A raia do PIB (Produto Interno Bruto) em que o Grande ABC sofre duros revezes para a Grande Campinas, como antecipei no texto Grande ABC versus Grande Campinas, quem está na frente? é insofismável prova de que os sete municípios da região que somam 2,65 milhões de habitantes encontram-se encalacrados frente aos 19 municípios do Interior de população semelhante.
Ou seja: o G7 (o Grande ABC) está perdendo cada vez mais terreno para o G19 (a Grande Campinas). Nos oito anos contados entre janeiro de 2000 e dezembro de 2007, o crescimento médio anual do PIB do Grande ABC foi de 1,53%, contra 2,53% da Grande Campinas. A velocidade de avanço do G19 é 39% superior a da região.
Tracem uma linha de tempo mais prolongada e projetem o quanto o Grande ABC se distanciará da Grande Campinas em duas décadas. Não se trata de perspectiva pessimista.
A tendência é que a diferença de velocidade será ainda maior e o distanciamento de valores monetários prolongar-se-á igualmente superior porque o Grande ABC está numa porção geográfica de congelamento expansionista pelo bloqueio natural da Serra do Mar e pela escassez de áreas livres das amarras ambientais, além das deseconomias de escala da Região Metropolitana de São Paulo — entre outros fatores menos votados.
Já a Grande Campinas flui entre as principais rodovias do Estado e com fartura de terrenos que facilita entre outras iniciativas a chamada guerra fiscal de atratividade industrial mais consistente e sedutora do que municípios do Grande ABC conceberam de afogadilho para contragolpear.
Mais argumentos para corroborar a incômoda situação do Grande ABC frente a Grande Campinas: a economia daquela área do Interior do Estado é muito mais diversificada em matrizes industriais do que a do Grande ABC, movida à indústria automotiva e dependente demais também do pólo petroquímico. A Grande Campinas tem tudo isso e muito mais, como indústria de tecnologia de ponta e de química fina, infra-estrutura de atratividade na forma do Aeroporto de Viracopos em projeto de expansão e o trem-bala, entre tantas outras variáveis.
A comparação entre as duas áreas geoeconômicas está restrita aos oito anos mencionados. Faltam dados consistentes do começo dos anos 1990 entre outras razões por conta da mudança da moeda nacional. Mas é certo que reúno condimentos numéricos que sustentam a supremacia de 30% do Grande ABC no começo daqueles anos. Estar 11% atrás no outro extremo do confronto, no caso 2007, não é nada agradável.
A sustentação deste artigo leva em conta a atualização dos valores monetários do PIB individual e regional da Grande Campinas e do Grande ABC. Entre janeiro de 2000 e dezembro de 2007, a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) da Fundação Getúlio Vargas alcançou 110,4%. Nesse período ponta a ponta o Estado de São Paulo obteve crescimento do PIB de 26,09%, o que significa 3,26% ao ano, nível superior, portanto, aos 2,53% da Grande Campinas e ao 1,53% do Grande ABC.
Isso tem o seguinte significado: o Grande ABC não consegue crescer em média por ano metade do registrado no Estado de São Paulo e ficou a cada ano um ponto percentual abaixo da Grande Campinas. O PIB atualizado do Grande ABC em dezembro de 2007 registrava R$ 63.884,252, contra R$ 70.718.821 da Grande Campinas. Uma diferença de exatos R$ 6,8 bilhões. Para se ter ordem de grandeza desse número final, basta dizer que praticamente é a soma dos PIBs de Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e Mauá.
Qual seria a posição do Grande ABC e da Grande Campinas na ponta inicial, tendo sempre como base o ano de 1999?
Em valores nominais, ou seja, sem se considerar a inflação do período de oito anos, o Grande ABC apresentava em 1999 PIB de R$ 26.884.252, contra R$ 27.950.787 da Grande Campinas. Ou seja: a Grande Campinas exibia vantagem de R$ 1.066.535, o que equivalia a quase o PIB de Ribeirão Pires, que era de (sempre em valores nominais de 1999) de R$ 1.335,226. Resumo dessa ópera: em oito anos a Grande Campinas acumulou vantagem do PIB de Mauá e Rio Grande da Serra somados, já que o PIB de Ribeirão Pires não entra na conta novamente. Daí a superioridade de exatos 11,3% ao final de 2007. Em valores atualizados, o PIB do Grande ABC de 1999 (sempre é bom lembrar que é o ano da base de comparação que abrange o período de 2000 a 2007) alcançava em valores monetários de dezembro de 2007 o total de R$ 56.736.947, enquanto o da Grande Campinas chegava a R$ 58.808.455.
Esta abordagem de enfrentamento entre as duas mais ricas áreas do Estado, depois da Capital, terá vários desdobramentos. Um dos indicadores mais importantes e que para muitos estudiosos é mais relevante até que o próprio PIB, de deformações congênitas, é o Potencial de Consumo, especialidade do IPC Target, empresa dirigida pelo estudioso Marcos Pazzini, parceiro há muitos anos do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), laboratório virtual idealizado por este jornalista. O mesmo IEME que está sendo reestruturado para retomar o posto de maior banco de dados analíticos da mídia nacional.
Posso antecipar aos leitores que o Potencial de Consumo do IPC da Target confirma a supremacia da Grande Campinas sobre o Grande ABC, numa virada de jogo semelhante à do PIB. Nada que surpreenda, porque o Potencial de Consumo e o PIB guardam muitas semelhanças quando se confrontam municípios ou regiões com as características da Grande Campinas e do Grande ABC. Mas há situações em que o Potencial de Consumo do IPC Target desmascara o artificialismo do PIB. Quanto menor o quociente do Potencial de Consumo dividido pelo PIB, menos riqueza relativa está sendo acumulada pela população local. Mas isso já é outra história.
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