Esportes

Saída de Marcelo Veiga exige
bala de prata do São Caetano

DANIEL LIMA - 15/08/2013

Embora no futebol nada seja potencialmente definitivo, mesmo que o definitivo seja provisório, o São Caetano terá de acertar na mosca a reposição de técnico após a demissão de Marcelo Veiga ontem à noite. Nem sei como a diretoria segurou tanto a barra do treinador que, carta branca, montou o time que exigiu e em 15 rodadas trafegou intensamente pela zona de rebaixamento, da qual se avizinha perigosamente.


 


A bala de prata do treinador a ser contratado é compulsória. Primeiro para retirar a equipe da zona de turbulência classificatória. Segundo para tentar uma arremetida nas 10 últimas rodadas. Chegar a pelo menos 50% de índice de aproveitamento ao final da 28ª rodada deveria ser o mantra do novo comandante.


 


Quem sabe o São Caetano consiga na Série B do Campeonato Brasileiro deste ano dar semelhantes impulsos seguidos de rendimento do ano passado quando o convencional do futebol dizia que o grupo tinha tudo para afundar ao trocar seguidamente treinadores cujos números gerais pareciam irrebatíveis.


 


O problema dos críticos é que se fixam em generalidades classificatórias e se esquecem de especificidades numéricas. Os técnicos que caíram na Série B do ano passado tiveram em comum trajetória de sucesso pós-contratação e de esgotamento gradual na medida em que se mantiveram no cargo. Foi assim com Sérgio Guedes, Márcio Araújo e Leão. A direção do São Caetano apostou na emergencialidade de cirurgias mesmo que o quadro clínico geral parecesse confortável. Foram decisões ousadas, mas tomadas, suponho, com a percepção de que a emenda soaria melhor do que o soneto, mesmo que o soneto parecesse adequado. O link abaixo mostra o que produzimos sobre o assunto no final do ano passado.


 


Ativos e passivos


 


As circunstâncias e o contexto são outros agora. A partir, principalmente, do legado técnico-tático de Marcelo Veiga. O treinador que chegar vai receber uma herança com marcas profundas da filosofia do treinador que se foi. Um elenco relativamente forte e menos diversificado tecnicamente do que se poderia esperar deverá desafiar o bom senso do substituto do homem em quem o São Caetano apostou todas as fichas para voltar à Série A do Campeonato Brasileiro no ano que vem.


 


Não há soluções milagrosas, mas há correções oportunas a fazer. A tomografia técnico-tática é clara: apenas seis jogadores honraram até agora algum grau de intocabilidade no grupo de titulares: o goleiro Rafael Santos, os laterais Samuel Santos e Diego, o zagueiro Fred e os meio-campistas Wagner Carioca e Danilo Bueno. Há cinco vagas a preencher provavelmente sem novos aportes de reforços. Talvez um meio-campista de perfil assemelhado ao de Danilo Bueno, que combine técnica e velocidade, fosse ideal.


 


Quem chegar ao São Caetano precisa estar bem informado não só sobre o elenco de que dispõe como também dos passivos e ativos na Série B do Campeonato Brasileiro. O conjunto de passivos é maior. O time não combina a lentidão do meio de campo com velocidade e apoio dos laterais e também com contundência ofensiva. Falta compactação e sobram infrações na entrada da área. Praticam-se poucas combinações laterais e centrais por aproximação. Rifam-se demais as bolas. Os zagueiros também ficam expostos demais com a associação de posicionamento recuado demais, junto à linha de fundo, e erros de posicionamento do meio de campo, sobretudo de Pirão, que não é volante nem meia-volante mas Marcelo Veiga insistiu para que reunisse cumulativamente os dois atributos.


 


Banda estreita


 


Embora o sistema defensivo seja mais efetivo que o sistema ofensivo, o que poderia sugerir a reversão de prioridade tática em prol de mais agressividade, paradoxalmente a solução é outra. O meio de campo precisa de mais qualificação técnica, mais densidade de jogo, mais posse de bola, tanto para desafogar a defesa como para potencializar o ataque. Há uma banda estreita que distingue pressa, eficiência e lentidão.


 


O São Caetano joga tanto com pressa como com lentidão. Pressa porque exagera nos lançamentos erráticos. Lentidão porque não conta com capacidade de infiltrações laterais e centrais ditadas pela paciente construção de pé em pé. É possível jogar com pressa quando pressa for a solução. Pressa como solução não é mais pressa, é eficiência. Lentidão só é lentidão quando não tem a complementação da velocidade própria de quem tem aptidão à empreitada. Os laterais do São Caetano e também o meia Danilo Bueno são ágeis, atrevidos, e por isso precisam ser mais explorados pelos meio-campistas menos intensos na entrega física mas capacitados a ditar o ritmo pela qualidade técnica.


 


Há uma montanha de formulações a embalar a expectativa de que o São Caetano do próximo treinador poderá ser um time bem melhor que o deixado por Marcelo Veiga. O prazo de validade da proposta do treinador que se foi está vencido. Saber distinguir passivos de ativos dos 15 jogos que se foram é o caminho das pedras primeiro para fugir do rebaixamento e, em seguida, quem sabe, buscar uma classificação improvável mas não impossível. Um treinador bala de prata é a solução. Isso significa que o perfil de ourives se impõe nesse momento.


 


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