Oportunistas de plantão e aprendizes de malandragens semânticas avacalharam de tal forma o que poderia ser chamado de marketing institucional do Grande ABC, sobre o qual tenho urticária quando ouço falar. Sobremodo em evento público, como foi o caso da semana passada no Imes. Não tivesse respondido veementemente, o sindicalista Luiz Marinho teria feito proselitismo sobre o assunto. E, pior ainda, me indisporia com a platéia.
Mais tarde me contaram -- não sei se é verdadeiro -- que um dos expositores ao lado de Luiz Marinho deu-lhe cutucão providencial, para evitar um debate mais acalorado, que, francamente, gostaria muito de ter protagonizado. Enquanto houver resquício de tentativa de sufocar a realidade da região e, mais que isso, descarte da responsabilidade individual e corporativa, não terei dúvidas em reagir.
Foi melhor que Luiz Marinho tenha sido prudente e não avançasse em jogadas típicas de negociações trabalhistas dos tempos em que era possível arrancar o máximo dos empregadores. Se tentasse, este jornalista não teria ficado apenas nos exemplos do assassinato do prefeito Celso Daniel e nas denúncias de propinas no Paço de Santo André como acontecimentos que aprofundaram o buraco de péssima imagem interna e externa que o Grande ABC apresenta, em contraponto às bobagens de marketing institucional que alguns irresponsáveis e muitos omissos procuraram vender nos últimos anos -- exatamente os anos mais destrutivos vivenciados pelo Grande ABC sob torpedos do governo Fernando Henrique Cardoso.
E olhem bem que estou à vontade tanto num caso quanto noutro, como prova de responsabilidade social, que é, em síntese, a função jornalística. No caso da morte de Celso Daniel, defendi em todas as ocasiões, e mantenho o ponto de vista porque nada de materialmente factual é prova em contrário, que se tratou de crime urbano. E nas eleitorais denúncias de corrupção, sustento-me na lógica jurídica de que não há consistência nas provas. Mais que isso, o bombardeio estava sintonizado em interesses que se pretendiam fazer contaminar as urnas de outubro. Um posicionamento isolado da mídia fast-foodiana a quem interessa dar provimento a escândalos, pouco se importando com a fundamentação dos fatos.
Entretanto, tanto a desgraça que atingiu Celso Daniel como o amplo noticiário de suposta rede de corrupção no Paço Municipal dominaram o noticiário regional, nacional e mesmo internacional. Que pior ferramenta de antimarketing institucional se poderia esperar?
Infortúnios degradadores
Por isso, quando Luiz Marinho disse -- com a pretensão de verdade absoluta que parece contaminar alguns petistas deslumbrados com a vitória de Lula da Silva -- que a linha editorial que este jornalista e sua equipe oferecem nas páginas da revista LivreMercado, e também neste Capital Social Online, deveria ser reanalisada para efeitos de marketing regional, não pude resistir e citar de bate-pronto aqueles infortúnios relacionados ao Partido dos Trabalhadores.
Disse-lhe que a contaminação daqueles noticiários à imagem do Grande ABC é expressivamente negativa não por dedução eventualmente eivada de sabetudismo, mas de informações de empreendedores locais e interioranos com os quais mantemos contatos. Digo mais: pesquisa interna e externa sobre a imagem do Grande ABC feita por instituição séria revelaria algo tão transparente e nítido como um pára-brisa estilhaçado depois de uma colisão frontal.
Foi melhor mesmo que Luiz Marinho tivesse ouvido o conselho de seu vizinho de bancada expositiva -- ou, no caso dessa informação não ser correta, ter sido chamado a atenção pela própria consciência -- porque poderia lhe dirigir diretamente o que afirmei como responsabilidade coletiva em minha exposição de 30 minutos, a qual ele não ouviu por ter chegado atrasado.
Que lhe diria afinal? Nada que não esteja no livro Complexo de Gata Borralheira e também no Nosso Século XXI: assim como tantos outros agentes ecônomicos, sociais, políticos e culturais da região, os sindicalistas da região emudeceram durante os anos FHC. A maioria deles, na verdade, estava na gaveta do jogo de dissimulação das desgraças que nos cercam e também no concerto orquestradamente preparado para dar ares triunfalistas ao Grande ABC, na velha e porca política de lustrar o ego mesmo em condições completamente adversas.
