O São Bernardo não pode iludir-se com a vitória de ontem à noite por 2 a 1 em Piracicaba contra o XV de Novembro. Tampouco os futuros adversários podem subestimar um time que ganhou até agora os seis pontos que disputou na Série A do Campeonato Paulista. Talvez seja essa a conclusão mais sensata a quem pretenda desvendar segredos do único representante da região no principal campeonato estadual do País. O São Bernardo ganhou um jogo no qual começou a transmitir a ideia de que já tem configuração tática, mesmo que incipiente -- mas isso não quer dizer que uma classificação aos mata-matas é barbada.
As virtudes do São Bernardo em Piracicaba foram mais salientes do que na vitória em casa ante o Botafogo de Ribeirão Preto: o time parece estabilizado emocionalmente para suportar a pressão do adversário em desvantagem; o time tem aplicação tática defensiva exuberante; o time tem nível de compactação e entrosamento defensivos acima da média entre os concorrentes do mesmo nível; o time não faz questão nenhuma de jogar bonito; e o time está unido em torno de um objetivo desafiador. Individualmente poucos se destacam, mas o coletivo se apresentou forte.
Já as deficiências também apareceram no primeiro jogo e se confirmaram no segundo: o time tem baixa intensidade ofensiva; o time é repetitivo em alternativas ofensivas, com participação ainda incipiente de laterais e meias de ligação; o time prescinde de um centroavante de referência, porque há sempre espaço a ocupar no centro de ataque; o time ainda erra demais na saída de jogo, com ligações diretas incompatíveis com o posicionamento de quem receberia a bola.
Autoestima versus atenção
Seria extraordinário se o São Bernardo não acusasse deficiências, porque a temporada mal começou e é natural que o fluxo de avanços e recuos se manifeste. A liderança depois de duas rodadas fortalece a autoestima do grupo mas também desperta a atenção dos próximos adversários, a começar pelo Corinthians neste sábado à noite no Pacaembu. Estaria o São Bernardo preparado para enfrentamentos mais quentes? Só o tempo responderá a essa questão-chave.
Certo mesmo é que o time está abençoado. Diante do Botafogo, construiu pouquíssimas jogadas de ataque e fez o gol da vitória num lance de extraordinária precisão de Bady, um meia-atacante que ainda não jogou o que a fama sugere.
Ontem à noite, em Piracicaba, o São Bernardo marcou dois gols no primeiro tempo, quando foi superior ao adversário, contando com o auxílio de dois defensores locais: o gol do volante-meia Marino só saiu porque um zagueiro fechou para combatê-lo e o desvio ganhou a direção das redes, quando a bola iria para fora; no gol de Bady, da entrada da área, após cobrança de lateral, de novo um desvio no meio do caminho ante um goleiro que caiu em sentido oposto.
A repetição do time que venceu o Botafogo no Estádio Primeiro de Maio se mostrou mais apropriada do que a própria escalação no jogo de abertura. O sistema 4-3-1-2, com três volantes (Daniel Pereira, Edson e Marino), o meia Bady e os atacantes Careca e Marcio Diogo, é a base do defensivismo do São Bernardo. Todos os jogadores participam da marcação desde o campo de ataque. Não há como o adversário deixar de acusar o golpe. Por isso, o XV praticamente ficou amordaçado durante todo o primeiro tempo, exceto numa penetração em diagonal, por dentro, do atacante Adilson, com chute para fora, logo aos três minutos.
Velocidade complicadora
O São Bernardo deu sinais de que pode sofrer incômodos nos próximos jogos se os adversários utilizarem a mesma tática do XV no segundo tempo, injetando mais velocidade e verticalidade no meio de campo. Breitner, revelado pelo Santos, e Adriano, deram mais agressividade ao setor e o XV passou a dominar de forma ostensiva. Tanto que, com apenas 20 segundos, Breitner quase marcou numa penetração em diagonal. Mas aos seis minutos o árbitro assinalou com rigor excessivo um pênalti de Luciano Castan e Breitner chutou às redes.
Quem esperava que o XV de Piracicaba poderia pelo menos empatar o jogo deu-se mal. É verdade que nos 15 minutos seguintes pressionou o São Bernardo que mal se ajeitava na marcação, quanto mais na arrumação de contragolpes. Mas aos poucos o jogo perdeu velocidade, intensidade e o São Bernardo readquiriu o controle tático.
Nada que provocasse resultado extraordinário, porque o time erra demais na saída de bola, faz transposições óbvias do meio de campo ao ataque, de vez em quando abre espaços a contragolpes desnecessários, e chuta muito pouco a gol. Talvez fosse interessante arriscar mais, porque o nível de eficiência, com a colaboração de terceiros, é altíssimo.
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