Vamos combinar o seguinte: para afirmar categoricamente quem foi o melhor prefeito de São Bernardo neste século, levando-se em conta exclusivamente o comportamento da economia, é preciso se despir da simplicidade metodológica. Combinado? Você nem sonha com o que vem em seguida. E o que vem em seguinte é a conclusão de que os prefeitos William Dib, Luiz Marinho e Orlando Morando viveram situações muito diferentes. Dib surfou, Marinho penou e Morando iniciou reação. Atribuir rigorosamente valores de competência individual é arriscado porque São Bernardo sofre de Doença Holandesa Automotiva.
Portanto, o que se segue tem essas digitais conclusivas e condicionantes. Foi William Dib em dois aspectos e Orlando Morando em outro que marcaram os pontos positivos. Não há dúvida de que Luiz Marinho foi o pior, ou em última instância, o menos afortunado pela enfermidade econômica de São Bernardo. Portanto, o petista precisa ser relativizado. Aliás, como os outros dois. Quando o PIB em diversas dimensões é acionado, não há placar previsível aos simplistas.
Certo mesmo e indiscutível é que os três prefeitos, responsáveis pelo comando do Paço Municipal de São Bernardo desde 2004, viveram situações desafiadoras. Há uma marca em comum a caracterizá-los: as políticas econômicas do PT destruíram parte da indústria de São Bernardo. Não bastasse a herança maldita (esta sim) dos anos sufocantes de Fernando Henrique Cardoso. Com períodos temporalmente distintos de FHC e Dilma, São Bernardo não precisaria de mais nada para chegar aonde chegou. O PIB Industrial caiu à metade em representação municipal. Quem perde PIB Industrial dependendo tanto de PIB Industrial só pode encontrar o caos na contabilidade do PIB per capita. É o que se deu.
A métrica que vou utilizar é mesmo o PIB per capita, o mais apropriado para aferir para valer a economia sob o ponto de vista bruto, de produção e geração de riquezas em produtos e serviços. Não entra necessariamente com indicador de qualificação e riqueza social uma infinidade de marcadores, como habitação, saúde, educação, meio ambiente, nada disso. Tudo isso, como se sabe, diz tudo ou mesmo muita coisa.
No caso de São Bernardo a situação é diferente da maioria dos municípios brasileiros de grande porte, ou até de médio porte. Por conta disso decidi alterar o cromossomo explicativo do PIB per capita, produto do PIB Convencional.
DOENÇA HOLANDESA
O PIB de São Bernardo é dependente excessivamente de uma única atividade, a indústria automotiva. Chamo isso desde muito tempo de Doença Holandesa, puxadinho do conceito internacional que coloca na marca do pênalti da instabilidade econômica e social todos os endereços que rezam para não perder uma atividade proeminente na geração de riqueza. Doença Holandesa não é uma expressão fortuita. Surgiu naquele país.
Da mesma forma que São Bernardo conta com a Doença Holandesa Automotiva, Santo André está sujeita, em impacto inferior, à Doença Holandesa Petroquímica. São Caetano também passa apuros com a Doença Holandesa Automotiva, mas tem algumas variáveis mitigatórias, caso dos terminais da Petrobrás, que seguram as contas públicas também com parcela importante.
Vamos tratar apenas da economia de São Bernardo neste século para colocar ordem na bagunça de declarações de gente da política que manipula dados e inventa mentiras. Eles não são do ramo. Esmiuçaremos o PIB per capita de São Bernardo neste século, a partir de 2003, quando o PT chegou ao poder federal e governou o País durante 14 anos seguidos, período desse estudo.
Nesse tempo todo, São Bernardo contou com três prefeitos. É deles que tratamos agora.
Willian Dib dirigiu a cidade de 2004 a 2008 – assumiu interinamente em outubro de 2003, com o afastamento do prefeito eleito Maurício Soares, mas contamos sua atuação somente a partir do ano seguinte, e os anos do mandato conquistado nas urnas, em seguida.
Luiz Marinho foi prefeito de São Bernardo entre janeiro de 2009 e dezembro de 2016.
Orlando Morando está prefeito de São Bernardo entre janeiro de 2017 e dezembro de 2021. Claro que continua no cargo, mas os dados oficiais dos dois últimos anos ainda não foram anunciados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Reparem nas três modalidades de PIB que teremos pela frente para mostrar o quanto William Dib e Orlando Morando podem comemorar os resultados. Já Luiz Marinho sofreu um bocado.
1. PIB RESTRITO
2. PIB RELATIVZADO
3. PIB VULNERALIZADO
Pensei um bocado antes de dar nome aos bois a cada uma das modalidades de PIB que passarei a adotar. Teria obrigatoriamente de diferenciá-los na metodologia e nas conclusões. Questão de especificidade a ser respeitada.
