Esportes

São Bernardo flutua entre Grupo da
Morte e Grupo da Vida na Série A

DANIEL LIMA - 04/11/2013

Eis uma declaração que coloca o empresário esportivo e candidato a deputado estadual Luiz Fernando Teixeira muito acima da simplicidade de análises da Imprensa. Afinal, o que disse o presidente do São Bernardo Futebol Clube, nosso representante na Série A do Campeonato Paulista da próxima temporada, sobre a distribuição de grupos e a fórmula de disputa da competição? Falou com o bom senso que faltou à Imprensa da região. Não acredito, não acredito mesmo, mas gostaria de ser contrariado e ver o político Luiz Fernando Teixeira portador do mesmo grau de lucidez.


 


De maneira geral, a imprensa esportiva da região publicou em manchetes que o São Bernardo caiu no Grupo da Morte do Campeonato Paulista. Grupo da Morte viria a ser um aglomerado de equipes que, pelo regulamento, causaria problemas sérios à equipe, porque dificilmente o São Bernardo conseguiria uma das duas primeiras colocações para chegar às quartas-de-final. Todos viram apenas um lado da moeda.


 


Luiz Fernando Teixeira que, em tese, poderia acompanhar os relatores e fazer do São Bernardo vítima, argumentou com sobriedade: “Achei muito positivo (o grupo), porque o grupo nos dá condições de ir para a Série D. É da morte (mais difícil) em relação à classificação para as fases finais, mas teremos a vantagens de não enfrentar os grandes que estão na nossa chave” – escreveu o jornal ABCD Maior sob a manchete “Tigre cai no grupo da morte do Paulistão, mas não reclama”. 


 


Como se observa, houve duas imprecisões da publicação. Primeiro não se dá valor elástico à interpretação do agrupamento como uma faca de dois gumes; segundo, o presidente do São Bernardo não só não reclamou como considerou o sorteio ótimo. Aprendi com o tempo, e não vacilo porque sempre é possível incidir no erro, que nem sempre o que parece unânime é verdadeiro. Quem botou na cabeça que o São Bernardo entrou pelo cano no sorteio dos grupos avaliou a dimensão de um quarto imenso pelo buraco da fechadura.


 


Este texto deveria ser redigido no mesmo dia em que a notícia do sorteio na Federação Paulista de Futebol saltou em meu monitor. Iria escrever exatamente o que estou escrevendo agora, com a diferença de que não teria ainda a repercussão do evento pelo jornal ABC Maior e por outros mais.


 


Calendário nacional


 


Luiz Fernando Teixeira tirou o doce da interpretação de minha boca porque em poucos parágrafos resumiu a situação: o São Bernardo está objetivamente interessado, e nem poderia ser diferente, em alcançar o calendário nacional que o Santo André jogou no lixo ao cair para a virtual Sexta Divisão. Sem calendário nacional, que a Série D enseja mesmo que de forma precária de uma temporada, é praticamente impossível pretender fazer do São Bernardo uma paixão que dure praticamente todo o ano. A embocadura sociológica ou social dessa paixão permanente é outra história, que requer como já requereu neste espaço, ponderações. Mas não é o caso de esmiuçá-la neste texto.


 


Li tantas versões interpretativas sobre o regulamento da Série A do Campeonato Paulista que fiquei atordoado. São tantas as conjecturas sobre possibilidades vexatórias que entendo exageradas em vários pontos, enquanto que em outros os críticos se esmeraram em bons argumentos. O regulamento e a distribuição dos grupos são complicados mesmo e podem gerar desajustes finais como o caso de o São Bernardo classificar-se entre os oito primeiros e ficar de fora das etapas definidoras.


 


O que se pode fazer? Esse é o preço a pagar pela necessidade de adequar a competição às novas demandas por respeito à máquina humana exposta em demasia num calendário esportivo convidativo à exaustão e à pauperização dos espetáculos. Certo mesmo é que a Federação Paulista de Futebol não terá saída nas temporadas que virão: antes que as armadilhas e as gambiarras regulamentares provoquem a desmoralização etimológica do verbete “competição”, é melhor que se reduza o número de concorrentes.


 


Mais torneio que campeonato


 


O grande equívoco do próximo Campeonato Paulista não está na série de apontamentos dos críticos sobre as possibilidades de desvirtuamento técnico em favor de formulações acomodatícias. Não li em lugar algum que há mesmo uma agressão à lógica da competição, explicita num campeonato, porque os 20 competidores não se enfrentarão integralmente. A divisão em quatro grupos de cinco e a determinação de que as 15 rodadas da fase classificatória só permitirão confrontos com representantes dos outros três agrupamentos cerceiam o critério de todos contra todos que é a essência de um campeonato. O que torna a Série A algo híbrido, entre campeonato e torneio.


 


Por isso, o reducionismo do rebaixamento automático dos quatro últimos colocados na classificação geral (sim, haverá uma classificação à parte dos grupos, envolvendo os 20 participantes) fere ética de isonomia esportiva. O presidente do São Bernardo aprovou a fórmula anunciada pela Federação Paulista de Futebol apenas porque contemplou o sonho de chegar à Série D do Campeonato Brasileiro supostamente por um caminho menos tortuoso. Ele não se referiu ao outro ponto porque não é bobo nem nada, muito pelo contrário, mas o fato de enfrentar teoricamente um conjunto de adversários menos ossos duros do que equipes de menor porte de outros grupos confere ao São Bernardo a vantagem de, também, sofrer menos ameaça de rebaixamento.


 


A FPF poderia ter resolvido a situação de tratar como pontos corridos de todos contra todos uma competição que não é de pontos corridos nem de todos contra todos com a réplica do critério de disputa dos oito primeiros colocados pelo título para apurar os rebaixados: bastaria promover o cruzamento entre os oito últimos colocados, que disputariam os jogos em dois agrupamentos de quatro equipes, ocupando-se três datas, uma a menos que na disputa pelo título. A medida não reduziria o grau de imperfeição da competição, mas o tornaria coerente.


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