Sociedade

Por que Xangola não chama OABs
para abrir caixa-preta da Fundação?

DANIEL LIMA - 10/07/2013

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), subseção de Santo André, Fábio Picarelli, admite que a Fundação do ABC pode ser alvo de investigação tanto quanto os grandes convênios da Prefeitura dirigida pelo petista Carlos Grana. O que separa realidade de possibilidade é que a jurisdição da unidade da OAB está restrita ao Município em que mantém sede. As subseções de São Caetano e de São Bernardo precisariam aderir, caso se decida escarafunchar a Fundação do ABC. 

 

No fundo, no fundo, deveria partir do presidente da Fuabc, Maurício Xangola Mindrisz, a decisão de solicitar não só à OAB, mas também ao Ministério Público Estadual, especificamente ao ramal especializado em fundações, a tomada de pulso das contas, das operações e dos procedimentos daquela instituição. Aliás, não existe nada de estapafúrdio nessa ideia. Foi o próprio Xangola quem, ao condicionar resposta à Entrevista Indesejada desta revista digital, disse que seria a coisa mais fácil do mundo prestar contas. Pois tem agora a oportunidade de, OAB de Santo André à frente de uma ação na esteira de manifestações de rua, ser coerente com a sociedade consumidora de informações.

 

Sabe-se que o ambiente na Fundação do ABC foi impregnado por intensas preocupações desde que o povo mostrou que está vigilante com as autoridades públicas e apadrinhados. Maurício Xangola é filhote partidário do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Mais, a bem da verdade, da mulher do prefeito, Nilza de Oliveira que, por sua vez, é “assim” com a ministra Miriam Belchior, de quem fora assessora nos tempos de Prefeitura de Celso Daniel. Possivelmente, por conta do contexto, uma empreitada que multiplique a força da OAB de Santo André, São Bernardo e São Caetano seria eletrizante. Sem contar que é indispensável a participação em eventual comissão de membros do Ministério Público. Todos auxiliados por auditores independentes.

 

Vereadores, não

 

Por que não menciono ou não sugiro ou não escalo ou não prevejo a participação de vereadores? Ora, porque vereadores na região, salvo raras exceções, são feitos apenas para homologar decisões dos prefeitos de plantão. Todo mandato é tudo sempre igual, não interessa a cor partidária no gabinete do Executivo: um grupo se opõe ao prefeito eleito, caso as urnas lhes confiram condições táticas de negociar cargos e outras cositas mais, e, em seguida, delicia-se com as benesses do sucesso das negociações de bastidores. Colocar vereador em comissão que pretenda passar a limpo as mais que suspeitas contas da Fundação do ABC, dona de um patrimônio orçamentário anual de R$ 1,2 bilhão, seria o cúmulo da ingenuidade. Quem andou propagando essa iniciativa provavelmente pretendia algo que não se entrecruzaria com os propósitos expostos neste artigo.

 

Como os tempos são de transparência e de responsabilidade, mesmo nesta Província que demora para pegar no tranco do civismo, que consiste em perseguir a caça, o presidente da Fundação do ABC poderia também solicitar à OAB e ao Ministério Público a incorporação de jornalistas independentes no acompanhamento das investigações. Sim, de investigações, porque a clausura diretiva daquela instituição é proporcionalmente tão instigante quanto a montanha de dinheiro público que a lubrifica -- dinheiro retirado do repasse do SUS (Sistema Único de Saúde).

 

Malufs regionais

 

Sei lá se Fábio Picarelli vai convencer seus pares de São Caetano e de São Bernardo sobre a regionalização implícita da abertura da caixa-preta da Fundação do ABC. Não se tem ideia do que existe de possíveis amarras de bastidores a impedir uma ação mais ampla e coordenada, mas não custa tentar. Entretanto, duvideodó que Maurício Xangola Mindrisz destrua a tese que ele próprio criou de anteparo à curiosidade de terceiros, ou seja, de que só responderia às demandas desta revista digital se fosse suprimido o codinome do qual ele tanto se orgulha nos bastidores, inclusive personalizando-o em e-mail.

 

Ao sinalizar que a OAB de Santo André vai atuar para valer nos contratos firmados pela Administração Carlos Grana, o advogado Fábio Picarelli sabe o tamanho da bronca a enfrentar. O entorno do prefeito petista está recheadíssimo de gente influente em Santo André. Entenda-se por gente influente grupelhos de profissionais de bastidores que há muito atuam como mariposas, ao redor do centro do Poder Público, e de novatos e por isso mesmo aprendizes, retardatários em admitir locupletação completa, rompendo o lacre de restrições ao PT. A esculhambação partidária que tomou conta do País pós-vitória petista em 2002 não poupou território algum. Não faltam Malufs regionais que aderiram ao petismo não por conversão ideológica, mas por compulsão pragmática a uma nova versão de é-dando-que-se-se-recebe; no caso, é-recebendo-que-se-dá.



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