Candidato a deputado estadual nas eleições do ano que vem e contumaz tagarela, o presidente do São Bernardo Futebol Clube, Luiz Fernando Teixeira, deve ter-se sentido mais aliviado que o mais fanático dos torcedores após a série de cobrança de pênaltis que garantiu, sábado à noite, o título da Copa Paulista ao representante da região.
A Copa Paulista é uma competição aberta, sem rígidos critérios classificatórios, mas mesmo assim é importante para toda equipe de porte pequeno, como é o caso do São Bernardo, porque garante uma vaga à Copa do Brasil, no circuito nacional.
A Copa Paulista é tão importante às equipes de porte pequeno que até carro do Corpo de Bombeiros foi reservado para um passeio festivo de jogadores e comissão técnica por algumas ruas da cidade. Tudo de acordo com o manual de valorização de uma diretoria cujo presidente espera obter votação maciça nas urnas eletrônicas para a Assembleia Legislativa e, assim, cacifar-se à sucessão de Luiz Marinho. O São Bernardo Futebol Clube é o mais frondoso ramal esportivo do Partido dos Trabalhadores em São Bernardo.
Por que além de muito feliz o presidente Luiz Fernando Teixeira deve ter-se sentido aliviado? Simples, muito simples. Um dia antes da decisão com o Audax, equipe paulistana que até outro dia integrava o feixe de negócios do Grupo Pão de Açúcar e agora está incorporada a executivos do Bradesco, Luiz Fernando Teixeira fez declarações que dirigente experiente e precavido jamais pronunciaria quando se aproxima o desfecho de uma competição.
Tiro nos pés
O que Luiz Fernando Teixeira declarou seria algo como se o presidente do Corinthians, um dia antes da final do Mundial de Clubes contra o Chelsea, declarasse que já contava com uma lista de reforços para as próximas competições. Ou que o Vasco da Gama que procura bravamente escapar do rebaixamento na Série A tivesse o presidente Roberto Dinamite como protagonista de declarações, às vésperas da última e decisiva rodada, indicando as posições em que os titulares não serviam às pretensões futuras em caso de salvamento.
A imprevidência verbal de Luiz Fernando Teixeira quase colocou tudo a perder. Justamente ele, Luiz Fernando Teixeira, que tanto faz para tentar colocar o futebol de São Bernardo em posição menos fora da realidade do potencial econômico da cidade. Tivesse a Capital do Automóvel equivalência futebolística à grandeza do PIB, uma das 20 vagas na Série A do Campeonato Brasileiro seria o limite razoável em termos de hierarquia. Mas como futebol e economia são mundos diferentes, ou não necessariamente semelhantes, ainda falta muito chão para um equilíbrio entre essas duas atividades em São Bernardo.
O que disse o presidente do São Bernardo Futebol Clube ao Diário do Grande ABC algumas horas antes do jogo decisivo com o Audax sob o título “Focado na final da Copa Paulista, Tigre prepara pacotão de reforços” é um diploma de precipitação. Luiz Fernando Teixeira ainda precisará de muita escola para entender que a alma dos jogadores não guarda relação com a alma de marqueteiro que ele, Luiz Fernando Teixeira, exercita com excesso de verborragia.
Repasso alguns trechos da matéria do Diário do Grande ABC de sexta-feira para os leitores entenderem que não há exagero quando sugiro que as declarações de Luiz Fernando Teixeira equivaleriam à desventura de Mário Gobbi jogar o Corinthians numa enrascada provavelmente fatal antes da final do Mundial de Clubes ou de Roberto Dinamite explodir o ameaçadíssimo Vasco da Gama:
(...) O presidente Luiz Fernando Teixeira revelou que procura trazer pelo menos oito reforços para a disputa do Campeonato Paulista de 2014. Os nomes ainda são mantidos em total sigilo, mas a maioria desses atletas está disputando a Série B do Campeonato Brasileiro. “Já fechamos com dois volantes, um lateral-direito, um meia e um centroavante. São os atletas que já estão fechados conosco. Ainda buscamos um zagueiro e um meia. Pode também vir outro atacante, estamos analisando. Ainda teremos o retorno do Diogo Acosta para o setor ofensivo. Mas a verdade é que Careca e Gil estão dando conta do recado na frente. Será muito boa a disputa para ser titular no ano que vem” – disse Teixeira.
Mundo do futebol
Qualquer que tenha sido a intenção do presidente do São Bernardo nas declarações ao Diário do Grande ABC, prevalecem excesso de ingenuidade e completo desconhecimento dos meandros do futebol. O discurso ao longo da disputa da Copa Paulista de que aquela seria a base da equipe do ano que vem foi para a cucuia. O São Bernardo que jogou no dia seguinte teve o peso sobressalente da desconfiança púbica do próprio presidente sobre a capacidade de os jogadores disputarem a próxima temporada. Não teria sido para afirmar-se ante os olhos presidenciais que o atacante Gil, a estrela do time, enfeitou demais e perdeu a cobrança de uma penalidade máxima no tempo normal?
As declarações de Luiz Fernando Teixeira poderiam ser proferidas durante a semana que está se abrindo, até porque estão longe de ser descabidas. Muito pelo contrário: o São Bernardo da Copa Paulista não iria longe na Série A do Campeonato Paulista porque o nível técnico é outro.
A Copa Paulista não passa de uma competição tapa-buraco no calendário paulista, à qual concorrem voluntariamente as equipes filiadas, mesmo aquelas que estão numa das séries do Campeonato Brasileiro, casos locais do Santo André e do São Caetano. Um Santo André que entrou na disputa com um time que sobrava do elenco reservado à Série D do Campeonato Brasileiro e um São Caetano igualmente representado por jogadores não aproveitados na Série B do Campeonato Brasileiro. O São Caetano só não chegou à final mesmo jogando com um time alternativo porque na semifinal contra o Audax não pode escalar alguns jogadores que ficaram no banco de reservas da equipe principal num compromisso da Série B do Brasileiro.
O São Bernardo festejou no Estádio Primeiro de Maio e nas ruas um titulo digno de uma equipe que tem tudo para chegar a um estágio de pequena-média nos próximos anos. Daí a importância de o presidente Luiz Fernando Teixeira observar com mais rigor a sincronia cronológica quando decidir soltar a língua. Mesmo que diga, como disse, apenas verdades. O problema é que verdades incontestáveis amanhã são verdades inconvenientes, inoportunas e potencialmente explosivas hoje. O presidente do São Bernardo é um homem tão frio na articulação extracampo, e isso vale sobremodo à função que exerce informalmente na Administração Luiz Marinho, como gerenciador de suporte politico-financeiro, quanto desastrado ante a mídia.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André