O São Caetano é mesmo um time em evolução, mas tem limitações que impossibilitam saída rápida e consistente da zona de rebaixamento na Série B do Campeonato Brasileiro. A vitória de 2 a 1 ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella ante o Paraná, um dos integrantes do G-4, confirmou a evolução da equipe sob o comando de Sérgio Guedes, após a oscilação na derrota de 4 a 2 sexta-feira passada em Fortaleza.
A equipe só não deixou o pelotão dos quatro últimos colocados porque a combinação de resultados dos demais times ameaçados de queda não ajudou. Mas isso faz parte do remelexo classificatório. O jogo desta sexta-feira à noite contra o Chapecoense, em Santa Catarina, é mais um teste complicado. Enfrentar o vice-líder é tarefa indigesta.
O grande desafio do técnico Sérgio Guedes ainda não foi superado. O São Caetano não tem equilíbrio técnico-tático. Para funcionar bem, o sistema defensivo precisa de apoio de meio-campistas e atacantes. Da mesma forma que o sistema ofensivo precisa do suporte de laterais e meio-campistas. Há um buraco negro entre o necessário e o aplicado. Quando defende bem, o São Caetano sacrifica o poder ofensivo. E quando ameaça melhorar no ataque, fragiliza a defesa.
Esquizofrenia tática
Pesam nesse quadro de esquizofrenia tática as características dos jogadores do meio de campo. Quem marca bem no setor tem dificuldades à articulação construtiva. E quem tem desenvoltura na articulação não alcança o nível de verticalização desejada. Não é por outra razão que a equipe conta com um dos setores ofensivos menos efetivos do campeonato e um setor defensivo que está longe de rivalizar-se com os principais. Entretanto, se os números gerais se refletissem na classificação, o São Caetano estaria em situação menos preocupante.
A expectativa é que fatores emocionais potencializam restrições no setor de criação da equipe. Danilo Bueno não repete os primeiros bons jogos na equipe. Pedro Carmona só foi incorporado ao grupo agora pelo novo técnico, depois de excluído até do banco de reservas por Marcelo Veiga. Carmona entrou no final do jogo de ontem e fez o passe para Jael marcar o segundo gol, quando o adversário mais pressionava. Uma pressão consequente da baixa confiança de quem dominou o primeiro tempo mas não finalizou com frequência e contundência.
Poucas opções ofensivas
Sem a mobilidade ofensiva do meio de campo, que desarma e a passa a bola burocraticamente, o São Caetano se limitou ofensivamente aos dribles de Geovane, à luta de Jael sempre entre dois zagueiros e às escapadelas do lateral Diego, o mais regular da equipe no campeonato ao lado do zagueiro Fred, além das finalizações de longa distância de Wagner Carioca. Por isso o primeiro gol aos 15 minutos do segundo tempo saiu de um rebote de escanteio mal desviado pelo goleiro e completado com um chute preciso do zagueiro Fred.
Os gols foram providenciais. O primeiro se deu num quadro de equilíbrio entre as equipes por conta de arrumação tática do Paraná e o segundo em situação de pressão contínua do adversário a partir da desvantagem no placar. O São Caetano mostrou mais uma vez que ainda não tem confiança suficiente para estabelecer vantagem no placar e suportar a reação do adversário. Falta-lhe contragolpe contundente para desafogar a defesa. Sem contar que erra demais na troca de passes quando os espaços principalmente no meio de campo começam a ser mais questionados.
Como conciliar a necessidade de fortalecer-se na defesa e incomodar os adversários no ataque? O jogo desta sexta-feira vai ser mais um teste a Sérgio Guedes. A escalação e a postura da equipe em Fortaleza foram um desastre. Se for confirmada a volta do volante Leandro Carvalho, de características mais completas que os demais jogadores da função, o reserva Dudu e o contundido Moradei, o São Caetano poderá ganhar mais força na marcação e também na saída de bola. Mas apenas Leandro Carvalho parece pouco. Sérgio Guedes tem a alternativa de contar com dois volantes de marcação (Moradei não voltará de contusão mas Dudu é uma opção) ou então escalar um terceiro zagueiro. Sem reforçar o sistema de marcação, os riscos são enormes ante um adversário, como o Chapecoense, que une força, velocidade e jogadas aéreas, além de contar com o artilheiro da competição, o impetuoso centroavante Bruno Rangel.
O sonho secreto de Sérgio Guedes é ter Danilo Bueno e Pedro Carmona completando um meio de campo com dois volantes marcadores que também saibam ir ao ataque. Leandro Carvalho e Anselmo são os preferidos numa composição mas versátil. Wagner Carioca disputaria a função de segundo volante principalmente em jogos ou em circunstâncias nos quais haja necessidade de maior poder ofensivo.
Meio-campo dos sonhos
Quando calibrar o meio de campo do São Caetano com mais intensidade, mais volume de jogo, mais versatilidade na marcação e suporte ao ataque, Sérgio Guedes terá dado passo decisivo à recuperação plena no campeonato. Enquanto não obtém as respostas desejadas, talvez o melhor mesmo seja aplicar o pragmatismo do jogo com o Paraná, quando o São Caetano não se expôs defensivamente e decidiu em dois lances isolados. É pouco, mas melhor que a excessiva liberalidade com que enfrentou o Ceará.
Somar pontos deixou de ser apenas uma máxima aplicada a equipes que estão nas últimas colocações. É, no caso do São Caetano, premente necessidade classificatória e também preparatória a saltos que viriam com a restauração da confiança abalada pela zona de rebaixamento.
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