O São Caetano pode começar a embalar um ritmo diferente na Série B do Campeonato Brasileiro nesta semana, quando enfrenta dois representantes do Nordeste: nesta terça-feira joga no Estádio Anacleto Campanella ante o ABC de Natal e no sábado enfrenta o Icasa, em Juazeiro do Norte, Ceará. Vencer esses jogos pode fazer a diferença para um time que está apenas um ponto acima da zona de rebaixamento e a nove da zona de classificação após a derrota de 3 a 1 para o Figueirense sábado à noite em Florianópolis.
Enfrentar equipes nordestinas (e também do Norte) é culturalmente diferente de confrontos com equipes do Sul e Sudeste. A rivalidade é menos intensa, a combatividade também reúne grau inferior de entrechoques e há mais espaços para a criação. Trocando em miúdos: mesmo com a globalização tática do futebol, há distinções entre jogar no Sul e Sudeste do País e em jogar no Norte/Nordeste.
A influência dos treinadores sulistas no futebol paulista e carioca acrescentou mais coletivismo às equipes, enquanto até por conta do clima quente o futebol entre nordestinos e nortistas tem menos intensidade física e menos engenharia tática. O frio desta terça-feira em São Caetano pode ajudar o time de Marcelo Veiga proporcionalmente tanto quanto sofreu ao enfrentar o Paysandu há três semanas sob intenso o calor de Belém do Pará.
Bom rendimento em 2012
No ano passado, quando somou 71 pontos e 62% de aproveitamento e só não subiu à Série A do Brasileiro por conta de critérios de desempate, o São Caetano ganhou 58,3% dos pontos que disputou contra equipes do Nordeste. Dos 12 jogos disputados contra ASA de Arapiraca, ABC de Natal, América de Natal, CRB de Alagoas, Ceará e Vitória da Bahia, conquistou 21 pontos, com seis vitórias, três empates e três derrotas. Duas das derrotas ocorreram no Estádio Anacleto Campanella: 1 a 0 contra o ASA, ao estrear na competição, e também 1 a 0, ante o mesmo ABC que enfrenta nesta terça-feira. Fora de casa, o São Caetano só perdeu para o ASA no ano passado, entre os times nordestinos. Foi goleado por 4 a 1.
Na atual temporada, os times do Nordeste e o Paysandu, que representa o Sul do País, somaram até a 10ª rodada apenas 37,14% dos pontos disputados (inclusive os entre si), ante 57,33% dos times do Sul (Chapecoense, Figueirense, Paraná, Joinville e Avaí) e 46%v dos paulistas (Palmeiras, Bragantino, Oeste, Guaratinguetá e São Caetano). Dos quatro times da zona de acesso à Série A, dois são do Sul (Chapecoense e Figueirense de Santa Catarina), um é paulista (Palmeiras) e um e pernambucano (Sport Recife). Na zona de rebaixamento estão três equipes do Norte/Nordeste (Paysandu, América de Natal e ABC de Natal) e, surpreendentemente o Avaí (da sulista Santa Catarina).
Apenas um dos pontos
O modo tradicional de jogar dos times do Nordeste é apenas um dos pontos que poderão ajudar a explicar eventual sucesso do São Caetano nos dois próximos jogos. Há outros vetores que devem ser considerados. A derrota na fria Florianópolis na noite de sábado não foi consequência de novos desarranjos táticos e técnicos como o placar de 3 a 1 poderia sugerir. O time de Marcelo Veiga evoluiu bastante em relação à derrota para o Guaratinguetá em casa, poderia ter virado o placar mesmo com um jogador a menos durante todo o segundo tempo (o zagueiro Luiz Eduardo foi expulso logo a um minuto da etapa final) e o terceiro gol do adversário só saiu no último minuto, quando o São Caetano se desconcentrou por conta do apito final iminente.
O que poderá fazer a diferença para valer no São Caetano desta terça-feira ante o ABC de Natal e também no final de semana ante o Icasa em Juazeiro de Norte será o aspecto emocional. Se na derrota para o Guaratinguetá o time se descontrolou demais, com influência no rendimento coletivo, ante o Figueirense nem o abalo de ficar com 10 jogadores e a desvantagem no placar viraram desespero. Tanto que chegou ao empate aos nove minutos num chute da entrada da área de Danilo Bueno, o melhor do time, e que contou com a colaboração do goleiro.
Com a igualdade no placar, o técnico Adilson Batista fez sucessivas substituições e colocou o Figueirense todo no ataque. Era o que o São Caetano imaginava e precisava para surpreender. E teve três oportunidades para virar em rápidos contragolpes, com Fred e Geovane duas vezes. Gols desperdiçados que custaram caro. O Figueirense desempatou aos 29 minutos após sobra de escanteio e fez 3 a 1 aos 48 minutos, quando Tcho recebeu após escanteio e completou em chute defensável.
Ao ataque, eis a saída
O sistema tático utilizado em Florianópolis certamente não será repetido nesta terça-feira em casa ante o ABC. Três volantes é desperdício defensivo para quem joga em casa e precisa de três pontos contra um adversário que está na zona de rebaixamento. É mais provável que Marcelo Veiga mantenha apenas Leandro Carvalho à frente da defesa como marcador, que Pirão tenha mais liberdade e que Danilo Bueno repita as aproximações do jogo em Florianópolis, quando, por força de contar com três volantes, ganhou mais liberdade. Embora seja versátil e já tenha atuado até mesmo de volante, Danilo Bueno é criativo, técnico e finalizador para contar com mais liberdade e, quem sabe, reduzir a baixa capacidade ofensiva da equipe. Até agora o São Caetano marcou apenas 10 gols no campeonato (é o pior sistema ofensivo entre as 20 equipes) e também sofreu 10 gols (só perde para Chapecoense, Palmeias e Paraná).
O jogo em Florianópolis serviu também para mostrar que o lateral-direito Samuel Santos tomou conta da posição porque marca bem, cobre e apoia com personalidade, e que Geovane vem melhorando a cada jogo, embora não possa lhe ser atribuído o papel de centroavante, como em Florianópolis, após Jael ceder lugar a Bruno Aguiar para preencher o buraco deixado pelo expulso Luiz Eduardo. A escalação de Eder, titular da maioria dos jogos no Campeonato Paulista, ficará provavelmente restrita às condições do jogo no segundo tempo. Ele entrou em Florianópolis no lugar do cansado Danilo Bueno e perdeu o gol mais feito da noite, quando o placar era de 2 a 1.
A campanha do São Caetano está aquém do esperado. O 15º lugar com 10 pontos ganhos é uma surpresa negativa depois de a equipe ter entrado em período de treinamento durante a Copa das Confederações projetando novos saltos, já que nos três jogos anteriores à parada ganhou ritmo e chegou ao oitavo lugar. Mas nos quatro jogos pós-Copa, duas derrotas e dois empates comprometeram a esperada arremetida. Quem sabe os dois times do Nordeste que enfrentará nesta semana sejam um divisor de águas na competição?
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