A MBigucci do empresário Milton Bigucci não pode ser subestimada na capacidade de gerar ilusão aos consumidores de informações. Mesmo pressionado por irregularidades fartamente documentadas e comprovadas, o conglomerado de empresas sob aquela denominação-fantasia promoveu juntamente com o Clube dos Construtores e Incorporadores uma passeata que arrecadou, segundo informações da própria entidade, duas mil peças de roupas para a Campanha do Agasalho dos internos do Lar Pequeno Leão. Até mesmo nesse evento de cunho claramente dissimulador, porque se pretende vender a ideia de que a MBigucci é um portentoso marco de generosidade, o empresário Milton Bigucci peca pela falta de representatividade. Tanto que, apesar de convocatória, praticamente nenhum dos poucos associados do Clube dos Construtores participou da empreitada.
O comunicado que consta do site da Associação dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC revela sem retoques quem se juntou para engrossar as fileiras de uma ação social que contou com os 43 voluntários do Big Riso, grupo de jovens solidários comandado por Roberta Bigucci e sobre o qual só tenho boas referências. Ou seja: contrapõe-se completamente às normas pouco éticas e nada evolucionistas de Milton Bigucci, conforme se depreende claramente da denúncia de um promotor público de São Bernardo. O representante do MP o classificou como dirigente da organização empresarial campeã em irregularidades no setor imobiliário. Pobre da clientela de Milton Bigucci e de empresas do entorno da MBigucci. Os riscos de ser atingida por baita dor de cabeça é enorme.
Ler como leio no comunicado do Clube dos Construtores uma declaração enfática de Milton Bigucci (“O resultado é maravilhoso. Além do Lar Escola Pequeno Leão, pudemos ajudar também os desabrigados do bairro Heliópolis, entregando parte da arrecadação”) é tão comovente quanto assistir a um vídeo em que Bin Laden sugere que a democracia é o melhor dos regimes políticos.
Quem quiser, acredite
Essa comparação não é descabida, embora este jornalista corra sempre o risco de ser acionado judicialmente pelo empresário entre outros motivos porque ele não suporta contraponto fundamentado e de credibilidade. Quem comanda um grupo empresarial que causa arrepios até em representantes do Ministério Público do Consumidor de São Bernardo pode até dizer o que disse Milton Bigucci no site oficial do Clube dos Construtores, mas não pode exigir que se acredite nas declarações e muito menos que as leve a sério. A embalagem do grupo de solidariedade Big Riso provavelmente expresse o conteúdo daqueles voluntários, até porque não se pode confundir uma coisa com outra coisa, mas engolir as palavras de Milton Bigucci como exemplo de humanitarismo é muito diferente. A literatura é escandalosamente farta de supostos benfeitores que não passam de exploradores dos pobres e oprimidos. Há, inclusive, exemplos regionais. Como o do empresário Sérgio De Nadai, um dos propagandistas do chamado Natal do Bem, que novos ricos e celebridades costumam oferecer a cada final de ano. De Nadai foi pego com a mão na massa no escândalo da Máfia da Merenda Escolar.
É possível que a inciativa de Milton Bigucci atrelar o grupo de jovens solidários comandado por sua filha às atividades extra-corporativas da MBigucci e do Clube dos Construtores seja uma tentativa de matar dois coelhos com uma cajadada, porque o dirigente empresarial e classista provavelmente pretende se cacifar junto ao Judiciário para fugir da reponsabilidade de encarar uma verdade que o Ministério Público Estadual há de recolher das provas fartas: o arremate da área pública onde pretende construir o empreendimento Marco Zero é uma das maiores falcatruas já consumadas no mercado imobiliário da região. Algo tão indefensável que a Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo decidiu mandar abrir inquérito preliminar para apuração dos fatos. E os fatos e as provas são gigantescos. Nenhuma operação-abafa conseguirá transformar este jornalista em cenarista entre outros motivos porque o insumo publicado parte sempre de elementos comprobatórios, os quais Milton Bigucci detesta por preferir o campo da subjetividade onde nem sempre a Justiça se faz.
A carreata para arrecadação de agasalhos na região central de São Bernardo contou com total suporte de organizações do Estado, como Prefeitura, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar. Tudo a provar que as relações institucionais de Milton Bigucci à frente do Clube dos Construtores e Incorporadores são muito mais frondosas do que as ações objetivas em favor dos poucos associados da entidade sediada no Jardim do Mar. Mas quem disse que Milton Bigucci está a serviço da classe empresarial e do conjunto da comunidade, sendo ele especialista em lantejoulas estatísticas e em cosméticos assistencialistas?
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!