A resposta à pergunta do título envolve pelos menos duas questões, igualmente sob controle do técnico Sérgio Guedes. Ao restarem 15 rodadas (45 pontos) para o encerramento da Série B do Campeonato Brasileiro, o São Caetano precisa de duplo planejamento à reta de chegada que já está aí: definir os jogadores com os quais poderá assentar nervos e técnica e quantos pontos precisa somar aos 23 atuais para fugir da queda.
A escolha de um sistema tático que corra menos riscos parece compulsória. Não é possível mais querer jogar como se nada de complicado não já lhe batesse nos fundilhos. Quem frequenta há tanto tempo a zona de rebaixamento não se desgarra do peso emocional enquanto não se livrar de vez da ameaça de queda. Já a projeção de pontos depende de muitos fatores.
Um retrospecto sobre os quadros classificatórios da Série B do Campeonato Brasileiro não sinaliza verdade absoluta sobre o número de pontos (ou o índice de rendimento) necessário para fugir do descenso. Já houve equipe que caiu com 47 pontos (Icasa, em 2011) e quem se mantivesse na competição com 44 pontos (CRB em 2006) e mesmo outras equipes com 45 pontos, 46 pontos.
Por mais que se pretenda desvendar os números para encontrar uma razão da volubilidade numérica de rebaixamento, não há indícios de que seja possível antecipar um patamar confortável. Nem a soma de pontos dos primeiros colocados, que aumenta e diminui quando se comparam edições diferentes, e tampouco a soma de pontos dos últimos colocados, que também é instável, fornecem elementos comprobatórios de que há margem ao à predeterminação de dispositivo de segurança. Provavelmente nenhum matemático ousará arriscar pontuação que sustente tanto o acesso quando o descenso. Exceto se recorrer a numerais óbvios.
Isto quer dizer que o São Caetano precisa fazer projeção ambiciosa de pontos a somar em 45 a disputar. Que tal 48 pontos ao final da competição, uma marca que, desde a implantação de pontos corridos em turno e returno, jamais atropelou um dos concorrentes com o rebaixamento? Nesse caso, o São Caetano precisa somar mais 25 pontos na competição que, divididos por 45 a disputar, significariam 55,55% de aproveitamento na etapa. Bem mais que os 33,33% atuais.
Três micros ciclos
Ainda sob essa perspectiva, talvez o melhor procedimento seja o São Caetano dividir os 15 jogos que restam em três micros etapas de cinco jogos cada um, atribuindo a dois desses ciclos um total individual de oito novos pontos ganhos e ao terceiro ciclo, nove pontos. Dessa forma, totalizaria 25 pontos que se somariam aos 23 atuais para chegar a 48. Nada fora das possibilidades de uma equipe que dá sinais de recuperação senão ainda nos resultados, mas na concepção de que a ficha da realidade chegou e significa abrir mão do conteúdo em prol do pragmatismo de resultados.
O trajeto que marcará o São Caetano até o final da Série B deste ano, portanto, precisa ser planejado minuciosamente. A divisão em três micros etapas é apenas uma sugestão sem qualquer valor inovador. Geralmente é assim que as comissões técnicas das equipes distribuem o peso relativo dos pontos a conquistar quando uma competição parece definir quem pode subir quem pode descer e quem não tem muito mais a fazer senão calibrar o rendimento.
O fatiamento do conjunto de pontos disponíveis é uma maneira de manter a motivação alerta. Principalmente se, na medida em que se consumarem os primeiros resultados, criarem-se alternativas para incrementar novo patamar final. O que é muito mais interessante que correr atrás de eventuais quebras, sobrecarregando as etapas seguintes. Cada ponto excedente que o São Caetano registrar num ciclo de cinco jogos, menos obrigação de repetir a marca terá no ciclo seguinte, o que diminui a carga de estresse.
Ganhar oito pontos em duas das três micros etapas que restam para o encerramento do campeonato não é um bicho de sete cabeças. Oito pontos em 15 a disputar e um ponto adicional numa das micro etapas serviriam de desafio ao grupo. As metas poderiam ser mais modestas, porque o campeonato supostamente comportaria, mas é melhor não confiar nos números atuais.
Pela classificação após 23 rodadas, escaparia do rebaixamento quem contabilizasse mais que 38 pontos na competição (ou 33,33% de aproveitamento). Nesse caso, o São Caetano jogaria os 15 jogos por novos 16 pontos (ou 35,55% de aproveitamento no período, atingindo-se 39 pontos e 34,21% de rendimento na competição).
Quem botar fé nessa perspectiva matemática pode se dar mal. Jamais em oito edições da Série B em turno e returno uma equipe foi rebaixada com menos de 36,84% dos pontos disputados – ou 42 pontos ganhos – caso do CRB no ano passado. Ou seja: com muito risco de surpresa, 43 pontos ganhos ao final da competição não sustentam estatisticamente um lugar confortável na Série B.
Chegar a 48 pontos é uma medida estatisticamente segura, mas não absolutamente segura. O São Caetano é prova viva de que estatística em futebol tem margem de erro a ser avaliada. No ano passado a equipe ganhou 62% dos pontos e, pela primeira vez na história da Série B, não comemorou o acesso. A campanha foi superior a 90% das 28 equipes que alcançaram a Série A em todas as edições de pontos corridos.
Melhor equipe
Agora, quanto à melhor formação do São Caetano no que resta do campeonato, parece que finalmente o técnico Sérgio Guedes encontrou uma fórmula simples e funcional para situações de emergência: cuidar primeiramente do sistema defensivo e jogar no erro do adversário, explorando contragolpes e bolas paradas, principalmente fora de casa. Em casa, menos inflexibilidade defensiva, mas um nível de segurança que não permita surpresas.
O jogo em Goiânia foi emblemático com a escalação de dois volantes marcadores – Leandro Carvalho e Dudu – dos quais Sérgio Guedes provavelmente não abrirá mão. Até mesmo para que outros jogadores (laterais e meio-campistas) possam ter mais liberdade ofensiva. É melhor explorar quem tem algo a produzir ofensivamente do que escalar meias como volantes e tornar frágil o sistema de marcação.
Talvez o técnico do São Caetano só tenha cometido um equívoco claro em Goiânia, e que deveria evitar no jogo desta sexta-feira contra o Bragantino, no Estádio Anacleto Campanella. A escalação do goleiro Luiz pareceu precipitada, depois de longo período de recuperação. Luiz errou em vários cruzamentos por parecer sem noção de tempo e espaço, condições que o até então titular Rafael Santos esbanja porque está em plena atividade desde o início da temporada.
Provavelmente também o técnico do São Caetano acabará por decidir nos próximos jogos pela titularidade de Marcelo Soares em substituição a Geovane.
Com o novo sistema é indispensável contar com um segundo atacante mais agressivo, mais vertical e inquietante para os zagueiros adversários, tendo-se as bolas longas e as bolas aéreas como contrapontos à aproximação dos dois meias, no caso Danilo Bueno e Pedro Carmona. Sem contar que há sempre a possibilidade de escalar Rivaldo nos 20 minutos finais, desde que o campeão do mundo entenda que seu lugar aos 41 anos de idade é o mais próximo possível da área adversária.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André