Esportes

São Caetano não aprende que jogar é
uma coisa e competir é bem diferente

DANIEL LIMA - 09/10/2013

O São Caetano que perdeu ontem à noite em Guaratinguetá pela Série B do Campeonato Brasileiro por 3 a 2 não foi diferente de tantas outras partidas fora de casa, razão principal de estar entre os quatro últimos colocados e ameaçado de rebaixamento. O time de Sérgio Guedes insiste em apenas jogar, quando a circunstância classificatória e a reta de chegada exigem muito mais que isso -- exigem competição.

 

Há uma diferença brutal entre jogar e competir. Um jogo é jogo quando os três pontos em disputa são importantes, mas não decisivos. Um jogo é competição quando os três pontos podem fazer a diferença entre o céu da Série B e o inferno da Série C. Ao restarem apenas 10 rodadas para o encerramento do campeonato, está na hora de o São Caetano esquecer que vai jogar mais 10 jogos e cair na real de que vai competir em mais 10 jogos.

 

O time que Sérgio Guedes escalou ontem à noite ante o Guaratinguetá foi apropriado para jogar, não para competir. Poderia até ter vencido porque anotou 1 a 0 e tinha o controle tático que permitia sustentar a vantagem. Mas como o São Caetano estava a fim de jogar e não de competir, em apenas 13 minutos, dos 12 aos 25 do segundo tempo, sofreu três gols. Um apagão completo. Próprio de quem queria jogar, não competir. Um gol aos 48 minutos descontou a desvantagem mas não evitou uma derrota comprometedora porque além de desperdiçar três pontos que poderiam ter sido alcançados com mais competição, viu dois dos outros cinco ameaçados de rebaixamento comemorarem triunfos: o Atlético Goianiense ante o ASA e o ABC de Natal em Joinville. Menos mal que o Paysandu empatou em casa com o Boa Esporte. Se derrotado, o Guará teria engrossado a lista de rebaixáveis.

 

Agrava-se situação

 

Penúltimo colocado com 27 pontos, o São Caetano só supera o ASA de Arapiraca na classificação. O time de Alagoas tem 23 pontos. O Paysandu subiu a 29 e o América de Natal a 30. São essas equipes que dividem a zona de rebaixamento. ABC (32) e Atlético Goianiense (30) estão ameaçadas mas não sofrem o desgaste emocional do paredão de descenso.

 

O viés ofensivo do São Caetano em Guaratinguetá foi, como em tantos outros jogos fora de casa, uma faca de dois gumes. Contrapondo-se ao fortalecimento do setor ofensivo apresentam-se vulnerabilidades defensivas que, geralmente, os times da casa exploram mais porque tem os fatores campo e torcida como elementos de estímulo emocional.

 

O São Caetano fez um a zero aos 43 minutos do primeiro tempo, num rápido contragolpe iniciado por Danilo Bueno que o habilidoso atacante Anderson Pimenta, deslocado as costas do lateral Eduardo Arroz, transformou em chute rasante que o goleiro defendeu e proporcionou o gol de Jael no rebote. Abria-se com isso a possibilidade tática de explorar ainda mais os contra-ataques no segundo tempo.

 

Quem esperou que o time viesse com um segundo volante de marcação para ajudar Leandro Carvalho acabou decepcionado. O meio de campo seguiu com apenas um jogador de combate vocacional. A entrada de Dudu teria fortalecido a marcação no setor, mas Sérgio Guedes preferiu manter o time com dois atacantes abertos (Pimenta e Bruno Veiga), o centroavante Jael, e o meia Danilo Veiga.

 

13 minutos de apagão

 

É verdade que duas oportunidades desperdiçadas no começo do segundo tempo poderiam ter resolvido o jogo, mas logo o Guará voltou a levar perigo pelas laterais, sobretudo à esquerda com Giovanni, sempre desmarcado. Bastou apertar a saída de bola para o desastre acontecer: o time da casa empatou aos 11 minutos após urna cobrança de lateral que pegou o São Caetano desatento, desempatou aos 14 após reposição de bola do goleiro do Guaratinguetá que colheu os zagueiros desatentos e fez 3 a 1 na cobrança de falta perfeita sobre a barreira.

 

A ironia da derrota do São Caetano é que, postura liberal à parte, a equipe teve uma atuação mais prolongadamente positiva do que no jogo anterior, em casa, quando venceu o Paysandu por 3 a 1. O time de Sérgio Guedes trocou mais passes, teve mais posse de bola, explorou mais as laterais, criou algumas boas oportunidades, mas esqueceu de um vetor que faz toda a diferença entre vencedores e perdedores: jogou futebol com a naturalidade de três pontos convencionais, quando deveria competir por três pontos cruciais. Isso significa que não se deve ter vergonha de promover mudanças em pleno jogo para assegurar o controle defensivo como mecanismo de contragolpe.

 

O jogo deste sábado à noite em casa ante o Figueirense é mais uma oportunidade a compreensão de um conceito que exige do comandante discernimento para avaliar qual é o melhor momento para se jogarem no lixo lantejoulas técnicas e privilegiar o pragmatismo do resultado.



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