PIB RESTRITO
No PIB Restrito, o então prefeito William Dib supera os dois concorrentes quando se observa o indicador per capita. Trata-se, grosso modo, do PIB por habitante que leva em consideração apenas os números relativos a São Bernardo. Não existe macrocontexto politico nem econômico fora dessa esfera geográfica.
É um PIB per capita imperfeito. No caso de São Bernardo, o impulsionamento de riquezas tendo o setor industrial como mola propulsora é uma operação que precisa ser condicionada ao ambiente macroeconômico e macropolítico.
Entre 2004 e 2008, ou seja, cinco anos, o PIB per capital de São Bernardo avançou, sempre considerando a atualização monetária, à média anual de 5,91%. No conjunto da obra, foram 29,61% de aumento em cinco temporadas.
O único período em que São Bernardo avançou no PIB per capita nos últimos 40 anos. Lula da Silva estava na presidência. Foram os anos da farra de gastos públicos, lubrificados pelo avanço do PIB Nacional na esteira de exportações de comodities, principalmente para os asiáticos.
Houve acadêmico apressado que chegou ao ponto de negar a desindustrialização endêmica de São Bernardo e da região por conta da sazonalidade dos anos dourados de Lula da Silva – que se esgotou estrepitosamente no governo seguinte, de Dilma Rousseff, como mostraremos em seguida.
O PIB per capita do período de cinco anos de William Dib saiu de R$ 26.193,52 mil em dezembro de 2003 para R$ 48.285,93 em dezembro de 2008. Quando se atualiza o valor de 2004 a 2008, janeiro contra dezembro, chega-se a R$ 33.986,09. Como o PIB per capita de fato chegou a R$ 48.285,93, o ganho efetivo foi de 29,61%. Basta dividir por cinco anos e se obtém o crescimento médio anual de 5,91%. Nada comparado aos chineses daquele período, mas consideravelmente alto.
Os oito anos de Luiz Marinho à frente de São Bernardo foram tormentosos, entre 2009 e 2016. Marinho pegou o rabo de foguete de números saudáveis de dezembro de 2008 e deixou a Prefeitura em pleno massacre dos dois últimos anos do governo Dilma Rousseff, entre 2015-2016, quando São Bernardo desabou.
O que durante os cinco anos de William Dib representaram quase 6% de crescimento médio do PIB per capita por ano, com Luiz Marinho se deu exatamente o oposto. O PIB per capita de São Bernardo caiu e, termos absolutos e líquidos, atualizando a moeda, nada menos que 6,31% ao ano.
Quando Luiz Marinho assumiu a Prefeitura em janeiro de 2009, o PIB per capita do ano anterior, que serve de base, era de R$ 48.285,93 em valores nominais. Aplicada a correção de oito anos, até dezembro de 2016, pelo IPCA, o valor deveria chegar a R$ 79.715,24. Mas o PIB per capita do período não passou de R$ 52.959,00. Portanto, uma queda de 33,56% no período, ou 4,20% em média ao ano.
Agora chegou a vez do prefeito Orlando Morando nessa métrica circunscrita a uma São Bernardo dependente demais de ambiente político e econômico externo por causa da concentração de uma atividade produtiva.
Com Morando, contabilizados cinco dos oito anos de dois mandatos, houve melhora do PIB per capita de São Bernardo, com avanço relativo ao período restrito. Foram 5,35% no total, média de 1,07% ao ano. O PIB per capita de São Bernardo herdado por Orlando Morando em 2017, quando assumiu a Prefeitura, era em valores nominais de R$ 52.959,00. Com a atualização monetária, deveria registrar o valor de R$ 67.866.95 mil em 2021, mas ultrapassou e chegou a R$ 71.495,98. Daí o crescimento real de 5,35% no período.
Um divisor de águas claríssimo a reforçar o vetor específico de PIB per capita restrito de São Bernardo, ou seja, uma comparação simplista, está no regulador principal desses resultados, no caso o desempenho da indústria automotiva brasileira nos três períodos dos prefeitos eleitos.
Durante a administração de Willian Dib, entre 2004 e 2008, a produção automotiva brasileira registrou crescimento de 81,08%, passando de 1.684.715 veículos (ônibus, caminhão, carros de passeio e utilitários) para 3.050.629.
Já no período compreendido dos oito anos de Luiz Marinho, de 2009 a 2016, houve queda da produção nacional (sempre na comparação ponta a ponta) de 28,64%. Em 2016 foram fabricados no País 2.176.784 veículos, enquanto, como se viu, em 2008, ultrapassou-se a marca de 3.050 milhões.
Já no caso dos cinco anos contabilizados de Orlando Morando, a produção automotiva no Brasil avançou apenas 3,28%, passando para 2.248.253 registrados em 2021 ante os 2.176,784 milhões de 2016, ano anterior à posse do tucano na Prefeitura.
