O assunto é tratado com a máxima discrição na seção de Santo André da Ordem dos Advogados do Brasil. O presidente Fábio Picarelli não vai falar oficialmente sobre os desdobramentos da matéria publicada na última semana no Diário do Grande ABC. Não vai falar porque não quer ser mal interpretado ou porque espera que o assunto se dilua naturalmente.
Certo é que ele está irritado com a propagação da mensagem subliminar que aquele trabalho jornalístico repassou aos leitores, mas que não teria consistência corporativa. E o que a matéria passou? Que Picarelli está aliado ao grupo de 12 vereadores de oposição ao prefeito Carlos Grana. Uma turma, no conjunto e salvo ações angelicais de alguns, absolutamente da pesada.
O que é uma turma de vereadores da pesada na linguagem jornalisticamente responsável, na linguagem politicamente incorreta e na linguagem criminalmente alarmista? Que há entre alguns dos vereadores do G-12, como é chamado o agrupamento, quem não é flor que se cheire. Nem flor que se cheire nem muito menos exemplares de altruísmo social.
O G-12 é manipulado externamente por políticos que combatem a Administração do petista. Nada que fuja da bitola democrática, mas nada também que não tenha parentesco com algumas questões tratadas no Código de Processamento Penal.
Pois é essa turma, ou parte dessa turma do G-12, que levou aos leitores do Diário do Grande ABC a impressão generalizada de que Fábio Picarelli estaria retirando a Ordem dos Advogados do Brasil da postura institucional de neutralidade política e partidária. Fábio Picarelli estaria entregando de bandeja a cabeça da entidade. E como pensar diferente se Picarelli aparece em foto de final de Copa do Mundo juntamente com toda a turma do G-12, enquanto até prova em contrário o Legislativo de Santo André conta com 21 titulares?
Demandas perigosas
O que se deu de fato e sobre o qual por enquanto Fábio Picarelli prefere não conversar é que a OAB está com dificuldades para compatibilizar o crescimento de representatividade social com os entornos que a procuram em busca de legitimação de atividades. Quem disser que ao G-12 faltam experiência e malandragem no bom e no mau sentido da expressão é ruim da cabeça ou doente do pé. O G-12 é um time cascudo, que sabe o que quer e também o que não interessa porque detesta perder tempo.
O agendamento do encontro na sede da OAB com o presidente do Legislativo de Santo André pressupunha, segundo a interpretação de diretores próximos a Picarelli, a presença de todos os vereadores. O golpe foi bem aplicado, porque apenas o grupo oposicionista se fez presente.
Independente do tratamento da pauta do encontro, que reúne algumas questões de interesse da sociedade e que por isso mesmo abriu as portas da OAB ao Legislativo, o resultado político final do encontro, com a foto de final de campeonato em destaque nas páginas do Diário do Grande ABC, foi o pior possível para a imagem de neutralidade da OAB.
Já estava pronto, prontíssimo, para dar um chega-pra-lá na política institucional da OAB de Santo André, porque é inconcebível que a fragmentação mais que interesseira do Legislativo ganhasse a ribalta dos cuidados de boa-vizinhança daquela instituição. A partidarização de entidades de classe é o caminho da desmoralização e do descrédito. As preferências individuais de seus representantes não podem ser confundidas com a autonomia da instituição, sob pena de prejuízos incalculáveis. Ainda bem, entretanto, que Fábio Picarelli zela por isso, embora para aqueles que lhe opõem resistência ele se aproxime demais de setores da esquerda ou da direita, dependendo do ponto de vista individual e grupal. Seria essa contradição o diploma de independência de Picarelli?
Nestas alturas do campeonato é possível que a OAB tenha de dar um passo adiante para fazer do limão limonada. Quem sabe o incremento das relações institucionais entre as duas corporações pautadas por demandas sociais mais instigantes permita que Santo André entre para um mundo totalmente diferente quando se estudarem fórmulas para resolver problemas aparentemente insanáveis?
Agenda coletiva
O que não falta é uma agenda a ser construída de modo que, da mesma forma que retire a OAB do enclausuramento corporativo, embora algumas iniciativas sociais já se manifestassem, coloque o Legislativo num regime de engorda de credibilidade, porque o que se tem sob a sensação crítica generalizada é que aquela Casa dá-se demais ao desfrute dos prazeres de fingir que fiscaliza o Executivo e este finge que é vigiado pelos legisladores, num falso jogo de gato e rato que, de fato, não passa de armação de iguais para levar ao distinto público a ideia de que são diferentes. G-12 seria o suprassumo dessa maquinação, da maquinação de parecer que é outra coisa quando de fato não é outra coisa bulhufas.
O G-12 é mais ou menos uma caricatura disso tudo, portanto. Caricatura, explica-se, porque não tem arte nem talento para transmitir à sociedade a ideia de que está falando sério quando sugere relações mais produtivas com o prefeito Carlos Grana. O cheiro da brilhantina é de uma espécie de chantagem por vantagens que todo mundo pensa que sabe do que se trata mas que, quando observadas sob lentes mais rigorosas, são muito maiores e menos transparentes do que se pode imaginar.
É por essas e outras que o ambiente entre os advogados de Santo André deu uma esquentada nos últimos dias e, no íntimo, quando confrontado com as repercussões objetivas ou semânticas daquela notícia e, principalmente, daquela foto, o presidente Fábio Picarelli teria substituído o sorriso sempre largo por algumas rugas que só lhe aparecem no rosto em situações de certa gravidade. Não é o caso de internação para observações, porque Picarelli não é nenhum despirocado, muito pelo contrário, mas que de alguma forma o assunto causou rebuliço na entidade, isso causou.
Seria muita ingenuidade acreditar que por onde passe o G-12 não fique um rastro de inquietação, interrogação, provocação e outros sentimentos que advém do modo mais secular de fazer política, ou seja, de preparar a armadilha para alguém importante e sair para o abraço de comemoração, após um passe milimétrico que redundou em gol.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!