Alguém precisa avisar ao técnico Marcelo Veiga e os jogadores do São Caetano que futebol tem dois tempos. Como em tantos outros jogos da Série B do Campeonato Brasileiro, a equipe praticamente esqueceu de jogar para valer na etapa final e voltou a perder, mantendo-se no grupo de rebaixáveis após 13 rodadas.
O jogo de ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella terminou 2 a 1 para o Palmeiras, mas foi o São Caetano que dominou o primeiro tempo e saiu na frente. Poderia ter feito pelo menos mais um gol. No segundo tempo, em 15 minutos, o adversário virou o placar porque melhorou de rendimento e o São Caetano parecia despreparado para essa possibilidade. Bastava apertar o cerco na marcação e criar opções táticas disponíveis no banco de reservas.
Sem exagero, o primeiro tempo do São Caetano foram os melhores 45 minutos sequenciais da equipe na competição. Com disciplina tática que tem faltado à maioria dos jogos, a equipe de Marcelo Veiga surpreendeu um Palmeiras escalado ofensivamente para estabelecer vantagem que desse conforto na etapa final. Marcando em todos os cantos do gramado, triangulando pelas laterais e também por dentro e obrigando o Palmeiras a buscar cruzamentos sempre apertados para tentar chegar ao gol, o São Caetano demorou para chegar à vantagem no placar, aos 22 minutos com Geovane. Três ótimas oportunidades já se haviam consumido.
Tudo se desmanchou
Tudo o que o São Caetano fez de bom no primeiro tempo se perdeu na etapa final com a derrota, mas deve servir de referência aos próximos jogos. Falta nos vestiários compreender melhor o que está na cabeça dos adversários que terminam o primeiro tempo em desvantagem. Não é a primeira vez e provavelmente não terá sido a última que o São Caetano voltará ao tempo final com o placar favorável. Mas não pode insistir em desperdiçar soma de pontos importantes.
No jogo anterior, ante o Icasa, em Juazeiro de Norte, os 2 a 0 foram revertidos a 3 a 2 porque o time no segundo tempo crente de que o desenho tático seria permanente. Anteriormente, contra o Paysandu, no Pará, fez 2 a 0 no começo do segundo tempo e sofreu o empate antes do final do jogo.
O Palmeiras virou o placar nos primeiros 15 minutos do segundo tempo porque fez o óbvio: adiantou a marcação, colocou os atacantes para pressionar a defesa e os volantes, disciplinou o apoio dos laterais de modo a não ficar fragilizado aos contragolpes constantes da etapa inicial, segurou o volante Márcio Araújo que não passa de marcador agressivo que se pretende meia-apoiador criativo, e, para completar, recuou o centroavante Alan Kardec à zona esperta das costas dos volantes e não mais praticamente fixo entre os zagueiros. O próprio Alan Kardec, em jogada de penetração somou corpanzil, talento, domínio de espaço e certa velocidade, empatou aos 10 minutos ao driblar quatro adversários. Lembrou os melhores momentos de Neymar. O Palmeiras estava melhor e desempatou em seguida, aos 14 minutos, após cobrança de escanteio e sobra dos zagueiros que o também zagueiro Henrique finalizou forte.
Jael, cadê o Jael?
Porta arrombada por desprezar a previsível mudança tática do líder do campeonato, o São Caetano não se achou mais no jogo. Perdeu a velocidade de contragolpe, a movimentação dos atacantes e a ocupação triangular nas laterais. Tornou-se óbvio em lançamentos longos sempre neutralizados por um Palmeiras agora ainda mais cuidadoso.
Gilson Kleina fez substituições que acrescentaram cuidados defensivos sem perder a possibilidade de contra-atacar. Marcelo Veiga demorou uma eternidade para entender que, naquelas alturas do jogo, se a ordem era atacar, que se colocasse então um segundo centroavante. Jael entrou no final, jogou apenas sete minutos mas fez o suficiente para colocar em xeque o conservadorismo do treinador. É possível que com mais cinco minutos de jogo o empate fosse alcançado, mas também poderia ser mantido o placar. Ao perceber o perigo que representava Jael ao lado do grandalhão Giancarlo na quebra da sobra da defesa, o técnico palmeirense tratou de sacar o cansado atacante Leandro e escalou um terceiro zagueiro, André Luiz. Ou seja: o líder do campeonato não tem vergonha de jogar com o resultado debaixo de braço, enquanto um dos ameaçados circunstanciais de rebaixamento resiste a decifrar nuances táticas e, mais que isso, antecipar-se às consequências mais que previsíveis.
O time do São Caetano que volta a campo neste sábado de novo no Estádio Anacleto Campanella ante um Sport Recife que ocupa a terceira colocação precisa ser lembrado que futebol tem dois tempos e que o melhor mesmo é repetir em campo o melhor tempo sempre. Mesmo a derrota para o Palmeiras, um jogo perdível, deixou uma mensagem que deve ser potencializada como ferramenta motivacional: o time que ainda decepciona no campeonato tem apetrechos técnicos e táticos para mudar o roteiro de resultados. Basta querer. E estender o empenho por muito mais que 45 minutos.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André