Esportes

Guedes volta ao São Caetano com
crédito de 62% do ano passado

DANIEL LIMA - 19/08/2013

Sérgio Guedes é o novo técnico do São Caetano. Ele retorna ao clube a que serviu no ano passado na melhor campanha da equipe na Série B do Campeonato Brasileiro. Carrega um ativo estatístico motivador: ganhou ou ajudou a ganhar 62,96% dos pontos que disputou. Foram 34 pontos em 18 jogos. Se o São Caetano das 22 rodadas que restam no campeonato deste ano repetir o desempenho numérico de Sérgio Guedes no ano passado, fará o suficiente para alcançar 50% de aproveitamento geral e, portanto, se livrar do rebaixamento, zona na qual está hoje, após 16 rodadas. Se Sérgio Guedes obtiver rendimento melhor, o São Caetano poderá voltar à Série A após sete temporadas. Seria uma façanha e tanto.


 


Ainda bem que há folga no meio da semana na Série B. O São Caetano precisava mesmo de tempo para contratar um treinador e o treinador contratado de tempo para ganhar a confiança de um elenco petrificado. Sérgio Guedes deixou o Ceará em 14º lugar na mesma Série B. Dirigiu a equipe em 10 jogos e ganhou 36% dos pontos. Repetir esses números no São Caetano seria péssimo. Mas Sérgio Guedes tem mais possibilidades de fazer sucesso num time que não sofre coerção da massa popular como o Ceará. Ele é metódico, dedica-se muito a treinamentos e coletivos e costuma fazer o grupo que comanda sair da pasmaceira em pouco tempo. Nada mais apropriado ao São Caetano que Marcelo Veiga moldou individualmente mas não encaixou como conjunto.


 


A derrota de sexta-feira à noite no Estádio Anacleto Campanella por 1 a 0 ante o Boa Esporte de Varginha, Minas Gerais, não foi coisa de outro mundo para o São Caetano dirigido interinamente pelo ex-zagueiro Nenê Santana. O resultado seguiu o ritual de um time que, além de desorganizado, ainda se dá ao luxo de desperdiçar oportunidades que aparecem quase que por acaso. Foram pelo menos quatro situações de gol que poderiam ter tido outro desenlace. O gol no final também foi cruel. Embora mais coletivo, o Boa Esporte não merecia ganhar três pontos numa partida com cara de zero a zero.


 


Melhora inevitável


 


A expectativa de que Sérgio Guedes cure boa parte dos males coletivos do São Caetano não é infundada. Provavelmente ele detectará os pontos frágeis do grupo com observações atentas das gravações. Não que jogo gravado seja igual a jogo visto no gramado. Há vantagens e desvantagens. O voo panorâmico do jogo visto de perto sacrifica o voo rasante do jogo visto na televisão.


 


Um exemplo: somente estando no Estádio Anacleto Campanella para ter a certeza de que o São Caetano não atuou com três volantes ante o Boa. Moradei e Anselmo, até contundir-se, atuaram à frente dos zagueiros, enquanto Wagner Carioca, Danilo Bueno e Geovane atuaram mais adiantados e o centroavante Jael ainda mais à frente. O 4-2-3-1 cedeu espaço ao 4-2-2-2 quando Geovane ocupava funções mais ofensivas.


 


Independentemente de numerologias, o São Caetano é um time estático demais, que erra passes demais, que tem pressa demais, que exagera demais nas faltas, que tem nervos a flor da pele demais, que bate cabeça demais na falta de compactação e insiste demais em recuar os zagueiros além de uma zona de conforto para o restante do grupo, o que alarga o terreno para os adversários avançarem.


 


Sérgio Guedes vai ter de acertar o posicionamento da equipe antes de acertar individualmente os setores da equipe. Se não colocar na cabeça dos jogadores que há uma sincronia espacial básica para que o conjunto comece a funcionar, perderá tempo e paciência. Mentalizar o posicionamento é questão a destrinchar no campo de treinamento e também de individualização e coletivização teórica. Uma coisa ajuda a outra.


 


O São Caetano de Sérgio Guedes pode começar a reagir já nesta sexta-feira à noite em Santa Catarina ante o Joinville. Provar que o grupo de jogadores é muito superior ao que apresentou até agora no campeonato não é difícil. Foram poucas as vezes em que o São Caetano empolgou. O fantasma do rebaixamento que a classificação atual sugere não pode ser desprezado como elemento intrínseco a um campeonato tão equilibrado, mas também não deve virar estigma a ser combatido. Os números do passado de Sérgio Guedes no São Caetano são a essência de uma expectativa positivista da qual os jogadores não podem prescindir para ganhar mais confiança. Até porque, a falta de confiança está na raiz das indecisões em campo. O semblante de cada jogador é a autoconfissão da delicadeza do quadro. Há algo ainda mais grave no Morumbi.


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