Mesmo levando em conta as surpresas do futebol, não é arriscado garantir que o São Caetano do segundo turno da Série B do Campeonato Brasileiro será bem melhor que o São Caetano do primeiro turno, 17º colocado e na zona de rebaixamento. Mais que isso: com a chegada de Sérgio Guedes também é possível afirmar que o São Caetano tem uma referência que assegura o desperdício de tempo nas 15 primeiras rodadas sob o comando de Marcelo Veiga. Traduzindo em termos práticos: quem apostar que o São Caetano é sério candidato à Série C poderá quebrar a cara, embora a luta pela Série A tenha configuração heroica.
O time de Sérgio Guedes volta a campo nesta sexta-feira, agora em Fortaleza ante o Ceará, 12o colocado com 23 pontos e numa lista provisória dos ameaçados.
Jogar no Ceará depois de enfiar 3 a 0 no ASA de Arapiraca, que estacionou nos 22 pontos, é algo bem diferente de outros jogos fora de casa, quando o peso de repetitivas más apresentações se somou à zona de degola para inibir a equipe.
O São Caetano ainda está longe do ideal, mas aos poucos deixa no passado o balaio de gatos encontrado por Sérgio Guedes. Agora a equipe dá sinais de que padrão de jogo não é uma fantasia inalcançável e que é possível sim evoluir a cada rodada. Mesmo nos dois jogos anteriores com Sérgio Guedes, nas derrotas fora de casa para Joinville e América de Natal, o São Caetano emitia fortes sinais de que começava a reagir estruturalmente. A confortável vitória de ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella confirmou as impressões. Mas nada assegura que o time não oscilará durante o jogo com o Ceará e também nos subsequentes, porque oscilou ante o ASA principalmente durante os 15 primeiros minutos do segundo tempo, único período em que colocou o goleiro Rafael Santos em situações de perigo. Tudo superado com reacertos de posicionamento no meio de campo. Pedro Carmona e Eder já davam sinais de debilidade na marcação e com isso comprometiam a engrenagem. Mas longo compensaram com ações ofensivas letais.
Meio de campo inédito
Uma inédita formação do setor do meio de campo deu ao São Caetano o que tanto tem faltado na competição: equilíbrio tanto para ajudar os zagueiros na marcação e cobertura quanto os atacantes e laterais nos arranjos ofensivos. Com o volante Moradei ao lado do volante-meia Wagner Carioca e os meia-articuladores Pedro Carmona e Eder, o São Caetano controlava taticamente o jogo. Geovane voltava para ajudar o meio de campo e deslocava-se por todos os setores ofensivos. O centroavante Jael travestia-se de gladiador entre os zagueiros e já dava sinais de que começa a procurar mais espaços, deslocando-se em direção às laterais. Diego apoiava mais pela esquerda do que Samuel Santos, de volta à titularidade, à direita.
O ASA veio aparentemente fechado para tentar melhorar o rendimento fora de casa e também reduzir a carga de gols sofridos no campeonato (agora 32 em 19 jogos, ante 23 do São Caetano). Para tanto, escalou três volantes, mas soltava os laterais e atuava com dois atacantes de força, Iliomar Bombinha e Lucio Maranhão. O São Caetano adiantava a defesa, marcava um pouco mais avançado e bloqueava as tentativas de penetrações internas. Sobravam ao ASA os cruzamentos na área sempre neutralizados. Apenas nos primeiros cinco minutos do primeiro tempo, além dos 15 primeiros minutos da etapa final o time de Alagoas controlou as iniciativas ofensivas.
Diferentemente dos jogos anteriores em casa, sob o comando de Marcelo Veiga, o São Caetano não deu mostras de intranquilidade. Evitava os chutões, construía jogadas tanto por dentro como pelas laterais, e não se excedia em infrações. Quando Geovane fez 1 a 0 aos 25 minutos após passe excepcional de Pedro Carmona, tudo ficou menos complicado. Os outros dois gols foram construídos no segundo tempo, aos 13 com pênalti em Jael, após passe em diagonal de Eder, que o próprio Jael bateu, e aos 24 minutos quando Eder infiltrou e chutou no contrapé do goleiro após livrar-se de um zagueiro.
Avanços e buracos
Embora o São Caetano tenha obtido placar insofismável e apresentasse avanço técnico-tático, ainda há muito a consertar. Nada surpreendente para um time que se resumia a chutões que parecem proibidos por Sérgio Guedes. O sistema defensivo ainda não encaixou posicionamento espacial adequado ao longo do jogo. Basta o adversário ter mais posse de bola durante determinado período para os zagueiros recuarem, descolarem-se dos volantes e deixarem buracos à penetração dos meias. A instabilidade faz parte do jogo de um time em formação, mas é possível exigir mais concentração para impedir que lapsos táticos comprometam o placar.
Há toda uma engrenagem a ser acertada, mas há evidências de que os exaustivos treinamentos de um técnico meticuloso começam a fazer efeito. Há mais trocas de passes, os volantes já têm mais confiança para participar de ações de articulação e também ofensivas, as laterais estão sendo cada vez mais povoadas e o centroavante Jael começa a descobrir que ficar estático entre os zagueiros é o que os adversários mais querem.
A entrada de Rivaldo quando faltavam 15 minutos para o jogo terminar e o placar já estava definido foi apenas um exercício de interação de um veterano que parece em lua de mel com o técnico Sérgio Guedes. Eles voltaram lado a lado em conversa amistosa para o segundo tempo do jogo de ontem. Pareciam velhos amigos. Não é por outra razão que Rivaldo aceitou o óbvio para quem chegou aos 41 anos de idade ainda em condições de intimidar os adversários: jogar como atacante sem preocupação com a marcação.
O jogo desta sexta-feira com o Ceará certamente reservará a Rivaldo pelo menos 15 minutos de atuação. Para o São Caetano, nada seria melhor se Rivaldo entrar apenas para confirmar uma possível nova prova de recuperação de quem ocupa a zona de rebaixamento e está a 12 pontos do Sport Recife, o quarto colocado. É loucura sonhar com o acesso. Nada que o engatilhar de uma sequência de vitórias não possa se traduzir na melhor terapia.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André