Pela primeira vez nesta temporada vai ser possível, num mesmo final de semana, mais especificamente neste sábado, assistir aos jogos das três principais equipes da região. Como vou acompanhar o Santo André ante o Marília a partir das 16h no Estádio Bruno Daniel pela Série B do Campeonato Paulista, providenciarei a gravação do confronto das 17h do São Bernardo em Itu pela Série A e, encerrado o jogo na Vila Pires, corro para o Estádio Anacleto Campanella, onde vejo o São Caetano atrás da primeira vitória na Série B diante do Guaratinguetá.
Como assisti nos locais aos dois primeiros jogos do São Caetano, como vi os quatro jogos do São Bernardo pela TV e como só acompanhei pela TV o primeiro tempo da vitória do Santo André ante o Guaratinguetá, estou mais confiante para escrever sobre o que vi com os próprios olhos e de forma completa. Assistir a um jogo ao vivo no local é sempre melhor, mas não é uma ação que se esgota. A transmissão pela TV recolhe dados e reproduz lances que, por mais que atenção esteja concentrada, é praticamente impossível registrar ao vivo no estádio.
Vou dar um exemplo: o ângulo não me favoreceu no jogo de ontem no Anacleto Campanella (estava na cabine de imprensa) para afirmar ou negar a impressão de que o goleiro Luiz estava mal posicionado no lance da falta batida pelo jogador do Batatais e que decretou a derrota de 1 a 0 do São Caetano aos 37 minutos do primeiro tempo. Tivesse tido a possibilidade de recorrer à gravação, tudo estaria resolvido. Ouvi de alguns parceiros de trabalho, aos quais recorri no intervalo do jogo, que Luiz tanto falhou como foi traído pela abertura de espaço na barreira, por onde a bola teria passado.
Nesse tipo de jogada, nada substitui o olho eletrônico da plataforma televisiva, mas há também desvantagens no acompanhamento de jogos exclusivamente pela TV. Sei disso e por isso mesmo aguço os sentidos na amplitude da telinha para observar a movimentação dos jogadores sem a bola. É preciso reduzir a perda da visão periférica da TV.
Cuidados explicativos
O São Bernardo desta temporada não parece nada enigmático, embora não o tenha visto nos locais dos jogos. O São Caetano que vi ao vivo nos locais está muito mais apropriado à avaliação. Do Santo André, de apenas 45 minutos na TV, não ouso avançar em análises. Talvez após o jogo em casa neste sábado possa construir um desenho tático e técnico da equipe, mesmo reconhecendo que um jogo talvez seja pouco. Talvez, disse, porque há equipes que se desmancham em virtudes e em deficiências em pouco tempo.
Observando a tábua de classificação da Série B do Campeonato Paulista está claro que o Santo André com quatro pontos vive melhor situação que o São Caetano de duas derrotas. O time de Roberto Fonseca pareceu bem mais focado, bem mais concentrado, naqueles 45 minutos a que assisti na TV, do que o São Caetano de Nedo Xavier nos mais de 180 minutos vistos nos locais. A facilidade de se dissolver taticamente durante os jogos deveria pautar a preocupação do treinador do São Caetano. Tanto em Itapira como no Anacleto Campanella o time começou bem, transmitiu a ideia de que poderia deslanchar, mas bastou os adversários soltarem as manguinhas para a autoconfiança desabar. O São Caetano parece viver eterna síndrome da zona do rebaixamento.
Mas não é apenas esse o desarranjo do São Caetano. O meio de campo repete o rendimento médio do ano passado na falta de apetite ofensivo, com baixo nível de infiltração e de arremate. O lateral-direito Samuel Santos é uma boa opção, mas não pode centralizar as jogadas. O setor esquerdo ficou completamente isolado durante o primeiro tempo e, no segundo, com a substituição do titular e a improvisação do volante Rodrigo Thiesen só acrescentou cruzamentos à área, sem jogadas combinadas e sem linha de fundo.
Menos do que em Itapira
A decepção pela derrota ontem à noite para o Batatais vai além do resultado em si: o São Caetano regrediu quando se compara o rendimento médio com o apresentado em Itapira. O ataque perdeu a mobilidade que Danielzinho e Jackson exibiram durante pelo menos 60 minutos. Jackson está contundido e Jael, que volta de contusão, ficou o tempo todo entre os zagueiros, isolado e anulado. Danielzinho também jogou mais fixo pela esquerda e perdeu as duas únicas oportunidades de gol que apareceram. Anderson Pimenta entrou no segundo tempo, deu novo fôlego ofensivo mas logo ficou isolado dos companheiros e cada vez mais cercado de adversários. Deixá-lo no banco de reservas é uma heresia para um time que precisa de personalidade ofensiva. Faltam-lhe parceiros às jogadas de linha de fundo e de penetração em diagonal.
Parece muito cedo para qualquer interpretação enfática sobre as trajetórias de São Bernardo, Santo André e São Caetano neste primeiro semestre. O São Bernardo caiu na real de que tem limitações fundas após encontrar no Audax o antídoto que outras equipes poderão utilizar, principalmente a atenção para bloquear os contragolpes em velocidade e as bolas paradas. O Santo André – e essa é uma avaliação precária – sugere que sabe o que quer e o que quer vai além de simplesmente jogar com aguerrimento uma competição bastante equilibrada. O Ramalhão parece ter a dose certa de malandragem para encarar cada 90 minutos como se fosse um tabuleiro de xadrez. O São Caetano seria um lutador de sumô nos movimentos estudados, na impressão de que pode superar o adversário com arte e inteligência, mas em seguida cai em sono profundo e descuidado.
Vai ser muito bom assistir ao triplo programa futebolístico neste final de semana. Certamente, novas certezas e eventuais novas dúvidas vão surgir no horizonte interpretativo. Ou o leitor acha que fazer futebol é fazer pão?
Como ver futebol me consumirá pelo menos 4,5 horas neste final de semana, vou redesenhar o cronograma porque não abro mão de outras atividades, entre as quais o consumir insaciável de jornais e revistas.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André