Após a hecatombe de cinco anos de terceirização pelo Saged, o Ramalhão disputa a Série D do Campeonato Brasileiro sem alternativa senão vencer os dois próximos mata-matas. Com isso, garantiria uma vaga na Série C, ou Terceira Divisão, no ano que vem. Fora isso, será despachado à Sexta Divisão. Uma queda vertiginosa para quem disputou a Série A em 2010 depois de decidir o título da Série A Paulista com o Santos dos então meninos Neymar e Ganso.
Sexta Divisão não existe no futebol brasileiro, dirão os práticos. Existe sim. Está certo que há apenas quatro divisões formais, mas as demais não podem ser desconsideradas. No caso das equipes paulistas, pertencem à Quinta Divisão quem não ocupa nenhuma das quatro divisões oficiais brasileiras mas está na Série A do campeonato estadual. Caso, por exemplo, do São Bernardo. Para alcançar a Quarta Divisão nacional o São Bernardo precisa chegar à frente das equipes que igualmente não estão incluídas no calendário nacional. Nesta temporada perdeu a corrida para o Botafogo de Ribeirão Preto e o Penapolense. Como o Santo André está na Série B do Campeonato Paulista (também chamada Série A-2 pelos alquimistas da Federação Paulista de Futebol), só voltaria a integrar o calendário nacional, se não subir este ano à Série C, caso se classifique à Série A do Paulista de 2015. Para isso, terá de chegar entre os quatro primeiros da Série B no ano que vem. Na melhor das hipóteses, portanto, o Santo André só voltaria a frequentar o ambiente da CBF em 2016.
Experiência diretiva
Não vi um jogo sequer do Ramalhão nesta temporada, mas creio que a experiência do presidente Celso Luiz de Almeida e do ex-presidente Jairo Livolis tem peso relevante nestes momentos em que se vive entre o céu e o inferno. Velhos de guerra nas disputas por acessos, Celso e Jairo estão tirando leite de pedra de uma agremiação que teve de se reinventar para tentar ser competitiva.
Arrumar a casa da sogra deixada pela Saged de Ronan Maria Pinto e, paralelamente, calibrar a organização de um grupo de jogadores tendo a espada da Sexta Divisão na cabeça, são desafios estressantes. Por conta disso não é possível cobrar dos novos-velhos dirigentes tudo aquilo que os leitores mais assíduos desta revista digital sabem ser indispensável para o Ramalhão voltar aos bons tempos esportivos mas com outra configuração social, institucional e empreendedora.
A construção de um novo lance de arquibancada no Estádio Bruno Daniel é inadiável. Aquele cenário de pós-destruição do setor de numeradas, medida adotada pelo então prefeito Aidan Ravin, é por demais frustrante. Embora já tenha dado aquela decisão como indispensável, porque havia informações de que a cobertura de cimento estaria comprometida pelo tempo e pelo descaso, chego a pensar que tenha havido exagero daquele administrador público. Os laudos que sustentaram a demolição das numeradas teriam passado pelos rigores de técnicos especializados? Sei lá o que pensar sobre aquilo tudo, mas não me conformo em ver aquele símbolo de grandes mobilizações internas do clube, além de centro nervoso de contatos pessoais que ajudaram a amalgamar relações muito além do estádio, transformado em pó.
O Estádio Bruno Daniel sem as numeradas cobertas não tem a mesma magia que embalava o Santo André que vi pela primeira vez num clássico com o Saad, de São Caetano, jogo em que Ulisses, um meia-atacante do Ramalhão, marcou o gol da vitória de 1 a 0 já nos descontos, e classificou a equipe à fase final de uma competição que já não me lembro qual foi. Se não estiver enganado, esse jogo foi realizado em 1971, ou seja, três anos após a fundação do clube.
Fosse o Diário do Grande ABC coerente com o passado remoto e mesmo com o passado recente em que Ronan Maria Pinto era o comandante supremo do Ramalhão travestido de Saged, o noticiário sobre o jogo deste domingo em casa ante o Metropolitano de Blumenau seria intensificado e detalhado para, quem sabe, mobilizar um número maior de andreenses.
Prioridade regional
O jornal que nos meus tempos de editor de esportes priorizava a cobertura das equipes da região, tanto em espaços internos quanto em chamadas de primeira página, não economizou louvações ao Saged, mesmo quando o time não engrenava e era tratado com o zelo de campeão. O Ramalhão voltou ainda timidamente e está prestes a sair de pesadelo em forma de ser desalojado do calendário nacional porque o Saged foi um grande engano que passou em sua história. Nada mais justo que, até como penitência, se outro sentimento não mover a direção do Diário do Grande ABC, se dê mais suporte noticioso aos jogos que se aproximam.
Nos tempos de editor de esportes do Diário do Grande ABC eu brigava com executivos de redação importados da Capital e muitos dos quais elitistas sem o menor sentimento de regionalidade esportiva. Quebrava mesmo o pau por uma chamada de primeira página que ajudasse a levar mais público ao estádio e também por mais espaços internos. Eu e equipe que dirigimos éramos Grande ABC Esporte Clube. Agora o que vejo é um destaque prioritário aos clubes da Capital. Nosso Complexo de Gata Borralheira é mesmo uma vergonha.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André