O São Caetano que joga nesta terça-feira à noite mais uma partida decisiva para fugir do rebaixamento, desta vez em Natal com o também ameaçado ABC, carrega uma preocupação adicional na reta de chegada da Série B do Campeonato Brasileiro: duas arbitragens danosas em jogos disputados no Estádio Anacleto Campanella se somaram aos problemas técnicos, táticos e emocionais de quem corre contra o relógio para permanecer na competição no ano que vem. A derrota de 2 a 0 para o Figueirense, sábado em São Caetano, foi uma obra iniciada pelo bandeirinha incapaz de enxergar impedimento no primeiro gol. Anteriormente, contra o Oeste, o árbitro anulou indevidamente um gol que daria os três pontos à equipe.
Sabe-se que dirigentes do São Caetano procuram reagir às lambanças de arbitragens sem chamar a atenção, mas o ambiente entre os jogadores não é dos melhores. A tensão natural de quem ocupa a zona de rebaixamento exacerba-se ante a constatação de que erros de arbitragem podem acrescentar dificuldades à luta para fugir da queda. Desconfia-se que as derrapagens tenham relação com a baixa frequência de torcedores em São Caetano. Não passam, em média, de 400 por jogo. Há quem veja a possibilidade de agentes influentes do futebol pretenderem massificar as arquibancadas do principal campeonato de acesso nacional. Outros observadores entendem que eventuais manobras elitistas não passariam de folclore.
De qualquer maneira, é fato que o São Caetano tem sofrido perdas de pontos importantes também por conta de arbitragens. Os desvios têm peso relativamente inferior a outros fatores, mas não podem ser desconsiderados. Tanto quanto não podem ser priorizados. Há ajustes que o técnico Pintado precisa fazer na equipe que orientou pela primeira vez diante do Figueirense, após os fracassos dos antecessores Marcelo Veiga e Sérgio Guedes.
Situação crítica
O São Caetano ocupa a penúltima colocação com 27 pontos ganhos (quatro acima do lanterninha ASA de Arapiraca) e, ao restarem nove rodadas para o encerramento da competição, tem os olhos grudados em outras quatro equipes, com as quais luta para fugir das últimas posições. Uma das quais é o ABC de Natal, primeiro fora da zona de rebaixamento como 32 pontos. O Paysandu (29 pontos) e o Atlético Goianiense (30) dividem o infortúnio do Z-4 com o São Caetano e o ASA. Paysandu e ABC disputaram um jogo a menos que os demais concorrentes. O jogo foi remarcado para 22 de outubro.
O site Chance de Gol aumentou a carga de potencial de rebaixamento do São Caetano, após a derrota para o Figueirense. Agora são 86,3% de possibilidades de queda, ante 99,4% do ASA, 65,8% do Paysandu, 45% do Atlético Goianiense, 27,7% do América de Natal e 14,7% do ABC de Natal. São números de uma futurologia de alta semelhança com a cartomancia, segundo os céticos, ou com alta probabilidade de materialização, segundo estudiosos do futebol. Nada que não possa passar, entretanto, por reestruturação já na noite desta terça-feira, quando será disputada integralmente a 30ª rodada. Uma vitória do São Caetano em Natal seria suficiente à redução circunstancial de risco de queda.
Para chegar a um resultado positivo o time de Pintado provavelmente não contará com o centroavante Jael. Ele saiu contundido pouco antes do final do primeiro tempo do jogo de sábado. Sem Jael, artilheiro do time com 11 gols, a alternativa do mais lento, menos combativo e fora de ritmo GianCarlo não parece agradar. Principalmente um time que deverá explorar os contragolpes. Contar com dois atacantes que se complementem em capacidade de fazer gols e em uso da velocidade é a melhor saída para o São Caetano.
O pequenino Anderson Pimenta confirma a expectativa de que é uma opção ofensiva importante. Ele foi o melhor do time sábado. Quem vai jogar ao lado dele em Natal? Se o técnico Pintado preferir atacante de referência, pode ser que Marcelo Soares, mais móvel que GianCarlo, seja o escolhido. Marcelo Soares chegou recentemente e não vem sendo utilizado com frequência, mas daria mais densidade ofensiva ao reter a bola para a aproximação de laterais e meio-campistas.
Fortalecimento defensivo
A possível ausência de Jael é um problema sério. Depois de substituído contra o Figueirense, o São Caetano passou a depender ofensivamente apenas de Anderson Pimenta. O atacante que veio do Sampaio Correia é um tormento. Com dribles sempre objetivos e vocação de chegar à linha de fundo, ele deixou Leandro Carvalho e Danilo Bueno na cara do gol no primeiro tempo. Foram gols perdidos que poderiam ter alterado o placar aberto logo aos cinco minutos quando o bandeirinha não observou o impedimento do atacante Pablo, enquanto o goleiro Rafael Santos saia precipitadamente do gol. No segundo tempo o mesmo Anderson Pimenta quase empatou num rápido contragolpe, antes que o São Caetano se descuidasse mais uma vez em cobrança de lateral e sofresse o segundo gol aos 25 minutos.
A expectativa para o jogo em Natal é de fortalecimento defensivo configurado contra o Figueirense, quando Leandro Carvalho e Dudu plantaram-se à frente da zaga. A saída de Leandro Carvalho no intervalo, proporcionando a entrada de Eder, foi um erro de Pintado. A mudança fragilizou a marcação reforçada e não acrescentou mobilidade e verticalidade ao meio de campo e ataque. Pintado também errou ao substituir Danilo Bueno por um Bruno Veiga sem aproximação de companheiros. A escalação de Anselmo como espécie de terceiro volante, jogando pela esquerda, aumentou em excesso o poder de marcação da equipe mas abriu um buraco ofensivo porque lhe faltam mobilidade e arranque.
Estranha-se a ausência do titular Diego, jogador mais regular da equipe durante a temporada. Fernandinho virou titular da lateral-esquerda. Poderia ser mais útil no meio de campo porque finaliza e movimenta-se mais que outros jogadores já escalados, além de permitir o reaproveitamento de Diego, importantíssimo no apoio ao ataque.
Defesa em frangalhos
O drama de seguir na zona de rebaixamento tem acrescentado mais tensão ao São Caetano. Não à toa a equipe sofre gols sobre gols. Já é a segunda pior defesa da competição, à frente apenas do lanterninha ASA, com 61 gols sofridos. O São Caetano sofreu 46 gols em 29 jogos. O sistema ofensivo marcou 37 e é mais efetivo do que os concorrentes ao rebaixamento. A expectativa é de que Pintado dê equilíbrio tático à equipe.
O ABC dirigido pelo técnico Roberto Fernandes é um dos casos raros de recuperação vertiginosa no futebol brasileiro. Dado como praticamente rebaixado antes que o primeiro turno terminasse, a equipe de Natal empreendeu reação extraordinária que culminou na vitória contra o Palmeiras. O segredo é um futebol de alta velocidade e muita aproximação pelas laterais e pelo meio. O antidoto mais apropriado é um adversário fechado que saiba explorar os contragolpes. O ABC tem um sistema defensivo falho, sofreu 45 gols na competição, à frente do São Caetano e do ASA, apenas.
Alternativa complementar do São Caetano é impedir que o ABC imponha o ritmo de jogo com o apoio de fanática torcida. Ou seja: o São Caetano precisa superar o desafio de jogar fora de casa como se não precisasse desesperadamente dos três pontos, situação que exige mais racionalidade que emoção, o principal condimento do time mandante. Um aliado do São Caetano é o sentimento do ABC de que tem obrigação de vencer um time que está abaixo na classificação geral.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André