Regionalidade

Proposta para os negócios
de turismo em Santo André

DANIEL LIMA - 28/04/2003

Financiamento garantido, descentralização de diagnósticos, concentração de decisões, enraizamento popular -- eis alguns dos aspectos vitais para a construção de um ambiente de negócios de turismo no Grande ABC que rompa os conservadores paradigmas que cercam a atividade. Esse é o resumo do que poderia apresentar de proposta preliminar para a composição do Comtur (Conselho de Turismo de Santo André) e que, basicamente, serviria individualmente aos demais municípios da região e também ao conjunto do Grande ABC.


 


Para tornar mais didático o encaminhamento de proposições, decidi elaborar breve planejamento organizacional e estratégico, dividido em compartimentos temáticos que, sincronizados, asseguram lógica de efetividade. Enxertos, reparos e supressões só a experiência prática permitirá, já que se trata de novidade no arcabouço técnico-institucional-operacional da atividade no País.


 


Não pretendo com esse trabalho preliminar detalhar operações de marketing turístico, entre outras razões porque há especialistas na matéria e também, principalmente, como se notará, porque promovo uma reviravolta nos conceitos que ancorarão as iniciativas que julgo imprescindíveis para estabelecer nova dinâmica nessa atividade. A execução tática de planejamento de marketing direcionado ao turismo passa pelo mata-burros da estruturação estratégica.


 


Entretanto, convém chamar a atenção para o fato de que mesmo a estruturação estratégica não pode estar descolada de alta dose de inconformismo que, por sua vez, evoca medidas que fogem completamente dos padrões com que tem sido tratada a questão no Grande ABC.


 


Um dos maiores pecados táticos e estratégicos cometidos na região, sempre que se coloca a temática turismo como elemento multiplicador de recursos financeiros, é o descolamento da realidade sociológica local em relação a outros municípios e regiões. Transplantam-se ou pretendem transplantar iniciativas vitoriosas em outros endereços sem levar em conta peculiaridades municipais e regionais do Grande ABC.


 


Convém assinalar, também, que este é um documento-esqueleto, ou seja, está pronto para ser enxertado de novas ideias e propostas conceitualmente compatíveis com sua gênese revolucionária. Também é importante ressalvar que não é por ser diferenciado em relação a tudo o que se apresentou historicamente no campo turístico da região -- e também do nosso próprio País -- que este breve documento opõe-se ao modelo convencional.


 


É possível sim que com criatividade, desprendimento, entusiasmo, dedicação e empenho, este documento possa ser extraordinariamente enriquecido na prática por porções de modelos mais conservadores. Para tanto, é prioritário que o escopo deste trabalho não seja subvertido e que a vontade política se manifeste intensamente para a adaptação legal das propostas ao figurino nem sempre maleável da legislação do setor público.


 


Lembramos a todos que o que se segue é uma contribuição de quem enxerga o Grande ABC como um todo mas que, por força das circunstâncias, enquadrou o foco das sugestões ao Município de Santo André. De qualquer forma, a simples substituição nominal de Santo André por qualquer um dos demais municípios da região acomodará sem sobressalto o conteúdo integral deste documento.


 


É verdade que o ideal para a integração seria a adoção regional dessas medidas, que é a forma como todos nos enxergam além de nossas fronteiras. Entretanto, nem sempre o ideal é um trajeto de logística adequada. Há sinuosidades que precisam ser contornadas. Exatamente por isso entendemos que se a mudança das atividades de turismo começar por Santo André, já teremos dado grande salto em direção ao futuro, porque provavelmente suscitará mimetização. Aliás, é exatamente porque se especializaram em copiar-se mutuamente que os municípios do Grande ABC não conseguem praticar o jogo do desenvolvimento econômico fora das quatro linhas de rigidez do setor industrial, há pelo menos uma década em indefensável processo de fragilização.


 


Espero que os leitores deste trabalho tenham se despido de todos os eventuais preconceitos e paradigmas românticos que dissociam turismo de negócios e, principalmente, negócios de turismo. Afinal, este introdutório é essencial para a compreensão do que se segue. Que se lancem, portanto, à leitura com o espírito de quem está pronto a participar efetivamente de uma empreitada inovadora, renovadora, cristalizadora de novos tempos, sem que isso, repetimos, signifique tornar o passado uma roupa imprestável.   


