Esportes

Amnésia induzida pode fazer
bem ao São Caetano na Série B

DANIEL LIMA - 16/09/2013

Talvez a melhor terapia para o São Caetano escapar do rebaixamento na Série B do Campeonato Brasileiro seja a amnésia induzida. Esquecer o passado de glórias de campeão paulista, duas vezes vice-campeão brasileiro e uma vez vice-campeão da Libertadores, e centrar fogo no pragmatismo de quem precisa jogar com extrema humildade, é o mais recomendado.


 


Se o São Caetano demorar a tomar essa decisão, como demorou na Série A do Campeonato Paulista deste ano, sofrerá nova queda. Não faltam times grandes que caíram na real e se recolheram circunstancialmente à postura de pequeno. O São Caetano não pode colecionar tantos descuidos como nos dois últimos jogos fora de casa, quando sofreu 10 gols. Os 6 a 2 de sexta-feira à noite ante o Chapecoense, em Santa Catarina, foi uma combinação de excesso de confiança, erros individuais, ingenuidade tática, capacidade do adversário e, em menor escala, pouca sorte.


 


Faltam 16 jogos e 48 pontos para o São Caetano descartar rebaixamento à Série C, mas tudo parecerá um piscar de olhos a lamentar se o time não cuidar primeiro do setor defensivo. Com três jogadores no elenco com características de primeiro volante (os contundidos Leandro Carvalho e Moradei e o reserva Dudu), o técnico Sérgio Guedes tem insistido em escalar titulares de baixa combatividade. Dudu só entrou no jogo em Chapecó quando o placar estava 4 a 1, construído no primeiro tempo. Pirão, Wagner Carioca e Anselmo, os mais utilizados, são meias que viram volantes sem ter a marcação como ponto forte. O time que Sérgio Guedes escalou contra o vice-líder Chapecoense reunia um meio de campo excessivamente liberal, com Anselmo, Pirão, Wagner Carioca, Danilo Bueno e Pedro Carmona, e o centroavante Jael mais avançado. Pedro Carmona e Danilo Bueno se revezaram como parceiros de Jael. Como se não bastasse, o lateral Samuel Xavier fez uma péssima partida.


 


Trava de segurança


 


Nem mesmo o Barcelona dos grandes jogos abdicou de volante para sustentar segurança defensiva. Não há nenhum time no futebol brasileiro que abra mão de pelo menos um combatente à frente dos zagueiros. Há equipes que utilizam pelo menos dois marcadores no setor, independentemente de os demais companheiros de meio de campo participarem do sistema defensivo. O São Caetano dos seis gols em Chapecó abriu mão dessa trava de segurança. Como o fez em Fortaleza, ao perder Moradei logo no começo do jogo.


 


A goleada em Chapecó não comprometeu apenas a autoestima de um grupo de jogadores que começava a dar sinais de entusiasmo após vencer o Paraná no Estádio Anacleto Campanella. O saldo de gols, que pode definir uma classificação, ficou seriamente comprometido. Agora são seis gols negativos. A equipe marcou 28 gols e sofreu 34 em 22 rodadas.


 


Quando os detalhes classificatórios do São Caetano são filtrados, não há como esconder equívocos de escalação. Nos 11 jogos disputados como visitante o São Caetano ganhou apenas 15,15% dos pontos. Foram oito derrotas, dois empates e uma única vitória, de 3 a 0 ante o Oeste, em Itápolis. Coincidência ou não, Leandro Carvalho era o titular à frente dos zagueiros. O São Caetano sofreu 70,58% dos 34 gols fora de casa (24 no total). Um desempenho que compromete a pontuação. Mesmo oscilante e sem padrão de jogo definido a equipe ganhou 51,51% dos pontos no Estádio Anacleto Campanella. O ataque dividiu tanto os gols em casa quanto fora – 14 em cada situação, o que sinaliza média baixa com e sem apoio da torcida.


 


É claro que não será apenas com um volante de verdade que o São Caetano resolverá todos os problemas que o levaram à penúltima colocação na classificação geral com apenas 22 pontos, cinco acima do lanterninha ABC de Natal e sete abaixo do Figueirense que, com 29 pontos, ocupa a 10ª colocação e é um divisor entre as equipes ameaçadas de rebaixamento (na lista incluem-se Oeste, Ceará, Bragantino, América de Natal, Atlético Goianiense, ASA, Paysandu e ABC de Natal) e as que lutam para chegar ao que resta de vagas aparentemente disponíveis no G-4, que tem Palmeiras e Chapecoense como virtuais classificados à Série A.


 


No erro dos outros


 


Afora todos os buracos estruturais que a equipe exibe na competição, a prioridade em dar estabilidade defensiva com um volante de verdade e mais mobilização de todos os jogadores é inadiável. O jogo desta terça-feira à noite fora de casa com o Atlético Goianiense é uma boa oportunidade para o técnico Sérgio Guedes tentar estancar a hemorragia de gols como visitante. Não estaria fora de cogitação a escalação de um terceiro zagueiro e de um volante de fato porque a equipe está abalada emocionalmente.


 


Não custaria nada jogar no erro do adversário, como é comum no futebol, e também tentar a sorte em bolas paradas. O São Paulo de Muricy Ramalho é o mais recente exemplo de que, quando a água do rebaixamento bate nos fundidos, a melhor saída é simplificar. E simplificar significa fechar-se para jogar em contragolpes. O Chapecoense é vice-líder da Série B mas em nenhum instante na goleada de sexta-feira abriu mão de um volante de marcação e de um sistema defensivo com a participação de todos os jogadores. Mesmo quando vencia por 4 a 2 no segundo tempo. Tanto que os dois gols que completaram a goleada saíram de contragolpes. O São Caetano acreditou que poderia encurtar o placar ou empatar mesmo com um jogador a menos, já que Pirão foi expulso.


 


Uma operação de amnésia temporária é a melhor solução para o São Caetano fugir da degola. Trata-se de medida que também inclui duplo esquecimento: a campanha vitoriosa na Série B do ano passado, quando o acesso esteve a um empate, e a desastrosa participação na Séria A Paulista deste ano.


 


É sob o fogo cruzado de acesso frustrado e rebaixamento consumado nas duas últimas competições, e de uma história de sucesso de time médio que atuou como grande durante várias temporadas, que o São Caetano precisa reagir na Série B. A começar por maiores cuidados defensivos. Sofrer 10 gols nos dois últimos jogos fora de casa é um escândalo que apenas escancara a incompetência do desempenho geral quando é visitante.


 


Ganhar apenas 15% dos pontos fora de casa compromete qualquer campanha. E isso só ocorre porque o São Caetano não sabe distinguir o melhor momento de defender e de atacar. Joga como se cada jogo fosse igual a outro. E cada jogo, como se sabe, não é igual a outro. Fosse assim, o futebol seria algo insuportável


Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged