Regionalidade

Marinho estimula suspeita de que
não sabe ser prefeito dos prefeitos

DANIEL LIMA - 06/03/2013

O prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC não tem aptidão para ser prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC? O petista Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo e presidente do Clube dos Prefeitos, patrocinou no encontro da entidade na última segunda-feira um desperdício de tempo ao anunciar o que seria um plano de mobilidade urbana. Tratou-se apenas de arremedo de recortes municipais.


 


Apenas o jornal Bom Dia ABCD capturou a essência daquela reunião. Tivemos um jogo de cena, um marketing rastaquera, um cumprimento de tabela, e não propriamente uma exposição que proporcionasse a perspectiva de dias melhores.


 


Luiz Marinho ainda não se deu conta da importância de presidir o Clube dos Prefeitos entre outras razões para não transformar eventual desejo de chegar ao governo do Estado em anedota ou em um teimoso puxadinho do prestígio de seu amigo do peito, o ex-presidente Lula da Silva.


 


Num quadro macroeconômico e macropolitico integralmente adverso, Celso Daniel consolidou em instâncias regionais um legado filosófico que, mesmo sem sucessores públicos, perdura até agora como horizonte a ser percorrido. Talvez Luiz Marinho seja vítima do complexo de apertador de parafusos, que gira, gira e não sai do lugar.


 


O resumo da ópera bufa de propaganda enganosa é que a Província do Grande ABC vai apresentar nos próximos 15 dias pacote de projetos sobre acessibilidade urbana com 116 obras, encaixadas em 16 eixos considerados críticos.


 


O chutômetro exposto por Luiz Marinho projeta custos de R$ 10 bilhões. Quem esperava detalhamento básico dos nós que atravancam o sistema viário da região se viu num mar de dúvidas. Imaginar, então, que a questão fosse tratada de forma sistêmica, transversal, porque mobilidade urbana não se esgota em obras viárias e em investimentos em equipamentos de transporte, não sabe o quanto é idiota ao acreditar em algum grau de cientificidade do projeto meramente cosmético.


 


A simplificação traduzida em cifrões é o que interessa ao Clube dos Prefeitos. Ainda mais que o dinheiro que poderá vir para a região estará embutido no orçamento do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), recheadíssimo de maracutaias e corrupção.


 


Uma voz isolada


 


Como não perco mais meu tempo com reuniões mequetrefes como as do Clube dos Prefeitos e já não tenho paciência para entrevistas coletivas politicamente corretas, recorro às publicações impressas e virtuais para acompanhar os principais lances. Há uma convergência bovina na divulgação daquele encontro, menos, como já disse, do Bom Dia ABCD, cujo título da matéria é emblemático: “Mobilidade demora em sair do papel”.


 


Se o título é emblemático, o que dizer então dos primeiros parágrafos? “Considerada prioridade pela nova gestão do Consórcio Intermunicipal, a série de intervenções na área de mobilidade no ABCD ainda vai demorar para sair do papel. Nenhuma obra deve começar neste ano. A reunião de prefeitos (...) mostrou que ainda há um longo caminho entre a intenção das administrações e o início de obras consideradas essenciais para melhorar o trânsito de veículos e o transporte coletivo regional” – escreveu o jornal da Rede Bom Dia.


 


Vou mais longe às observações. Há mais que indícios, há confirmações de terceiros de que os prefeitos dos sete municípios da Província do Grande ABC foram instados a cobrar de assessores alguns detalhes sobre os principais gargalos viários de seus territórios, internamente e interdependentes de territórios vizinhos. Algo que qualquer motorista de taxi sabe de cor e salteado. Feito isso, levaram à reunião do Clube dos Prefeitos esses chamados eixos prioritários. Fácil como tomar doce de criança.


 


Cadê o deputado


 


Não tenho informações sobre eventual participação do deputado estadual Orlando Morando, que, por muito tempo, dirigiu a comissão de transportes da Assembleia Legislativa de São Paulo e cansou de declarar que o trecho sul do Rodoanel, que passa tangencialmente por aqui, representaria solução dos problemas viários locais.


 


O mensageiro da esperança do governo estadual integra o clube dos simplistas do qual o prefeito dos prefeitos Luiz Marinho só difere na cor da camisa partidária – e mesmo assim bem menos do que em outros tempos, antes que se acertassem nos bastidores numa política de não hostilidades que beneficia mutuamente os ex-litigantes. Indo ou não Orlando Morando nada poderá dizer que não seja suspeito porque o passado é enorme mancha em seu currículo. O que pergunto e não custa nada perguntar embora para alguns ditadores de plantão perguntar seja ofensa, o que pergunto é qual foi a metodologia utilizada pelo prefeito dos prefeitos Luiz Marinho para estimar os custos em R$ 10 bilhões?


 


É claro que algum marqueteiro lhe assoprou aquele valor para mostrar o tamanho do problema com que nos defrontamos. Mas o próprio Luiz Marinho, do alto de uma inteligência que causa espanto por ainda não ter despertado interesse da academia que confere o Prêmio Nobel, reconheceu que as possibilidade de sucesso são ínfimas, porque o ministério da amiga Miriam Belchior reserva não mais que R$ 38 bilhões nesta temporada a todo o território nacional. Não há apadrinhamento lulista que suplante as disputas geopolíticas.


 


Por mais que o governo federal tenha interesse em devolver à Província parte dos impostos recolhidos à exaustão de empresas e de pessoas físicas, seria inadmissível que o compadrio regional prevalecesse na liberação de recursos financeiros a investimentos cujas dimensões e especificidades são desconhecidas.


 


A Província do Grande ABC, na verdade, fez um catado de estorvos viários que atravancam a qualidade de vida e entorpece os mecanismos produtivos, transformando-o em seleção de demandas que nos próximos 15 dias serão empacotadas e despachadas a Brasília. Tudo isso sem nenhum critério de prioridade, de complementaridade, de produtividade e de qualquer outra coisa que transmita a noção de que temos algum tipo de senso organizativo.


 


Como o governo federal corre atrás de projetos para manter a corrida em busca de um PIB que não seja de novo vergonhoso, não é difícil que Miriam Belchior aceite o calhamaço sem agregado de valor algum e aprove uma verbazinha para a próxima temporada de eleições, estimulando uma marquetagem que induziria os incautos à linha de partida de uma grande recuperação regional.


 


Mercadores imobiliários


 


Os chamados 16 eixos críticos não serão objeto de cirurgias reparadoras de verdade, mesmo que todo o dinheiro do mundo seja aplicado, porque a essência dos problemas que os envolve passa pela permissividade consentida e bem remunerada com que os administradores públicos se relacionam com os grandes mercadores imobiliários.


 


A concentração de lançamentos imobiliários nesses eixos urbanos determina a contrapartida compulsória de investimentos públicos no processo civilizatório de qualidade de vida. Repete-se na região a estratégia empresarial que transformou a Capital vizinha no caos que todos conhecem.


 


A reforma do sistema viário da Província do Grande ABC ingressa na zona cinzenta da desconfiança de que se trata mais de um mecanismo alimentador de recursos escusos para campanhas eleitorais do que antídoto com algum poder de constranger a impetuosidade dos grandes mercadores imobiliários.


 


É praticamente inútil a aplicação de recursos públicos para colocar certa disciplina em qualquer um dos eixos viários críticos ante a manutenção da ordem (ou desordem) de uso e ocupação do solo urbano dos municípios envolvidos. Os abusos que se cometem às claras nos corredores de tráfego mais importantes da região, em forma de construções avantajadas para extrair o máximo possível de cada metro quadrado, retroalimentam o processo de permanente quebra da velocidade média de deslocamentos de veículos de passeio e coletivos.


 


A projeção do Clube dos Prefeitos que dá conta de ganhos de 20% da velocidade média dos deslocamentos, tendo como base de sustentação uma operação-catado, aprimora a chutometria de Luiz Marinho. O velho e desgastado truque de brandir números para adquirir credibilidade vale apenas aos incautos. Já cansei de assistir a esse filme.


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