 


1. Da nomenclatura


 


A nomenclatura proposta para o organismo de Santo André precisaria ser alterada para que transpusesse o objetivo da empreitada. Conselho de Turismo de Santo André ou de qualquer outro Município não significa o conjunto de ideias e proposições desejáveis para estabelecer novo modus-vivendi na atividade, que envolve a população interna e externa.


 


O mais apropriado, dada a dimensão e a sinergia pretendidas, seria algo como Conselho de Negócios de Turismo de Santo André. Embora pareça superficial, mesmo desprezível, há grande diferença entre Conselho de Turismo de Negócios e Conselho de Negócios de Turismo.


 


O conceito comum de Conselho de Turismo de Negócios  indica que o turismo se apropriaria, no bom sentido, dos negócios que girariam em torno de si, numa reação automática de retorno efetivo da capacitação de atrair o público mas sem oferecer sinergia mais completa.


 


O segundo conceito, de Conselho de Negócios de Turismo, é propositalmente estimulador de atividades indutoras e complementares de turismo tendo como pressuposto um conjunto de ações voltadas à valorização do espaço municipal num contexto que possibilitaria, numa etapa em paralelo ou posterior, o aproveitamento de equipamentos turísticos de entretenimento e de lazer.


 


Traduzindo a diferença emblemática de Conselho de Turismo de Negócios e Conselho de Negócios de Turismo: no primeiro caso, o turismo propriamente dito seria o grande chamariz de sedução, o que por isso só impõe limites que o tempo já tem provado cerceadores da expansão desejada; por outro lado, no segundo caso os negócios especialmente de comércio e de serviços despertariam o turismo de negócios sob a expectativa de atratividade facilitadora e suplementadora inframunicipal e extramunicipal.


 


A compreensão da sutileza que separa o primeiro modelo -- exponencialmente conservador e descolado das expectativas mais abrangentes dos consumidores e usuários -- e o segundo marcantemente revolucionário, porque inovador, se dará com maior facilidade nas próximas etapas deste sucinto núcleo de propostas.


 


2. Do Financiamento


 


Não faltam experiências nacionais e internacionais -- e sobretudo no Grande ABC -- que dão conta das enormes dificuldades de municípios e regiões periféricas das grandes Capitais alcançarem resultados satisfatórios com o turismo de negócios. A falta de financiamentos estáveis e sistemáticos é obstáculo crônico num País em que as empresas são arredias a investimentos sem retorno garantido e onde o Poder Público alardeia outras prioridades, desprezando, com isso, os efeitos multifacetados que as atividades econômicas desencadeiam.


 


Especificamente no caso de Santo André, o financiamento de atividades disseminadoras de negócios de turismo é tão expressivamente importante quanto a relevância de observar a anorexia dos cofres públicos e a debilidade do mercado financiador como imensuráveis obstáculos. 


 


Dessa forma, a saída é captar recursos do mercado de maneira diversa da sedução geralmente tão intermitente quanto insuficiente de patrocínios privados e de sempre improváveis financiamentos de organismos públicos nacionais e internacionais.


 


Há duas fontes de recursos que poderiam determinar nova configuração aos negócios de turismo particularmente em Santo André e no Grande ABC como um todo.


 


Trata-se do financiamento por meio de recursos oriundos de parte pré-definida de receitas de dois dos principais impostos municipais -- o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e o ISS (Imposto Sobre Serviços). Não se trata, como alguns poderiam sugerir, de extravagância propositiva nem de canibalismo tributário.


 


Primeiro, porque esse receituário já se tornou comum no Primeiro Mundo. Há experiências de amplo sucesso voltadas para atividades exclusivamente de comércio e de serviços, mas com repercussão na cadeia dos negócios de turismo, tanto no Canadá quando nos Estados Unidos, entre outros países.


 


Segundo,  porque tanto num caso quanto noutro o acréscimo de recursos tributários incidirá sobre impostos que representam baixíssima participação na grade tributária do País. A soma dos dinheiros arrecadados com IPTU e ISS no País, ano passado, não ultrapassou 2% da carga tributária geral de 36,4%.


 


Terceiro, porque o volume adicional de dinheiro arrecadado com o IPTU e o ISS derivaria de um pacto contributivo especialmente direcionado ao desenvolvimento econômico sustentado a partir das atividades de comércio e de serviços, tradicionalmente muito aquém de setores industriais. A iniciativa é uma contraofensiva tardia, mas não dispensável, de recuperação de parcela do tônus econômico perdido com o esvaziamento industrial em Santo André e da região como um todo. 


