Façam suas apostas senhores e senhoras: o que sai primeiro das planilhas para o mundo real de obras: o aeroportozinho do prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, ou o cemitério só para corintianos, que o vice-presidente de marketing do clube, o sempre genial Luiz Paulo Rosemberg, anunciou nesta quinta-feira com investimento previsto para uma das cidades da Província do Grande ABC?
Se tivesse que apostar, apostaria no cemitério, que vai dar um charme especial a esta Província tão desprovida de adereços de marketing. Pelo menos em matéria de mortalidade seremos uma das referências do mundo esportivo, porque apenas o Boca Junior da Argentina e o Hamburgo da Alemanha contam com reservas especiais para quem foi desta para melhor, como se costuma dizer. Está aí um empreendimento do qual quero ser acionista só após longa jornada. Mais longa, muito mais, do que meus adversários imaginam e muito menos do que merecem.
Uma coisa é líquida e certa, e agora não comporta mais dúvidas: o prefeito Luiz Marinho assumiu de vez que sua assessoria andou vendendo gato de aeroportozinho por lebre de aeroportozão quando fez vazar ano passado ao Diário do Grande ABC (que estampou manchete principal de primeira página) o que supostamente seria uma formidável notícia para a economia regional, ou seja, que São Bernardo contaria com um aeroporto internacional, o terceiro da Região Metropolitana de São Paulo. Caieiras, que até então tinha alta cotação, seria desbancada.
É claro que não faltaram os puxadores de aplausos sempre pendurados em interesses nada republicamos que, de imediato, saudaram a iniciativa do prefeito. Até escreveram artigos para demonstrar o quanto estavam ali, prontinhos para ser cooptados, como se já não estivessem. O que impressiona ao se observar retrospectivamente aquela notícia é quanto de vassalagem impera na região, a tolher o senso crítico, quando não a própria honra. Por estas bandas, exceto em período eleitoral, a lambeção é constante. Quando votos estão em jogo, a maioria mostra a cara e as vísceras e se transforma em camicases, com ataques e contra-ataques abaixo da linha de cintura.
Aeroportozinho mesmo
Luiz Marinho finalmente teve a grandeza de, pressionado pelas circunstâncias e preso à necessidade de mandar imprimir o plano de vôo para eventual segundo mandato, lançado nesta semana, assumir perante os jornalistas que o pretendido, anunciado e louvado Aeroportozão deverá ser mesmo o Aeroportozinho mais que advertido neste CapitalSocial.
Mesmo assim, senti nas entrelinhas das entrevistas repassadas pelos jornais impressos e digitais da região que até mesmo o Aeroportozinho está na corda bamba, porque o grupo paulistano que negocia uma área próxima ao Rodoanel com o governo federal está de olho mesmo num espaço na região da Grande Osasco, no trecho oeste, não no trecho sul, que tangencia a Província do Grande ABC. A Lei de Proteção dos Mananciais é uma barreira natural desrespeitada nas ocupações de moradias, mas conta com certa couraça quando se trata de investimentos privados. Desde que os investimentos privados não tenham interesses escusos, é claro.
A notícia sobre o cemitério só para corintianos foi publicada pela UOL no começo da manhã de ontem. Imagino o quanto vai gerar de besteiras, gozações e mensagens debochadas ou grandiloquentes, porque a Internet é um território aberto a tudo e o Corinthians, como se sabe, é um dos temários de maior audiência na plataforma digital. Provavelmente o Macaco Simão não vai perder a oportunidade para rechear sua divertidíssima coluna na Folha de S. Paulo. Muito provavelmente vão correlacionar a obra à Província de forma preconceituosa, porque nossa imagem, goste-se ou não, é de suburbanidades explícitas.
Os paulistanos, principalmente, se referem a nós com desdém. Não conheço um morador da Capital, com origem ou adaptação à Capital, que não nos veja com o mesmo sentimento de patroa em relação à empregada doméstica. Como condená-los? Subordinação é o nosso conceito cultural, econômico e social máximo em relação à vizinha, daí a razão, entre outras, de escrever, como escrevi, o livro “Complexo de Gata Borralheira”. Nossos novos ricos, então, que frequentam endereços badalados dos novos ricos e pessoal de TV de segunda classe da Capital, ganham notoriedade pela impressionante vocação à vaidade como proteção à falta de cultura.
Marketing regional
Quem sabe com o marketing competente do Corinthians pelo menos os mortos, os mortos corintianos, tragam para a Província do Grande ABC uma aura de prestígio, de ineditismo, de fidelidade, decantada pelos alvinegros? Possivelmente no futuro, com o Cemitério Corinthians instalado, os mortos corintianos possam ao menos contrapor-se à vitrine, aos bastidores, aos escaninhos públicos e privados, hoje completamente dominados pelos mais vivos (e botem vivos nisso) da Província?
Pensando bem, e agora escrevendo como suposto triunfalista, essa raça que só atrapalha o desenvolvimento regional, que tal contratar junto a uma consultoria em marketing, uma campanha publicitária que nos coloque de volta à ribalta da consagração nacional?
A mensagem seria clara, reta e direta, em consonância com a fabulosa obra prevista pelo vice-presidente corintiano. Mais ou menos nestes termos: “Se até os ilustres e eventualmente anônimos mortos corintianos preferem morar definitivamente no Grande ABC, por que os vivos não apressam o passo para garantir um espaço especial?”. Talvez a Associação dos Construtores, do porta-voz da felicidade Milton Bigucci, possa encampar essa ideia, porque tem tudo a ver com o mercado imobiliário, não é verdade?
Ainda delirando, e voltando ao plano do agora aeroportozinho do prefeito Luiz Marinho, não custa especular que, ante a eventual inviabilidade ambiental, financeira e logística do empreendimento, mesmo sendo o empreendimento apenas para voos executivos e cargas leves, que tal ocupar a suposta área com o cemitério dos corintianos?
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!