Jamais em toda a história de duas décadas praticamente perdidas o Clube dos Prefeitos do Grande ABC (também conhecido como Consórcio Intermunicipal) contou com a eleição de um chefe de Executivo em contexto que lhe fosse tão favorável. Pena que o escolhido não tenha exposto até agora vocação à regionalidade -- exceto da boca para fora.
Luiz Marinho tem todas as condições circunstanciais de mudar a história de muita pirotecnia e de baixíssimos resultados dessa instituição. Mas como ainda não tirou a cabeça e os pés de São Bernardo, Município que dirige há quatro anos e no qual atuou como metalúrgico e sindicalista por quase toda uma vida, o restante da Província do Grande ABC fica em segundo plano.
Tanto que fica em segundo plano que Luiz Marinho só assumiu o Clube dos Prefeitos porque impôs ditatorialmente o consenso dos demais e, principalmente, porque nenhum outro dos seis parceiros de jornada municipal tem experiência como titular de Paço Municipal. Era pegar ou pegar, sob risco de desmoralização da entidade e de rescaldos desagradáveis ao próprio petista.
O que será do novo prefeito dos prefeitos? Elaborei em menos de dois minutos uma lista de 10 razões que tornam Luiz Marinho um prefeito dos prefeitos com a obrigação técnica, política, ética e moral de pautar-se por uma gestão forte, encaminhadora de soluções, dinâmica. Será que conseguirá? Tenho muitas dúvidas porque as obrigações do prefeito de São Bernardo e prefeito dos prefeitos vão até determinado limite. O limite em que a individualidade pode ajudar a fazer a diferença em relação às demais gestões do organismo, mas que isoladamente não alcançará os resultados desejados.
Rigor avaliativo
Possivelmente haverá tentativas mil para dourar a pílula, para dar a impressão de que se fez mais do que de fato carece a Província do Grande ABC. Faz parte do show de marketing esse tipo de relação com a sociedade nesta Era de espetacularização de tudo. Por isso, não custa nada manter-se ligado.
O que os astros e as estrelas colocaram no caminho de Luiz Marinho é fértil, muito mais fértil, sem comparação com o que levou Celso Daniel, o melhor prefeito regional da história, até porque o único, a fazer brotar a ideia e a botar de pé o Clube dos Prefeitos, em 1990.
Celso Daniel era um agente público mais proeminente do que o agente político que todo administrador público carrega. Tinha a regionalidade nas veias. Morreu sem ver germinar muitas sementes físicas que lançou, embora a principal, o conceito de regionalidade, tenha frutificado.
Luiz Marinho conta com a vantagem do aprendizado com o passado dos outros e com o passado próprio. Se tiver desprendimento fará do Clube dos Prefeitos uma plataforma de razoável poder de comunicação com a sociedade regional como um todo. Será que o fará, ele que é municipalista até o último fio da cabeleira que já há algum tempo deixou de repartir ao meio, preferindo um corte mais convencional e menos exótico?
Vamos, então, a uma espécie de decálogo de vetores mais que favoráveis, especialíssimos, para embalar a carreira regional do prefeito dos prefeitos que relutou em assumir o cargo:
1. Liderança partidária regional.
2. Interlocução com o governo federal.
3. Liderança administrativa regional.
4. Liderança em visibilidade midiática.
5. Inexperiência dos demais prefeitos.
6. Ambição política materializável.
7. Liderança econômica regional.
8. Interlocução com o governo estadual.
9. Interlocução com prefeito da Capital.
10. Interlocução com prefeitos locais.
Podem acreditar os leitores que nenhum desses pontos está sobreposto a qualquer outro, à inutilização de um ou de outro. São de fato complementares, embora também interdependentes em larga escala. Ou seja, têm a vantagem de que eventual emperramento de um ou outro não influenciaria de modo decisivo o conjunto da massa crítica de possibilidades de o prefeito dos prefeitos Luiz Marinho provocar uma reviravolta numa biografia de regionalidade espasmódica. Para ser sincero e verdadeiro, a regionalidade de Luiz Marinho é opaca, disforme, dilacerantemente inútil. Agora, quem sabe, ganhará novos rumos. Deixaria a epiderme e penetraria no âmago das demandas regionais.
Apenas um obstáculo
De todos os vetores listados, o único que possivelmente esteja distante de alcançar o grau máximo de efetividade refere-se à interlocução com o governo do Estado. As disputas eleitorais vão manter ambos os partidos nucleares da política nacional – PT e PSDB – em cantos diferentes do ringue politico. Aliás, já estão em posições antagônicas, mas por medidas mais que diplomáticas as aproximações se fazem estratégicas para transmitir ao distinto público um sentimento de grandeza que, todos sabem, não passa da página três.
Por isso mesmo a ideia do prefeito dos prefeitos Luiz Marinho de contar com um representante do governo estadual no centro de estudos e resoluções do Clube dos Prefeitos é apenas perfumaria. Mesmo que se efetive, é melhor não botar muita fé em fertilidade. O passado condena a projeção otimista de aproximações sinceras e frutíferas.
Quem não se lembra da Câmara Regional do Grande ABC, criada em conjunto pelos prefeitos de então, Celso Daniel à frente, e o governo do Estado, Mário Covas no comando? Naquela instância paralela de governo, que até outro dia supostos especialistas em regionalidade acreditavam existir, todos os secretários de Estado constavam da relação diretiva, assim como deputados estaduais e deputados estaduais, entre algumas dezenas de indicações. Deu-se um tremendo fracasso. Secretariado do Estado e agentes locais jamais chegaram a se reunir.
É possível também, na escala de valores factíveis de realizações, que um ou outro prefeito de Município da Província do Grande ABC venha a opor-se aqui e acolá ao prefeito dos prefeitos Luiz Marinho. Mas como a maioria está com o petista – e a maioria detém grande parcela do poder econômico e eleitoral na região – essa possibilidade perde força como elemento à impactação negativa dos eventuais projetos que visariam a dar um novo rumo econômico e social à região.
Vou voltar mais vezes às questões vinculadas à regionalidade da Província do Grande ABC, porque muito dificilmente o prefeito dos prefeitos deixará de ocupar a ribalta nos próximos tempos. Aliás, suas primeiras declarações já merecem algumas análises, mas as deixaremos para os próximos dias.
Talvez a história do Clube dos Prefeitos recomece com a gestão do petista mais proeminente destas terras, depois da interrupção provocada com a morte de Celso Daniel -- aquele que foi o que foi tendo quase tudo desafiadoramente desfavorável para sê-lo.
Luiz Marinho, portanto, não pode decepcionar. Um ano é muito pouco para que deixe marcas importantes de transformações inadiáveis. Um segundo mandato é compulsório. Se fizer careta a essa ideia, é melhor renunciar ao primeiro mandato. Pelo menos não perderemos tempos nem construiremos um castelo de cartas de expectativas.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional