro no debate de regionalidade, tendo à frente o prefeito assassinado Celso Daniel, o Grande ABC dormiu nos próprios louros e acabou ultrapassado por outro municípios que agiram individual ou coletivamente.

 Considerar como membros das bancadas de deputados do Grande ABC na Assembléia Legislativa e em Brasília todos os eleitos domiciliados na região, bem como tantos quantos tenham alcançado número de sufrágios decisivos a se instalarem acima da linha de corte.Exemplo: A definição do que eventualmente venha a se justificar como bancadas regionais na Assembléia Legislativa e em Brasília é o primeiro obstáculo a ser superado para que se definam os caminhos para avaliar o desempenho de cada parlamentar. Estabelecido o quadro de representantes, o monitoramento de suas atividades individuais e coletivas passará a ser submetido aos princípios de regionalidade e de metropolização, deslocando-se para o quarto de despejo questões pontuais que tanto mistificam a qualidade dos mandatos.

 Cobrar das autoridades públicas, das entidades de classe empresarial e dos agentes comunitários empenho e determinação que tornem mais factível e suportável o financiamento de pequenas e médias empresas.Exemplo: o restabelecimento mesmo que parcial da força econômica do Grande ABC passa pela desativação de armadilhas preparadas ao longo dos anos pelos mais diversos agentes políticos e privados. Por isso, não é possível escapar da degola da mortalidade empresarial sem que se manifeste a massa crítica dos diversos atores da sociedade. Somente uma força-tarefa que se diferencie de tudo o que se encontra no modelo ultrapassado de lobbies permitirá que os pequenos negócios sejam reenquadrados nas linhas de financiamento. A idéia conservadora de que problemas empresariais devem ser resolvidos apenas pelos agentes empresariais é tão cômoda como entender que políticas públicas são responsabilidade exclusiva dos governos.

 Defesa de um fundo metropolitano da Grande São Paulo para aplicação em políticas públicas direcionadas à competitividade econômica e social da região metropolitana.Exemplo: por mais que a geografia exclusivamente regional deva ser o núcleo das iniciativas para recolocar o Grande ABC na trilha do desenvolvimento, as características da Região Metropolitana de São Paulo são extremamente peculiares e sinérgicas para o bem e para o mal e recomendam, portanto, medidas integracionistas. A composição mesmo que informal de uma instância metropolitana gerida com a sociedade e representantes do mercado se coloca como ramal decisivo para o estancamento do quadro de atomização da qualidade de vida, seguido de políticas de recuperação.

 Formação de um grupo multidisciplinar de profissionais reconhecidamente especialistas em Grande ABC para atuar informalmente como assessores de programas voltados à valorização da imagem institucional da região.Exemplo: experiências já consumadas quando o assunto marketing regional saiu da teoria para a prática mostraram que o desconhecimento sobre a matéria, geralmente confundida como apêndice de triunfalistas de plantão, tornou a emenda da mistificação pior que o soneto do rebaixamento da qualidade de vida. Entregar a imagem institucional do Grande ABC exclusivamente a publicitários ou profissionais de marketing tem efeito semelhante à guarda de galinhas por raposas. Importantes na formulação de campanhas de auto-estima institucional, tanto os publicitários quanto os profissionais de marketing devem contar com parceiros como economistas, jornalistas, educadores e sociólogos, entre outros.

 Engrossar, com mobilizações permanentes, a corrente de apoio aos representantes municipais e regionais de atividades esportivas e culturais com maior potencial de divulgação doméstica, estadual e nacional, quando não internacional.Exemplo: as campanhas de nossas equipes de futebol profissional e das companhias ou individualidades no vasto campo da cultura devem merecer prioridade absoluta, numa espécie de corrente de propagação da regionalidade por meio de atividades mais apropriadas à sensibilização da comunidade, abrindo, portanto, alas para a massificação de outros temários menos populares. Uma comunidade orgulhosa de seus representantes artísticos está mais próxima da cidadania nas demais áreas, como contribuinte, consumidora e geradora de riquezas.



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