Esportes

Confirmada a lógica: Ramalhão cai
mesmo para Sexta Divisão Nacional

DANIEL LIMA - 09/09/2013

Para escrever, como escrevi em artigo escrito em 2 de abril último, que o Ramalhão estava a caminho da Sexta Divisão do futebol brasileiro, após ter disputado a Primeira Divisão (Série A) em 2009, bastava uma credencial: ter liberdade de imprensa, bem precioso que a maioria apenas pensa que tem. Cinco meses após aquele texto, e mesmo ao torcer contra aquelas linhas, eis que o Santo André é expelido do circuito do futebol nacional.


 


Os estragos de cinco anos do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva) na vida do Ramalhão, demorarão a ser mensurados. No mínimo, o futebol da cidade perdeu uma década. Se conseguir recuperar-se, claro. Agora é o momento para iniciar processo de reestruturação total. Temo que falte gente preparada e disposta à tarefa. Os dirigentes mais antigos, Jairo Livolis e Celso Luiz de Almeida, já dão sinais de esgotamento.


 


Cair para a Sexta Divisão era praticamente inevitável. O Santo André só se sustentaria no calendário nacional se obtivesse uma das vagas reservadas aos finalistas dos mata-matas da Série D, a Quarta Divisão. Chegou às oitavas-de-final mas sucumbiu ante o Metropolitano de Blumenau, Santa Catarina. Um resultado dentro da lógica de que vinha de escombros e que, portanto, se organizou aos trancos e barrancos.


 


O Ramalhão do período de terceirização do futebol pelo Saged é assunto-tabu na Província porque a conduzi-lo esteve um empresário que é dono do Diário do Grande ABC. Ronan Maria Pinto pode ter tido as melhores intenções quando afastou com a diplomacia costumeira tanto Jairo Livolis quanto Celso Luiz de Almeida do futebol do Saged logo nos primeiros meses de atividades. Mas o tempo provou que é impossível desfrutar de conhecimento numa área tão complexa como o futebol sem que a paciência, a humildade, o empenho, a dedicação e o discernimento entrem em campo. 


 


O Saged chegou à Série A do Brasileiro a custa de muito dinheiro e na expectativa de que ingressaria no clube dos afortunados em negociações de jogadores. Caiu do cavalo. Deixou um rastro milionário de dívidas aos acionistas que acreditaram no projeto desenhado por Jairo Livolis e usurpado por Ronan Maria Pinto.


 


Não fosse CapitalSocial, praticamente a sociedade não teria informação alguma sobre os cinco anos de escuridão do Ramalhão sob as vestes do Saged. Estou muito à vontade para escrever sempre e sempre sobre esse período porque fui um dos primeiros a engajar-se no movimento de modernização do Ramalhão. Preparei inclusive um projeto mais que factível de mudanças que seriam históricas e sólidas, não fosse a vocação voluntarista, centralizadora e solitária de Ronan Maria Pinto.


 


O dirigente do Saged sabe que aqueles cinco anos também deveriam ser apagados de sua memória, porque duvido que os tenha no currículo pessoal ou empresarial. A responsabilidade, entretanto, não lhe deve ser integralmente imputada. Faltou comprometimento coletivo da maioria dos acionistas sem coragem de enfrentar o chefão do Diário do Grande ABC, temendo represálias.


 


Qualquer outro dirigente que tivesse legado metade do que Ronan Maria Pinto reservou à direção do Esporte Clube Santo André teria sido derrubado do cargo. A aventura de Ronan Maria Pinto custou caro porque tornou a emenda da desorganização total do futebol da cidade pior que o soneto do enclausuramento de muitos anos da direção em relação à sociedade como um todo.


 


O Ramalhão deixou de ser um clube fechado em si mesmo para se tornar uma empresa privada sem satisfação a dar aos próprios acionistas. Daí, nenhuma surpresa de ver, em campo, o resultado de tamanhos disparates.


 


A Sexta Divisão do futebol brasileiro pode ser o fim do caminho ou o começo de novos tempos, tempos melhores do que jamais existiram em quase meio século de atividades. Infelizmente, desconfio de que seja o fim do caminho porque a cidade de Santo André é um monumento à passividade, ao desinteresse e ao descaso a tudo que tenha valor coletivo.


 


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