Esportes

Só mesmo milagre pode impedir
rebaixamento do São Caetano

DANIEL LIMA - 16/10/2013

Após a derrota de ontem à noite em Natal ante o ABC por 2 a 0 é possível acreditar na salvação do São Caetano apenas se contar com verdadeiro milagre. O destino da Série C do Campeonato Brasileiro parece traçado. O site Chance de Gol, que envereda pela futurologia para antecipar desenlaces, aponta o São Caetano como o segundo maior candidato ao rebaixamento, com 94,4% de probabilidades. Só supera o lanterninha ASA, de Arapiraca, com 99,92%.


 


Pior que os números do campeonato e as alquimias estatísticas tem sido o futebol da equipe. O técnico Pintado agravou o peso da herança deixada por Sérgio Guedes e Marcelo Veiga. O time da derrota no Nordeste foi um amontado defensivo que esperou pela sorte grande de um erro crasso do adversário. O adversário errou, mas o São Caetano desperdiçou.


 


A se confirmar a tendência do índice final de aproveitamento da Série B, o São Caetano precisará ganhar em oito jogos mais da metade dos pontos que conquistou em 30 rodadas. Com 27 pontos ganhos, o São Caetano precisa somar outros 19 para chegar a 46 e superar o aproveitamento atual do Oeste, que ganhou 36 pontos em 90 disputados (40% de produtividade). O Oeste só não é o primeiro fora da zona de rebaixamento porque o ABC de Natal, com 35 pontos, disputou um jogo a menos, com o Paysandu. O aumento da margem de escape do descenso é péssima notícia para o São Caetano. Até a semana passada 40 pontos eram suficientes à fuga da degola. As próximas rodadas podem confirmar a nova tendência ou retomar o limite anterior, o que é pouco provável quando se observam dados históricos da competição.


 


Para piorar a situação na classificação geral, o São Caetano terá três jogos dificílimos nas próximas rodadas: vai enfrentar o surpreendente Icasa no Estádio Anacleto Campanella, o Palmeiras no Pacaembu e o Sport no Recife. O Palmeiras é líder com 65 pontos, o Sport está em terceiro lugar com 49 e o Icasa em quinto com 47. Somados, os três times chegam à média de 59,63% de aproveitamento. Praticamente o dobro dos 30% do São Caetano.


 


Seis vitórias em oito jogos


 


A iminência da queda do São Caetano só será revertida com uma combinação de fatores, mas é improvável que milagres aconteçam no futebol sem base sólida a estimulá-lo. O ABC de Natal que venceu o São Caetano era considerado integrante da Série C após as primeiras 15 rodadas, mas reagiu progressivamente e coleciona vitórias dentro de casa e bons resultados fora. E mesmo assim ainda precisa lutar muito para escapar do descenso. Numa competição tão equilibrada como a Série B, na qual nem mesmo o líder Palmeiras tem vida mansa, esperar sucessão de resultados extraordinários é sonhar com o paraíso. O time de Pintado precisaria de 79,16% de aproveitamento nos oito jogos que restam. Muito mais que o Palmeiras somou (72,22%) em 30 rodadas.


 


O São Caetano que perdeu em Natal cometeu pecados capitais demais para quem precisa de vitória. Exagerou na dose de defensivismo, não teve estabilidade técnica e tática, perdeu as poucas oportunidades de gol que apareceram, seguiu sofrendo gols evitáveis e não teve poder algum de reação após ficar inferiorizado no placar.


 


O técnico Pintado não poderia ter cometido a bobagem de abdicar do ataque, mesmo ao priorizar a marcação forte ante um adversário que joga com leveza e velocidade. Está certo que com o bloqueio do meio de campo impediu o aquecimento do jogo que interessava ao time da casa. Mas o restante da tarefa de quem precisa dos três pontos foi congelado: o São Caetano foi previsível, burocrático, frágil e tudo o mais no sistema ofensivo.


 


Sem o centroavante Jael, contundido, e, surpreendentemente, sem pelo menos um dos atacantes rápidos contratados para reforçar a equipe, Bruno Veiga (que só entrou aos 25 minutos do segundo tempo, já com dois a zero no lombo) e o abrasivo Anderson Pimenta, o São Caetano dependeu o tempo todo de uma bola parada de escanteio ou falta. Ou de algum contragolpe improvável. Teve nos pés do sempre disperso Geovane, no final do primeiro tempo, quando poderia abrir o placar. E também um pouco antes, quando o zagueiro Lino rebateu mal e Danilo Bueno, na entrada da área, chutou às nuvens.


 


Aquelas foram as únicas oportunidades do São Caetano. O ABC só chutou de fora da área em todo o primeiro tempo, e nada indicava que o segundo tempo seria diferente até que um escanteio mal rebatido pela zaga encontrou o zagueiro Lino que, de calcanhar, balançou as redes. Logo depois uma saída de bola preciosa demais de Eder, na linha de fundo, proporcionou a retomada pelo ABC e um chute forte e seco de Júnior Timbó. Estava decretada a derrota.


 


Cobertor curto


 


É demais acreditar que um time que perdeu 17 dos 30 jogos disputados até agora ganhe pelo menos seis dos oito restantes -- e empate um dos outros dois. A dramaticidade do quadro é tão incontestável quanto a variedade de motivos que explicam o baixo rendimento geral da equipe. Não tem faltado dedicação aos jogadores, mas o São Caetano não pode ser chamado de time quando ao longo de cada jogo há buracos profundos a preencher para dar sistemicidade entre os setores de defesa, meio de campo e ataque.


 


Pintado, como Sérgio Guedes e Marcelo Veiga, não alcançou o equilíbrio entre sistema ofensivo e sistema defensivo. Como cobertor curto, se reforça o time atrás, perde consistência na frente. Se dá mais agressividade, fragiliza a marcação. A diferença é que Pintado dispõe de alternativas de velocidade e aproximação proporcionadas por Bruno Veiga e Anderson Pimenta, mas insiste em desprezá-las, ou utilizá-las parcialmente e por tempo insuficiente. Deixar os dois jovens atacantes no banco de reservas em Natal e insistir com Geovane de centroavante, quando nem mesmo na especialidade de meia-atacante tem se dado bem, é brincar com a sorte. 


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