Esportes

São Caetano: cinco minutos de céu
e volta ao inferno do rebaixamento

DANIEL LIMA - 02/10/2013

O São Caetano está abusando do direito de flertar com o inferno do rebaixamento na Série B do Campeonato Brasileiro. O jogo de ontem à noite ante o Avaí em Santa Catarina é prova disso. O time de Sérgio Guedes chegou a ficar durante cinco minutos fora do paredão que levará os quatro últimos colocados à Série C. Vencia por 1 a 0, mas sofreu o gol de empate e, no final, no período de desconto, aos 48,40 minutos, perdeu de virada.


 


Com isso, o São Caetano terminou a 26ª rodada na penúltima colocação. Menos mal que o agrupamento de seis equipes mais ameaçadas de queda teve poucos vencedores na rodada. Mas já passou da hora de o São Caetano encontrar uma rota de fuga segura. Os 36 pontos em disputa são suficientemente elásticos para tanto. Até porque com 40 é possível escapar da queda. Mas é preciso ganhar sequencialmente sem perda de tempo. 


 


O resultado de 2 a 1 favorável ao Avaí não teria sido uma molecagem do destino caso as circunstâncias fossem diferentes. O gol no último lance foi de atordoar. E se deu justamente num período em que a equipe menos comprometia.


 


Quando fez 1 a 0, aos 19 minutos do segundo tempo o São Caetano já dava sinais de melhora, após um primeiro tempo estupidamente ruim. Jael fez o gol em contragolpe que começou num chutão do zagueiro Luiz Eduardo e terminou no domínio da bola dividida com um zagueiro, na corrida rumo à grande área e no chute ante a saída do goleiro.


 


Naqueles cinco minutos subsequentes o São Caetano estava com 27 pontos e ocupava a 16ª posição. Mas aos 24 minutos o árbitro viu pênalti de Diego numa incursão em diagonal do lateral Alex Reinaldo e Marquinhos converteu. O segundo gol resultou de um rebote de bola alçada na área: Marquinhos apanhou livre, cruzou e Reis completou de cabeça, mesmo pressionado. Os jogadores do São Caetano pareciam ter acabado de assistir a uma cena de terror. Um pontinho faria bem à autoestima e também à classificação geral, mesmo que não alterasse o posicionamento, penúltimo colocado. 


 


Grupo de ameaçados


 


ASA (23 pontos), São Caetano (24), ABC de Natal (26, sete vitórias e saldo negativo de 16 gols), Atlético Goianiense (26, sete vitórias e saldo negativo de 11 gols), América de Natal (17 pontos) e Paysandu (28) são as equipes mais ameaçadas de ocupar as quatro últimas colocações ao final da competição. Guaratinguetá (32 pontos) e Oeste (31) também podem entrar no agrupamento.


 


Olhar para estes números na parte de baixo da classificação da Série B é um tormento para jogadores, comissões técnicas e torcedores envolvidos. A adrenalina está à flor da pele. Por isso não se deve esperar muita qualidade técnica e coletiva das equipes. O São Caetano do primeiro tempo, principalmente, exagerou. O time de Sérgio Guedes fez provavelmente a pior primeira etapa na competição. E não se deve apenas a fatores emocionais. Sérgio Guedes acumulou erros de escalação.


 


O São Caetano que enfrentou o Avaí teve no meio de campo uma barafunda tática que comprometeu o sistema defensivo e entorpeceu o sistema ofensivo. Escalar Leandro Carvalho, o estreante Jardel, Fernandinho e Rivaldo no setor foi de lascar. Havia melhores opções. Como a entrada de Dudu, aproveitado apenas no segundo tempo. Jardel veio do Juventude e se perdeu. Nem foi segundo volante nem meia-volante. Não encaixou marcação nem saiu para o ataque com habilidade. Rivaldo, pela primeira vez titular desde o início, nem de longe fez as vezes de Seedorf no Botafogo do Rio. Estático, burocrático, permaneceu o tempo todo nas imediações do centro de campo. Nem combatia a saída dos volantes nem penetrava com ou sem bola.


 


O melhor jogador do mundo em 1999 sugere algo semelhante a acreditar que também a Miss Universo daquele ano poderia desfilar com o mesmo deslumbre 15 anos depois. Rivaldo parece não ter humildade tática para servir como tantos veteranos que desfilam no futebol brasileiro. Resiste em colocar o talento, a experiência e a inteligência tática a serviço da criação e do suprimento dos companheiros. É assim com Seedorf, com Paulo Bayer, com Zé Roberto, com tantos outros.


 


Meio campo desarrumado


 


Com um meio de campo tão desarrumado, a defesa sofreu as consequências da pressão mesmo que desordenada do Avaí. Pelo menos quatro oportunidades de gols foram criadas. Havia buracos por todos os cantos. Não fosse Douglas Grolli em noite inspirada, e Leandro Carvalho incansável à frente dos zagueiros, o São Caetano não teria tido a oportunidade de comemorar o primeiro gol aos 19 minutos do segundo tempo como uma porta aberta à vitória.


 


O resultado parcial não veio por acaso. Mesmo que de forma espasmódica o São Caetano valorizou a posse de bola, saiu mais organizadamente ao ataque e se posicionava melhor à frente dos zagueiros ao vigiar um pouco mais os passos de Marquinhos, articulador ofensivo do adversário. Não fosse o descuido com a entrada do lateral Alex Reinaldo, que atuou no Campeonato Paulista pelo Barbarense, tudo poderia ter sido diferente. Alex Reinaldo é atrevido nas investidas ofensivas. Ele chamou um pênalti rigoroso demais para ser marcado e participou do segundo gol recebendo livre na entrada da área para forçar a rebatida da defesa.


 


A melhor lição ao São Caetano na derrota em Santa Catarina é que não se deve mexer demais num setor tão vital à organização coletiva como o meio de campo. Ganhar do Paysandu neste sábado à noite no Estádio Anacleto Campanella é a única saída. É provável que o time a ser escalado volte a contar com dois atacantes abertos, o espertíssimo Anderson Pimenta e o habilidoso e vertical Bruno Veiga, quase abandonado entre os zagueiros adversários ontem à noite. O Rivaldo que insiste em pretender jogar como nos tempos áureos não cabe no figurino do São Caetano ou de qualquer outra equipe, tanto quanto Seedorf não caberia no figurino do Botafogo se pretendesse jogar como no passado.


 


A rodada de ontem mexeu muito pouco com a numerologia lotérica ou não do site Chance de Gol, especializado em decifrar o futuro classificatório das equipes. O São Caetano está agora com 72,5% de possibilidades de rebaixamento, ante 70,8% anteriores. O ABC venceu o Atlético Goianiense fora de casa e rebaixou de 79,8% para 55,1% as possibilidades de cair. Já o Atlético Goianiense subiu de 23,3% para 39,%. O Paysandu empatou no Vale do Paraíba com o Guaratinguetá por 1 a 1 e reduziu de 35,2% para 30,7% o risco de queda. O ASA de Arapiraca foi goleado em Santa Catarina pelo Chapecoense por 4 a 0 e aumentou de 91,5% para 92,5% a margem de rebaixamento. Já o América de Natal, que perdeu para o Bragantino em Natal por 2 a 0, passou de 66,9% para 76,7% no ranking de risco de disputar a Série C no ano que vem. Como se observa, as mexidas foram quase todas suavemente desesperadoras.


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