PIB RELATIVIZADO
Para se chegar ao ponto claramente mais elucidador de como está o PIB per capita de São Bernardo neste século em relação ao PIB per capita brasileiro, nada melhor e mais efetivo de que pegar os números pelo chifre da realidade do período.
E é nesse ponto que se constata o quanto o PIB de São Bernardo se enfraqueceu relativamente ao País. Sempre sob a métrica por habitante, não custa lembrar.
Em 2003, base do desempenho de William Dib a partir de 2004, a participação relativa do PIB per capita médio dos brasileiros representava apenas 39,83% do que a Capital Econômica da região dispunha ao confronto. O PIB per capita médio brasileiro de R$ 8,5200,00 estava bem distante do PIB per capita médio de São Bernardo, de 26.193,52.
Em 2008, último ano da Administração de William Dib, o PIB per capita médio de São Bernardo era de R$ 48.285,93, enquanto o PIB per capita médio brasileiro subiu para R$ 16,710,00. A participação relativa nacional baixou para 34,60% frente São Bernardo. Uma diferença claramente estabelecida pelo dinamismo temporal e breve do PIB per capita movido pela indústria automotiva na região.
Entre 2009 e 2016, temporada de Luiz Marinho na Prefeitura de São Bernardo, contabilizando o desastre Dilma Rousseff, a participação do PIB per capita médio dos brasileiros subiu para 58,60% frente o PIB per capita de São Bernardo.
Um salto extraordinário reprodutor da dureza do prélio da recessão muito mais grave vivida por São Bernardo e a região durante o período entre o segundo e o terceiro mandatos do PT em Brasília.
Já durante o período de cinco anos contabilizados da gestão de Orlando Morando, o PIB per capita médio dos brasileiros avançou para 61,23% do PIB per capita médio de São Bernardo.
Basta observar mesmo sem muita acuidade que está se estreitando cada vez mais a diferença favorável a São Bernardo no critério de PIB per capita ao se ter a média brasileira do outro lado do balcão.
Num balanço geral do período dos três prefeitos, o PIB per capita médio de São Bernardo passou por aumento de 2,51 pontos absolutos nos cinco anos de William Dib (0,502 pontos percentuais ao ano), mergulhou com perda de 24,00 pontos percentuais nos oito anos de Luiz Marinho (3,00% em média a cada ano), e caiu 2,63 pontos percentuais nos cinco primeiros anos de Orlando Morando (0,526% ao ano).
Num recorte mais amplo, chega-se à conclusão que, entre 2003 e 2016, período do PT em Brasília com Lula da Silva e Dilma Rousseff, a participação relativa do PIB per capita brasileiro avançou de 39,83% para 58,60% frente a São Bernardo. Isso significa 18,77 pontos percentuais, ou média anual de 1,34 pontos percentuais a cada temporada. Quase três vezes mais que a média de cinco anos de Orlando Morando.
PIB VULNERALIZADO
O terceiro vértice dessa análise abrangente e indispensável para determinar a tessitura lógica das atividades econômicas em São Bernardo e seus respectivos efeitos é uma métrica relacionada ao PIB Industrial, no caso o Valor Adicionado Industrial, também retirado de fontes oficiais.
A derrocada do PIB per capita de São Bernardo no período administrado pelos três prefeitos deste século em São Bernardo (Maurício Soares não conta porque ficou no cargo menos de três anos) se dá sobretudo porque a atividade produtiva sofreu duros revezes. O declínio vinha do passado, antes da virada do século, ganhou oxigenação artificial durante quase todo o governo de Lula da Silva e em seguida caiu estatelada.
O PIB Industrial representava 46,20% do PIB Geral de São Bernardo no ano anterior, 2003, à chegada de William Dib como prefeito de São Bernardo. Quando deixou a Prefeitura em 2008, durante o melhor período de Lula da Silva no Palácio do Planalto, o PIB Industrial de São Bernardo praticamente se manteve incólume em relação ao ano imediatamente anterior, com participação interna de 47,00%. Crescimento absoluto de 0,80 ponto percentual, ou 0,16 ponto percentual por ano.
O dilúvio dilmista nos oito anos de Luiz Marinho foi tenebroso. O PIB Industrial de São Bernardo, internamente, caiu para 24,20%. Portanto, uma queda de 22,80 pontos percentuais, ou média anual de 2,85 pontos percentuais. Quem chamar isso de destruição industrial não está exagerando.
Nos cinco anos de Orlando Morando, o PIB Industrial de São Bernardo subiu levemente de participação, para 28,40%. Um ganho de 4,20 pontos percentuais, ou 0,84 pontos percentuais a cada temporada. Portanto, acima de Luiz Marinho e também de William Dib.
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