 


Não bastasse essa prova de que é preciso dar tratamento menos emocional ao calibramento dos impostos municipais, o macroplanejamento econômico espacial de Santo André definiria um novo patamar de impostos arrecadados, num processo retroalimentador que atingiria inclusive o campo de trabalho, com a geração de empregos.


 


Essa melhoria se explica pela quebra de evasão de consumidores para outros municípios bem como pela própria dinâmica de ganhos comparativos e competitivos que os empreendedores comemorariam com uma nova realidade de relacionamentos macroespaciais.


 


No primeiro caso, não se pode esquecer que Santo André é passagem geográfica praticamente compulsória dos demais moradores do Grande ABC. Atividades de comércio e de serviços capazes de encantar com maior intensidade resultariam em fluxo adicional de consumidores e usuários.


 


3. Da descentralização


 


A distribuição de Santo André em macrobairros incrementaria a associação de políticas específicas de atividades voltadas para os negócios de turismo com a interface do conjunto desses macroespaços. A arrecadação e a distribuição de recursos financeiros oriundos do IPTU e do ISS para a aplicação do Conselho de Negócios de Turismo se dariam em larga escala com base no universo proporcional de dinheiro dos respectivos macrobairros.


 


Para que fosse possível equalizar a distribuição dos recursos gerados em todo o Município e, dessa forma, atenuar eventuais distorções que pudessem acrescentar desbalanços socioeconômicos entre macrobairros, estaria reservada também parcela das receitas a investimentos definidos por macroplano.


 


Ou seja: além de o fundo de recursos tributários contemplar obrigatoriamente determinado nível percentual e linear de aplicação de receitas arrecadadas nos próprios macrobairros, haveria um montante também percentualmente definido para ser injetado de forma espacialmente abrangente, de acordo com critérios de macroprioridades específicas.


 


Desta forma, como se observa, seria possível amenizar as reais diferenças de perfil das atividades comerciais e de prestadores de serviços no âmbito do território de Santo André, resultante da histórica ausência do Estado, na forma de governo local, no planejamento econômico do Município, como de resto ocorreu em todo o território nacional. Repetindo, aliás, a barafunda também histórica da ocupação do setor industrial.


 


4. Da gestão dos recursos 


 


O Conselho de Negócios de Turismo contaria com estrutura operacional que acolheria o que é mais precioso em uma comunidade que busca soluções -- o chamado capital social. Isto é: representantes do Poder Público, dos agentes econômicos e da comunidade.


 


A direção do Conselho de Negócios de Turismo seria profissionalizada, com a contratação de especialistas que formariam a Diretoria Executiva, cujas ações deveriam ser referendadas por uma Diretoria Gestora formada por um representante do Poder Executivo, um representante do Poder Legislativo, um representante do Mercado, um representante da comunidade e um representante de atividades culturais.


 


Completando a espinha dorsal diretiva da instituição, o Conselho de Negócios de Turismo contaria com Assessoria Consultiva formada por representantes de organizações econômicas e culturais de cada um dos macrobairros em que seria subdividida Santo André.


 


Nota-se pela proposta que o Conselho de Negócios de Turismo atenderia a duas premissas básicas do moderno capital social -- ao mesmo tempo em que daria elasticidade com responsabilidade à participação da comunidade diretamente interessada nas propostas, disciplinaria as ações por meio de um grupo de executores e gestores para que o excesso de sugestões não coloque em risco o foco com que deverá ser dirigido o organismo.


 


5. Das prioridades


 


A historiografia das principais instituições regionais -- como de resto no País -- é extraordinariamente abundante de fracassos irrecuperáveis de organismos que se esbaldaram em credibilidade nos primeiros tempos. A explicação é simples: a enorme dificuldade de conciliar quantidade participativa e qualidade decisória porque se abriu mão de gerenciamento qualificado na ponta das ações operacionais e também porque se deixou esboroar o comando estratégico, a ser conferido à Diretoria Gestora.


 


Exatamente por isso o Conselho de Negócios de Turismo não pode incorrer nos equívocos de assembleísmo, democratismo e populismo. A autonomia executiva do quadro de especialistas não pode sofrer de dois frequentes males administrativos: o desinteresse de monitoramento ou a infiltração de interesses desconectados do núcleo conceitual. Os profissionais contratados precisam ser permanentemente sabatinados pela Diretoria Gestora para que possam oferecer respostas a todas as indagações e também ser avaliados sob o ponto de vista estritamente técnico-operacional. 


