Atolado em prejuízo monumental por conta da derrota de virada na rodada de final de semana, o São Caetano só tem uma maneira de reagir imediatamente na Série B do Campeonato Brasileiro: derrotar o Palmeiras na noite desta terça-feira no Estádio Anacleto Campanella. Uma missão quase impossível. Quase tanto quanto a derrota para o Icasa sábado em Juazeiro do Norte, após terminar o primeiro tempo com vantagem de 2 a 0.
Aquele resultado parcial colocaria o São Caetano em nono lugar na classificação geral. Como sofreu a virada de 3 a 2 num segundo tempo desastroso, caiu para a zona de rebaixamento, em 17º lugar. O remelexo mostra o quanto poderá se tornar dramática a luta para fugir da Série C, porque é estreitíssima a margem que separa 12 dos 20 competidores.
Mais que a classificação geral, que poderia ser outra caso o barco não virasse no Nordeste, o que preocupa mesmo o São Caetano é a queda de produção desde que retornou das três semanas de treinamentos durante a Copa das Confederações. Quando se imaginava que o grupo voltaria forte e coeso a ponto de aumentar o rendimento das três rodadas que antecederam a paralisação do campeonato, o que se assiste é um festival de improdutividades. O São Caetano não atua em nível compatível com a proposta de chegar à Série A. E da forma com que vem se conduzindo pode tornar a inclusão circunstancial entre os rebaixáveis em ameaça constante.
Encaixe imperfeito
Enquanto o técnico Marcelo Veiga não encaixar um sistema ofensivo que não desconfigure o sistema defensivo, esperar por vitórias será um misto de ilusão e otimismo exagerado. Faltam tantas qualidades coletivas ao São Caetano que a lista se tornaria enfadonha. Por isso o melhor mesmo a partir da noite desta terça-feira contra o Palmeiras é que haja maior engajamento geral. Afinal, o time também peca pela instabilidade na ocupação de espaços. Há momentos de entrega e situações de negligência que só favorecem aos adversários.
A virada no placar em Juazeiro do Norte foi uma ducha de água fria numa projeção que colocava a equipe de volta à luta pelo acesso. Foi demais virar o jogo com 2 a 0 no placar e permitir que o adversário vaiado pela própria torcida no intervalo passasse à frente. Um gol de bola chutada da entrada da área e outros dois de cobranças de faltas desviadas no interior da pequena área enfiaram o São Caetano na zona de rebaixamento.
E desta vez não se pode dizer que o técnico Marcelo Veiga tenha se equivocado. Ele demorou um pouco para reforçar o sistema defensivo. Só o fez, com um terceiro zagueiro em substituição ao já cansado segundo volante Pilão, quando o adversário agora mais ofensivo já diminuíra o placar. Mas nem a entrada de Luiz Eduardo salvou a situação: o terceiro zagueiro estava na pequena área quando as duas faltas foram desviadas em jogadas claramente treinadas. Gols prováveis porque o São Caetano comete infrações em excesso nas imediações da grande área. A equipe despreza estatísticas de que as bolas paradas são ao principal origem de gols no futebol nestes tempos em que tudo é esquadrinhado para superar marcações monolíticas.
O cometimento de faltas nas proximidades da área é consequência do afrouxamento do sistema de marcação. O São Caetano deixou o Icasa e tem deixado os adversários construírem jogadas pelas laterais porque os meio-campistas e os atacantes descuidam-se dos avanços de laterais, volantes e meias adversários. Sobrecarregam-se, com isso, os demais setores.
Além disso, falta compactação entre os setores. Os zagueiros estão jogando cada vez mais recuados, situação que multiplica espaços aos adversários. É uma constante o São Caetano desintegrar-se durante o jogo. Começa bem mas aos poucos, na medida em que a posse de bola é desprezada em favor de tentativas repetitivas de alongamentos de passes, a pressão contrária torna-se incontrolável.
Ou seja, se o São Caetano quiser começar a mudar o enredo na Série B precisa conscientizar-se de que deve aumentar o índice de posse de bola, mesmo a posse de bola pouco produtiva num primeiro momento. Rifar a bola a todo instante é péssimo negócio. Posse de bola, mais cuidados na marcação a partir do setor ofensivo, menos infrações na entrada da área e mobilização maior em busca do ataque, com infiltrações em diagonal tanto de Geovane quanto de Danilo Bueno, além dos laterais -- eis uma receita que dará mais contundência à equipe.
Entre dois polos
A cruel constatação da rodada de final de semana de que há espaço muito curto entre uma vaga à Série A e o rebaixamento à Série C deve servir de lição e de estímulo ao São Caetano. De lição, para que não acredite que uma vantagem de dois gols no intervalo ou durante o jogo antecipa os três pontos sem aplicação tática profunda. De estímulo, porque bastam duas ou três rodadas vitoriosas para um salto gigantesco na classificação.
O problema do São Caetano, por enquanto, não é o posicionamento clássico na tábua de classificação, mas o futebol que insiste em não jogar. Quem sabe a motivação especial contra um dos grandes do futebol brasileiro se transforme em vitória e indique o modus operandi que a equipe precisa aplicar ante os demais adversários, todos menos estrelados.
Não custaria nada aos jogadores do São Caetano observar como se entregam taticamente durante todo o jogo os atletas das equipes que estão nos primeiros lugares na Série A do Campeonato Brasileiro.
Já faz parte do passado de recordações a ideia-chave de que a Série B diferencia-se da Série A por causa do empenho físico dos atletas. A Série A diferencia-se da Série B porque tem muito mais talentos individuais, e esses mesmos talentos individuais entregam-se em campo como guerreiros convencionais da Série B. O São Caetano nem joga com a garra da Série B nem com a técnica da Série A. Está na hora de mudar para não mergulhar na Série C.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André