A 11 rodadas do encerramento da Série B do Campeonato Brasileiro o São Caetano não tem saída se quiser voltar de Guaratinguetá nesta terça-feira à noite fora da zona de rebaixamento: precisa dos três pontos e torcer por tropeço do Paysandu ou do ABC de Natal. A situação seria diferente se o ABC não conseguisse na rodada de final de semana um resultado improvável, ao vencer o Palmeiras por 3 a 2. Mas como não se deve chorar pelo leite derramado, o São Caetano segue com possibilidades de escapar do descenso. A vitória de 3 a 1 sábado à noite no Estádio Anacleto Campanella sobre o Paysandu foi providencial.
O bloco de equipes mais ameaçadas de queda à Série C do Campeonato Brasileiro continua o mesmo, mas pode ganhar novo integrante, totalizando sete. É justamente o Guaratinguetá que, com 32 pontos, ingressaria no turbilhão se for derrotado pelo São Caetano. Por enquanto, ASA (23 pontos), América de Natal, Atlético Goianiense e São Caetano (todos com 27 pontos), Paysandu (28) e ABC (29) formam o pelotão de rebaixáveis. O São Caetano abre o chamado Z-4, embora tenha o mesmo número de pontos ganhos do Atlético Goianiense e do América de Natal. O time da região leva vantagem sobre o Atlético Goianiense no saldo de gols (seis negativos contra 11 negativos) e sobre o América de Natal no número de vitórias (sete contra seis).
Para finalmente sair da zona de rebaixamento o São Caetano precisa não só da vitória em Guaratinguetá como também de uma derrota ou um empate do Paysandu que joga em casa com o Boa Esporte ou com derrota ou empate do ABC em Joinville.
O site Chance de Gol reduziu as probabilidades de o São Caetano ser rebaixado à Série C, mas os números ainda são incômodos. Agora são 58,1% de possibilidades, ante 96,4% do ASA, 86,1% do América de Natal, 39% do Atlético Goianiense, 47,9% do Paysandu e 34% do ABC de Natal. São números que flutuam de acordo com os resultados de cada rodada e obedecem a uma série de ponderações que ganham ares de futurologia no futebol. Há quem os considere relevantes, mas também não falta quem os relacione à cartomancia.
Instabilidade permanece
Poderá o São Caetano ganhar em Guaratinguetá? Tanto pode ganhar como pode perder. A resposta aparentemente acaciana é mais objetiva do que parece. O time do técnico Sérgio Guedes segue a trilha de não inspirar confiança nem mesmo quando um placar de 3 a 1 ante o Paysandu parece sugerir o contrário. Aquele resultado só foi consolidado no último lance de um jogo em que o São Caetano foi tão assimétrico quanto um coração avariado. Até o último minuto a equipe sofreu assédio do adversário e exalou insegurança. A zona de rebaixamento, frequentada há tanto tempo, instaurou ambiente de terror no São Caetano. O time sofre ante a possibilidade de vencer porque desconfia de que possa sofrer gol a qualquer instante.
A vitória sobre o Paysandu não escondeu os múltiplos problemas táticos do São Caetano, mas apresentou a certeza do jogo anterior no Anacleto Campanella: os recém-contratados e sempre abertos atacantes Anderson Pimenta e Bruno Veiga deram nova configuração organizacional à equipe. Mesmo nos piores momentos durante o jogo com o Paysandu, os dois atacantes habilidosos viraram válvulas de escape ao incomodarem o setor defensivo do adversário.
Não foi à toa que Jael se tornou o melhor da equipe ante o Paysandu. O centroavante ganhou mais espaços para jogar porque já não é o único centro de atenção dos zagueiros adversários e de passes e lançamentos da equipe. Os adversários agora precisam apurar a marcação sobre o pequeno e atrevido Anderson Pimenta e o driblador e incisivo Bruno Veiga, artilheiro das equipes de base do Fluminense.
Pena que o meio de campo ainda não entendeu a importância de oferecer-se como opção ofensiva mais constante e que só o lateral Diego apoie com insistência, embora não tenha atuado sábado por cumprir suspensão automática.
Gols de zagueiros
Paradoxalmente, mesmo com Jael se tornando o melhor da equipe, os três gols da vitória ante o Paysandu foram anotados por zagueiros, todos no segundo tempo. Fred acertou um chute forte de fora da área, Douglas Grolli desviou um cruzamento preciso de Pimenta na pequena área e Luiz Eduardo cortou de cabeça um escanteio contra o São Caetano, correu em direção à bola na intermediária, ganhou a dividida com um adversário e, depois, na saída do goleiro, encobriu-o com classe.
A expulsão de um sempre mal posicionado Jardel aos 10 minutos do segundo tempo, quando vencia por 1 a 0, provocou estragos no São Caetano. O jogo que estava equilibrado passou a pender para o adversário. As mudanças de Sérgio Guedes fortaleceram a marcação e o cansaço do meia Eduardo Ramos, sempre solto no primeiro tempo, atenuou os estragos na defesa do São Caetano, mal protegida por um meio de campo que só contava com um marcador forte, o volante Leandro Carvalho. O segundo gol do São Caetano, após rebote de escanteio, veio no momento certo, mas quando o Paysandu descontou após defeituoso desvio de Douglas Grolli, a síndrome de sofrer gols nos últimos minutos levou pânico à equipe. Até que Luiz Eduardo fizesse um gol de centroavante de talento.
É muito provável que no jogo desta terça-feira em Guaratinguetá o técnico Sérgio Guedes escale dois volantes marcadores (Leandro Carvalho e Dudu, que cumpriu suspensão automática) e até mesmo surpreenda com a manutenção dos atacantes Pimenta e Bruno Veiga em apoio a Jael. Seria uma formação que daria maior segurança defensiva e não abriria mão de incomodar para valer o sistema defensivo do time mandante.
Pimenta atrevido
Parece provado que o São Caetano tem dificuldades para equilibrar um sistema que, ao mesmo tempo em que fortalece a defesa, potencializa o ataque. A opção por dois volantes, um meia de armação e três atacantes parece razoável. Mas não está fora de cogitação optar por mais um jogador no meio de campo e deixar Pimenta no banco de reservas. Não faltariam opções. Bruno Veiga e Jael no ataque formam uma combinação explosiva de agilidade, velocidade e objetividade do primeiro e força, determinação e oportunismo do segundo. Algo que faltou durante todo o campeonato.
Pimenta é o recheio do bolo em jogos fora de casa, e essencial no Anacleto Campanella. Mesmo que um ou outro comentarista queira tolher o talento de driblador que procura o gol ou que faz um passe sempre bem feito a um companheiro bem colocado, recomendando-lhe simplicidade que, no caso, seria abdicar do direito de transformar atrevimento em burocracia. Pimenta é um tormento quando penetra em diagonal da direita ao centro e faz uso de uma perna esquerda inquieta e hábil.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André