Esportes

Finalmente São Caetano dá sinais
de maturidade para fugir da queda

DANIEL LIMA - 18/09/2013

O empate de 1 a 1 ontem à noite em Goiânia contra o Atlético não foi um resultado qualquer do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro. Provavelmente seja emblemático de novos e circunstanciais tempos. Desta vez a equipe jogou de forma pragmática, com dois volantes de verdade (Leandro Carvalho voltou após longa contusão e Dudu saiu da reserva) e preocupação prioritária em fechar espaços. Para quem está na zona de rebaixamento e sofrera até então 70% dos gols ao viajar, nada mais óbvio que arrumar a casa defensiva.


 


Abrir mão de dois volantes marcadores quando a vaca dá sinais de que pode ir para o brejo é desafiar a sorte. A resolução do técnico Sérgio Guedes foi sábia. Ele deixou de cair no canto da sereia de que Pirão, Wagner Carioca e Anselmo são primeiros volantes, cuja função principal é marcar o tempo todo e dar cobertura aos zagueiros e laterais. Foi com esses jogadores que o São Caetano sofreu 10 gols nos dois últimos jogos fora de casa.


 


Jogar com dois volantes nem sempre extratifica defensivismo. No caso do São Caetano de ontem foi e nem poderia ser diferente, mas dois volantes costumam liberar mais os laterais e os meias. Não é a formação ideal dos grandes times, grandes campeões, porque induz a uma ocupação limitada de espaços ofensivos; mas no caso do São Caetano o que está em jogo é outra coisa, é a manutenção da vaga na Série B do Campeonato Brasileiro.


 


O resultado de 1 a 1 só foi consumado aos 40 minutos do segundo tempo, quando uma das novidades da escalação de Sérgio Guedes, Fernandinho, acertou de primeira um rebote defensivo do Atlético Goianiense após escanteio. Nada mais justo. Longe de ser brilhante no ataque, o São Caetano construiu pelo menos três oportunidades de ouro para marcar. O Atlético Goianiense abriu o placar no primeiro tempo, aos 29 minutos, na única oportunidade que encontrou: um chute da entrada da área de Ricardo Jesus enganou o goleiro Luiz, também de volta à equipe, após desviar em Douglas Grolli.


 


Contrastes entre setores


 


Quem prefere a frieza do futebol sem dar-se conta das circunstâncias e das perspectivas, Atlético e São Caetano disputaram partida enfadonha. Mas para quem tem algum envolvimento emocional ou sabe contextualizar uma disputa, a situação é outra. O São Caetano foi tão efetivo no sistema defensivo como pouco produtivo no sistema ofensivo.


 


A boa notícia é que nem mesmo o gol do Atlético no primeiro tempo desarrumou a estrutura montada por Sérgio Guedes. Uma estrutura tática com série de mudanças individuais. Os dois melhores jogadores da equipe no campeonato, o zagueiro Fred e o lateral Diego, não puderam ser escalados, por suspensão e por contusão. Douglas Grolli e o novato Renan Luiz tiveram substitutos à altura. Grolli tem dificuldade de conciliar tempo e espaço na marcação e Renan sentiu o peso do jogo. Além da volta do goleiro Luiz e do volante Leandro Carvalho, Dudu ganhou titularidade e, surpreendentemente, o lateral Fernandinho formou o meio de campo com os dois volantes e Pedro Carmona -- até voltar à origem de lateral, no segundo tempo. Geovane e Jael ficaram mais avançados e invariavelmente isolados.  O São Caetano sentiu a baixa efetividade ofensiva dos laterais e dos meias.


 


São Caetano e Atlético Goianiense estão ameaçados de queda e por isso mesmo excederam em cautela. As tentativas de ataque saíram mascadas, reticentes, inseguras. Só quem já frequentou um vestiário de futebol sabe o que é encontrar um quadro negro ou algo semelhante que identifique os quatro últimos classificados. Na medida em que se permanece entre os rebaixáveis, mais se sofre e se perde de autoestima.


 


Por conta desse ambiente as duas equipes não poderiam mesmo dar espetáculo. E não deram durante todo o primeiro tempo, quando houve equilíbrio num ambiente de morosidade nos passes, de poucas ultrapassagens laterais e centrais. O Atlético só incomodava com os avanços do lateral Guilherme e o São Caetano com os lançamentos em busca do centroavante Jael.


 


Em desvantagem no placar, o São Caetano foi ao ataque no segundo tempo sem abrir mão de cuidados defensivos. Criou duas ótimas oportunidades antes de empatar no final. As trocas de Sérgio Guedes foram pouco satisfatórias. Fernandinho foi deslocado à função que sabe executar bem, de lateral-ala, para que Danilo Bueno entrasse no meio de campo e errasse passes em excesso. Marcelo Soares substituiu a Pedro Carmona para dar mais agressividade, mas atuou muito longe da área. Jael foi substituído por Giancarlo, quando também havia a opção de tê-los juntos no ataque para explorar cruzamentos e escanteios. Geovane, mesmo cansado e sem conseguir abrir espaços, foi mantido até o final. 


 


Sérgio Guedes mudou para dar mais força ofensiva, mas teve o bom senso de não mexer no escopo defensivo. Leandro Carvalho e Dudu não deram trégua aos adversários, como cães de guarda. Parece que o São Caetano romântico que jogava em cima do passado recente e mais remoto de sucesso ficou temporariamente para trás.


 


Resta saber qual vai ser o comportamento da equipe no jogo desta sexta-feira no Estádio Anacleto diante do Bragantino, 11º colocado com 30 pontos e muito dificilmente ameaçado de rebaixamento. Ajustar o sistema ofensivo é um desafio que Sérgio Guedes não minimizará, mas é pouco provável que abra mão de proteção dupla aos zagueiros e laterais. Deverá, para tanto, explorar mais os laterais e os meias.


 


A rodada de ontem foi uma sucessão de bons resultados para o São Caetano. Primeiro porque ganhou um ponto importante ante um adversário direto na luta contra o rebaixamento. Segundo porque praticamente todas as demais equipes que ocupam as últimas posições foram derrotadas, casos do ABC de Natal, Paysandu, ASA, Guaratinguetá e Oeste. Resultados cruzados são muito importantes a qualquer equipe que sonha escapar do rebaixamento. O melhor mesmo é garantir os três pontos, mas há situações que nem os três pontos são suficientes, porque a combinação de resultados não favorece mexidas na classificação. O empate com o Atlético Goianiense foi apenas um dos muitos pontos que o São Caetano ganhou na rodada. A biruta pode estar virando.   


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