 


6. Do comércio e de serviços


 


A necessidade de fortalecer os macrobairros de Santo André com planos voltados aos respectivos setores de comércio e de serviços pode soar estranha apenas para quem enxerga as atividades de turismo de negócios exatamente nessa ordem, e não na ordem inversa e mais ampla de negócios de turismo.


 


O grau de atratividade de Santo André como modelo de exploração turística no sentido econômico mais amplo e menos romântico vai depender em larga escala, no início da empreitada, do fortalecimento geral e equitativo dos macrobairros.


 


Na medida em que os setores de comércio e de serviços de Santo André passarem a contar com políticas públicas dirigidas ao fortalecimento dessas atividades, será possível recuperar parte dos prejuízos provocados pela chegada das grandes corporações e, também, valorizar estrategicamente atividades que só contam com isoladas incursões de marketing.


 


O que se pretende com a aplicação de parte dos recursos do IPTU e do ISS em cada um dos macrobairros é priorizar receitas orçamentárias derivadas dos respectivos macrobairros para intervenções prementes de valorização do espaço municipal. Enfim, é contar com a absoluta certeza de que um fundo de fomento estará reservado a investimentos em marketing determinados pelas especificidades de cada local, seguindo linha de coerência e complementaridade dos executivos do Conselho de Negócios de Turismo.


 


É evidente que para a consecução desse projeto a Administração Pública deverá contar com um banco de dados dos respectivos macrobairros, de modo a acompanhar, nas temporadas seguintes, as performances comparativas das políticas de investimentos. Esse monitoramento poderá permitir, inclusive, medidas estratégicas de compartilhamento das decisões que determinaram os resultados mais expressivos e, em contraposição, eliminação de investimentos de baixa repercussão econômica.


 


7. Dos agentes culturais


 


A descentralização de Santo André em macrobairros para a estruturação do marketing voltado a atividades de comércio e de serviços permitiria também que agentes culturais dos respectivos macroespaços passassem a constar numa primeira instância de ações relacionadas à valorização desses locais e, em seguida, revezando-se por todo o Município. Esses agentes contrariam, entre outras áreas, com equipamentos públicos e privados.


 


Especialistas no assunto poderiam desfilar dezenas de propostas que conciliariam interesses econômicos e culturais dos macrobairros. Esse entranhamento possibilitaria enriquecer as relações interpessoais e dinamizar os próprios negócios. Afinal, não se pode enquadrar atividades culturais fora do conceito de empreendedorismo. 


 


O distanciamento tradicional entre agentes empresariais e agentes culturais no plano de macrocidades apenas reproduz realidade igualmente encrustada nos macrobairros. Ao juntar num mesmo espaço, inicialmente dos macrobairros, atividades aparentemente díspares mas plenamente complementares, o Conselho de Negócios de Turismo possibilitaria a sedimentação de um longo mas vitorioso processo de acasalamento social, com claros reflexos de cidadania.


 


8. Do setor industrial


 


É evidente que a -- ainda -- principal atividade econômica não pode ser excluída de qualquer proposta que leve em conta os negócios de turismo em Santo André e no Grande ABC. A captura dos agentes econômicos da indústria de transformação também deverá ser alcançada sob os critérios de macrobairros. Inserir representantes do empresariado e dos trabalhadores na temática de enriquecimento interno das relações interpessoais é um passo inicial que desencadearia reações em cadeia de caráter econômico e social.


 


Uma série de iniciativas poderia ser deflagrada inicialmente nos respectivos bairros para aproximar os agentes industriais dos representantes dos setores de comércio, serviços e cultura. O desconhecimento que envolve essas atividades é uma realidade de fácil constatação. Existe uma Santo André diferente para cada agente social, econômico e cultural especialmente na identificação das características dos macrobairros. Conhece-se de fato -- mesmo assim com alto grau de vulnerabilidade -- uma macrocidade que está longe das especificações que se encontram nos macrobairros.