Luiz Marinho precisa se preparar melhor para debates que dizem respeito ao Grande ABC e enxergar muito além do intra-muro corporativo do sindicalismo cutista -- e particularmente dos metalúrgicos que domina tão bem. Não é o fato de este jornalista sair em defesa do sindicalismo da região em situações de radicalidade interpretativa de agentes diversos -- como a sentença fatalista de que as greves de Lula e seus seguidores são a explicação mais simples para a evasão industrial da região -- que me torna refém de seus representantes.
Relatividade de custos
Escrevo mil vezes se for preciso e já comprovei essa assertiva com inéditos dados estatísticos: embora tenham cometido muitos erros nos anos 80, quando a efervescência sindical chegou a níveis insuportáveis, os sindicalistas têm por volta de 20% de responsabilidade sobre o momento dramático que vive a economia do Grande ABC. Até porque, como se sabe, os indicadores de debacle regional são muito mais pronunciados após Fernando Henrique Cardoso assumir o Palácio do Planalto.
Da mobilização muitas vezes insana dos anos 80, em contraposição a muitos guetos de empresários que ficariam bem se embalsamados em formol, passando pelo pouco preparo ao jogo regional nos anos 90, o sindicalismo do Grande ABC foi uma sucessão de fatos que podem ser caracterizados como problemas.
Por isso, o sindicalista Luiz Marinho não tem autoridade institucional para tentar repreender este jornalista em qualquer ambiente que lhe seja oferecido como palco de debate. Enquanto Luiz Marinho, sindicatos, entidades empresariais, Consórcio de Prefeitos, Câmara Regional e tantos outros supostos agentes sociais do Grande ABC estavam se deliciando deliberadamente ou por omissão com as estatísticas mentirosas divulgadas com estardalhaço e roupagem séria pela Agência de Desenvolvimento Econômico através de um pesquisador manipulador de dados e análises, este jornalista e sua equipe de trabalho batiam corajosamente na tecla da realidade decadente.
O que tanto Luiz Marinho como os demais supostos agentes de regionalidade do Grande ABC -- e que até agora não passam de agentes corporativos atávicos -- têm de proporcionar à região é um mínimo de capacidade de planejamento, organização, operacionalidade e monitoramento que o quadro macronacional oferece. Ou vão deixar passar o bonde da história com Lula da Silva presidente da República?
Por mais respeito que tenho por Luiz Marinho -- meu voto de oposição aos governos federal e estadual que ainda estão aí também o beneficiou nas últimas eleições -- não vou permitir, seja qual for o ambiente, que tente deitar e rolar sobre mim com sua voz mansa, catequética, insinuante, dócil, como se sugere de perfil nestes tempos em que os bonzinhos que venceram o Big Brother da Rede Globo parecem ser os queridinhos da praça. Não foi assim, afinal, que Lula Big Brother da Silva ganhou as eleições?
Manipulações históricas
Embora seja inveterado crente nas boas intenções alheias, já estou suficientemente escaldado para saber distinguir uma exposição inteligente e construtiva de uma abordagem equivocada. A tentativa de Luiz Marinho reativar no Grande ABC o clima de fantasias marquetológicas que nos atingiram durantes curtas mas insinuosas temporadas de vagabundagem intelectual, moral e ética não encontrará terreno fértil se as parcelas realmente produtivas de capital social desta região reagirem contra manipulações.
O convidado ao encontro do Imes que indagou a respeito do marketing regional não sabe o vespeiro que esse tema representa. Minha resposta -- que se seguiu à de Luiz Marinho e em determinado momento misturou-se à do sindicalista diante da tentativa de me causar desconforto -- não pôde ser completa naquele encontro nem agora, porque o temário é historicamente um jogo de interesses irresponsavelmente preparados para locupletações de um grupo diverso de pretensos agentes sociais do Grande ABC.
Aliás, foi por acreditar nesse conjunto de atores sociais que a revista LivreMercado cometeu série de erros em Reportagens de Capa porque apostou nas propostas de soluções dos problemas da região. Felizmente foram uma minoria diante das quase avassaladoras Reportagens de Capa menos confiantes.
Por essas e outras, qualquer dia desses vamos voltar ao assunto. Mas, resumidamente, diríamos que marketing institucional de fato o Grande ABC jamais promoveu. O que tivemos foram arremedos muito mal-ajambrados, contra os quais nos opusemos e nos opomos. O pressuposto de marketing institucional é a materialização prática de institucionalidade regional. Como todos sabem, não contamos com esse insumo básico de capital social.
Quem disser o contrário está, provavelmente, de olho no universo de novos votos. Agora no âmbito intrarregional.
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