Anote aí no caderninho de cidadania que você deve cultivar: é possível festejar o Dia do Trabalho no Grande ABC quando se tem, no balanço consolidado dos últimos nove anos, a perda líquida de 81.469 empregos formais da área mais nobre, setor industrial, total que equivale a 148 fábricas de empregos da Toyota, que recentemente deixou São Bernardo -- a unidade contava com efetivo de 550 trabalhadores.
Quer mais? A perda do PIB Industrial nos últimos oito anos equivale à soma de Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e Santo André, e ainda sobra um rabicho. A média de crescimento nominal, sem consideração a inflação, no Estado, é mais que o dobro.
E quando se coloca a inflação na contabilidade, trazendo para o presente os valores do passado, regredimos uma barbaridade, enquanto a média estadual se manteve estável. Trocando em miúdos: o veículo regional deu marcha-a- ré, enquanto o do Estado ao manter a velocidade, se distanciou. Somos um calhambeque sem combustível.
A desindustrialização renitente, portanto, é coisa nossa, inteiramente nossa, mas isso não tem importância alguma para quem só olha para o próprio umbigo ou para o bolso alheio, dos contribuintes sempre escorchados.
Decidi fazer esse novo balanço do emprego industrial da região porque a memória de muita gente é curta e o interesse público que deveria pautar as autoridades vai para o ralo a cada novo dia nesta temporada de votos.
TERCEIRA ONDA
Estamos vivendo em tempo real a terceira onda de desindustrialização do Grande ABC. Onda praticamente permanente, só interrompida, desde os anos 1980, no período de artificialismo de gastança do governo de Lula da Silva. Que Dilma Rousseff tratou de denunciar com pedaladas fiscais impichadoras.
Enquanto isso, instâncias supostamente regionais padecem do mesmo mal de sempre: estão indiferentes. Nada diferente, na essência, de instâncias públicas municipais.
Ou seja: a embarcação afunda sob olhares complacentes. Mais que isso: não faltam agentes públicos abusivos. Caso do prefeito Paulinho Serra, que se especializou em efeitos especiais de um marketing irresponsável. Proporcionalmente ao estoque, Santo André perdeu mais empregos industriais nesses nove anos, depois de São Caetano. Uma falsidade de comunicação que acaba por contaminar a sociedade como um todo.
Este é mais um Primeiro de Maio para entrar no calendário histórico da região como prova provada e insofismável de que somos uma sociedade em processo incontrolável de deterioração. Primeiro porque não contamos com autoridades públicas capazes de se organizarem coletivamente, porque o Clube dos Prefeitos segue sempre uma ilusão. Segundo porque a própria sociedade civil desorganizada, maltratada e enganada permanece em estágio de apoplexia, em gozo pelo sadomasoquismo imposto pelos podres poderes de plantão.
DADOS APURADOS
Agora, vamos aos dados econômicos para que se tenha a dimensão real, crua e nua do que se passa na região e, principalmente, para que não se demonizem aqueles que apontam os problemas e se protejam as lideranças em larga escala individualistas, insensíveis, quando não debochadas que imperam nesses 840 quilômetros de geografia e quase três milhões de habitantes.
Primeiro, tratemos dos dados sobre emprego industrial com carteira assinada no período que vai de primeiro de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2022, tendo como base dezembro de 2013. Em 2013 o Grande ABC contava com estoque de 258.550 trabalhadores industriais. Em 2022 passou para 177.081. Uma perda absoluta de 81.469 trabalhadores. E perda relativa em relação ao estoque de 2013 de 31,51%.
1. São Caetano foi quem mais perdeu. Passou de 27.534 trabalhadores industriais em 2013 para 14.193 em 2022. Queda relativa de 48,46. Queda absoluta de 13.341 postos de trabalho. Participação regional no estoque caiu de 10,65% para 8,01%.
2. Santo André passou de 34.726 para 23.430 carteiras assinadas. Queda relativa de 32,53%. Queda absoluta de 11.296 postos de trabalho. Participação regional no estoque caiu de 13,43% para 13,23%.
3. Mauá passou de 31.170 para 21.124 carteiras assinadas. Queda relativa de 32,23%. Queda absoluta de 10.046 postos de trabalho. Participação regional no estoque caiu de 12,05% para 11,93%.
4. São Bernardo passou de 98.827 para 69.431 postos de trabalho. Queda relativa de 29,75%. Queda absoluta de 29.396 postos de trabalho. Participação regional no estoque subiu de 38,22% para 39,20%.
5. Diadema passou de 56.471 para 40.286 postos de trabalho. Queda relativa de 28,66%. Queda absoluta de 16.185 postos de trabalho. Participação regional no estoque subiu de 21,84% para 22,75%.
6. Rio Grande da Serra passou de 1.491 para 1.075 postos de trabalho. Queda relativa de 27,90%. Queda absoluta de 416 postos de trabalho. Participação regional no estoque subiu de 0,58% para 0,60%.
7. Ribeirão Pires passou de 8.331 para 7.542 postos de trabalho. Queda relativa de 9,47%. Queda absoluta de 789 postos de trabalho. Participação relativa no estoque regional subiu de 3,22% para 4,26%.
MERGULHO DO PIB
Uma outra vertente do período analisado (faltam dados mais abrangentes dos anos anteriores) é o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto). Os resultados só não chegam ao ano de 2022 porque o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) só divulgará o PIB dos Municípios Brasileiros relativo à temporada de 2022 em dezembro deste ano. Por isso, o período está restrito a oito anos, de 2014 a 2021, com base em 2013.
E a situação da região é grave. Em termos nominais, ou seja, sem a aplicação da inflação do IPCA, índice oficial do IBGE, registramos apenas 28,77% ante uma inflação acumulada de 60,40%. Traduzimos: o PIB Industrial da região sofreu novo processo de emagrecimento. Enquanto isso, a média estadual dos paulistas, que envolve 645 municípios, avançou nominalmente 60,42%. Tradução: os municípios paulistas se mantiveram estáveis, sem avanço e sem recuo.
Para se ter a medida mais aproximada do rombo do PIB Industrial da região nos oito anos mencionados, basta uma conta simples: aplicar a inflação do IPCA ao resultado de 2013, base do cálculo. A região contava com PIB Industrial de R$ 29.900.081 bilhões e, em dezembro de 2021, chegou a R$ 38.503.718. Para que acompanhasse a inflação e, portanto, não acusasse golpe de perda, teria de ter atingido o valor de R$ 47.959.729 bilhões. A perda ponta a ponta é de R$ 9.456.011 bilhões.
O tamanho dessa sangria pode ser diagnosticado de forma prática. Pegue o PIB Industrial de 2021 de Ribeirão Pires (R$ 868.340 milhões), some ao de Rio Grande da Serra (R$ 162.026 milhões), e ao de Santo André (R$ 7.782.625) e se chega próximo do valor do PIB que o Grande ABC viu desaparecer no período de oito anos. E não há expectativa que não seja frustrante em se imaginar mudanças profundas nos anos subsequentes que vão aparecer nos próximos estudos do IBGE.
A participação estadual do Grande ABC caiu de 9,25% para 7,43% no PIB Industrial. Ou uma queda de 19,68%. O PIB Industrial do Estado de São Paulo em 2013 registrava R$ 323.072.408 bilhões, ante R$ 29.900.081. do Grande ABC. Na ponta da pesquisa, em 2021, o PIB Industrial paulista somou R$ 518.292.532 ante R$ 38.503.718 bilhões do Grande ABC.
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