 


Não faltarão propostas que detalhariam as operações de aprofundamento cultural, econômico e social nos respectivos macrobairros. Medidas simples e eficazes haverão de ser tomadas para que se construa memória ativa e produtiva da Santo André de cada macrobairro para que, na sequência, se desdobre uma Santo André ampla, integral, diversificada mas latente em sua febre por interrelacionamentos internos capazes de detonar atratividade externa.


 


Enfim, o que se projeta é alçar uma Santo André aparentemente cinzenta, como de resto todos os municípios da região, num mosaico multicolorido de diversidade produtiva, comercial e de serviços. Isso seria conjugado com as manifestações culturais típicas de cada pedaço geográfico que, por sua vez, decorre do perfil da ocupação demográfica ao longo dos tempos.


 


Na medida em que os agentes culturais, econômicos e sociais de cada macrobairro se conhecerem de fato por meio da instância integrada ao Conselho de Negócios de Turismo, mais se multiplicarão as possibilidades de os investimentos ganharem forma de racionalidade.


 


Enfim, o que se pretende é que, a partir dos macrobairros, Santo André se conheça melhor internamente para, aí sim, saltar definitivamente para a conquista de consumidores de produtos, serviços e cultura externos.


 


9. Da sinergia municipal


 


Num modelo como esse em que o capital social se manifesta claramente como aglutinador de soluções econômicas, o Poder Público Municipal não pode deixar de ter participação ativa e efetiva. À parte a evidente representatividade como membro da Diretoria Gestora e os prováveis mecanismos legais que o colocarão juridicamente como responsável pelo Conselho de Negócios de Turismo, o Poder Público poderá se encaixar nas ações práticas nos macrobairros não só com o uso de equipamentos de lazer e de entretenimento, mas também com recursos humanos preparados para encetar iniciativas que, deliberadas por especialistas, requeiram reforços de pessoal. 


 


O que se pretende, em resumo, é que as atividades práticas que darão suporte aos vetores conceituais dessas propostas não sejam exclusividade de agentes privados e da comunidade em seu entorno. Não existe capital social sem a presença forte e compromissada do setor público. A própria composição da Diretoria Gestora do Conselho de Negócios de Turismo exalta essa linhagem de modernidade nas relações de uma sociedade madura.


 


10. Das conclusões


 


A expectativa que esse alinhamento de idéias alimenta em quem sonha com uma Santo André e um Grande ABC que façam jús à tradição de romper referências desgastadas está concentrada no seguinte eixo: é preciso dar um breque na velocidade com que o convencionalismo leva ao imobilismo. Essa corrente às avessas, espécie de reflexo condicionado, origina-se no viés triunfalista de quem não consegue capturar as mudanças e não se dá conta de que estamos perdendo o jogo da competitividade municipal e regional. 


 


Esse é, portanto, o grande desafio que se coloca à comunidade de Santo André e da região. Será que teremos, realmente, capacidade de nos reciclar para encarar os bólidos que nos atingiram nos últimos tempos em forma de globalização, guerra fiscal, descentralização da indústria automobilística, redução drástica de postos de trabalho no setor industrial, entre tantos outros?


 


Será que saberemos entender que tanto Santo André quanto o Grande ABC vivem novas situações, diametralmente opostas ao passado de glória de matrizes produtivas acalentadoras de uma mobilidade social que, nos últimos anos, se tem mostrado cada vez mais acachapante?


 


Será que continuaremos a viver de troféus que enfeitam poeirentas galerias de um orgulho que se traveste de ufanismo e anestesiam a inventividade?


 


Nosso modelo desenvolvimentista está saturado e precisa de novo figurino. Essa meta deve ser comum a todos que não queiram fazer de Santo André e do Grande ABC apenas um entreposto de individualismo ou ancoradouro de oportunismo.


 


As atividades de negócios de turismo, por isso mesmo, precisam interagir intestinamente com o núcleo das transformações de que carecemos em vários setores produtivos. Dissociar os negócios de turismo do nosso mapa econômico ou, pior ainda, compartimentá-los e aquartelá-los como via única e esclerosada do quase impraticável fluxo externo-interno, em vez da complementaridade da mão dupla de fluxo interno-interno e externo-interno, é torcer para que Santo André e o Grande ABC sejam objeto de curiosidade de crônicas de debacles anunciadas e jamais estancadas. 


 


Estamos cansados do gataborralheirismo que nos fustiga em todas as áreas. Que os negócios de turismo sejam, portanto, os desbravadores de novos tempos econômicos, sociais e culturais.


 


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