Esportes

Série B: é cedo para definições e
árbitros influenciam nos resultados

DANIEL LIMA - 06/02/2014

Disputadas apenas quatro rodadas, ou 21% dos pontos, é muito cedo para definições sobre as quatro equipes que chegarão à frente na Série B do Campeonato Paulista e, com isso, integrarão a Série A no ano que vem. São Bento de Sorocaba (nove pontos), Velo Clube, Monte Azul e Santo André (todos com oito) ocupam o bloco dos melhores, mas nada garante que manterão posicionamentos. Ainda é começo de temporada, os ajustes estão sendo feitos, o condicionamento físico começa a dar sinais de vitalidade, por isso e por muito mais, inclusive porque ainda se fazem muitas contratações, o melhor é esperar para sentenças definitivas. Um ingrediente, entretanto, parece evidente: os árbitros da Série B são mais sensíveis às pressões dos times mandantes, sobretudo porque faltam os olhos mágicos da TV para fiscalizá-los. Até agora, os visitantes só ganharam 22,25% dos jogos.


 


É muito problemático estabelecer referenciais que provem que os árbitros da Série B são mais suscetíveis ao alarido da torcida, quando não a ações hostis. A diferença técnica e econômica entre as equipes da Série B Paulista é bem menor do que a Série A, a qual conta com a participação dos grandes clubes do Estado. Os confrontos numéricos sofrem distorções por conta disso. Por isso o melhor medidor mesmo é o acompanhamento dos jogos. E não é preciso mais que senso de observação para compreender as regras não escritas da competição: quem bate mais em casa conta com grau maior de tolerância da arbitragem. Exceto nos jogos em que a Federação Paulista de Futebol escala árbitros de primeira linha. Casos raros, por sinal.


 


Por essas e por outras o melhor mesmo é esperar pelas próximas rodadas. Quando a competição contar com pelo menos 50% dos jogos disputados será possível projetar com mais segurança que um determinado bloco de equipes poderá disputar uma das quatro vagas nas últimas rodadas. Como a Série B conta com fórmula inédita, com 20 equipes jogando em turno único entre si e se classificando à Série A as primeiras quatro colocadas, nem mesmo referencial histórico de pontos que assegurariam a classificação final poderá ser brandido. Ou seja: quantos pontos seriam necessários para se classificar pelo menos em quarto lugar na competição?


 


39 pontos são suficientes?


 


Pela tendência atual, disputadas quatro rodadas e levando-se em conta que três dos quatro primeiros colocados apresentaram índice de aproveitamento de 66,7% (e o Red Bull, quinto colocado, também chegou a essa marca, mas está fora do G-4 nos critérios de desempate), o que se pode lançar como ensaio de âncora numérica seriam 39 pontos ao final da competição -- ou 68,42% de aproveitamento.


 


Não se trata de índice inequívoco, inviolável. É apenas um farol que deveria ser levado em conta por todas as equipes que sonham em chegar à Série A. Pode ser e é muito provável que haja solavancos nas próximas rodadas, com subidas e descidas do índice de aproveitamento, mas nem assim se alteraria o conceito balizador à classificação: quem quer chegar lá precisa buscar o quanto antes essa marca. Quanto mais afastar-se, pior, porque a cada rodada o índice individual das equipes retardatárias seria elevado.


 


Um exemplo do que significa ficar para trás: o São Caetano conta com índice de aproveitamento de apenas 25% após quatro rodadas. Como disputará os dois próximos jogos em casa, pode somar novos seis pontos, chegar a nove e registrar aproveitamento parcial de 50%, ainda abaixo dos 68,42% atuais. Ou seja: está na hora de passar sebo nas canelas em busca de melhores resultados, senão a corrida mais curta do restante das rodadas exigirá velocidade maior de conquistas.


 


E é aí que mora o perigo porque uma recuperação extraordinária com vitórias seguidas num campeonato tão marcado pelo prevalecimento de resultados favoráveis aos times mandantes torna-se pouco provável. A Série B do Campeonato Paulista é uma competição por isso mesmo à parte do histórico de mais de uma década do São Caetano na Série A do Paulista e na Série B, antecedida de Série A, do Campeonato Brasileiro. Adaptar-se à realidade da competição é questão de sobrevivência. Mas isso não quer dizer que, ao contrário do senso comum, Série B se conquista com jogadores de segunda linha. Quanto mais qualificada uma equipe, melhor. Desde que não se esqueça de competir os 90 minutos como se a sobrevivência individual estivesse em risco.


 


Empate e derrota


 


O empate do Santo André em Rio Claro com o Velo Clube pode ser considerado uma vitória, porque não só ficou com apenas 10 jogadores no primeiro tempo como também porque o goleiro Saulo defendeu um pênalti. O Santo André parece ter-se adaptado rapidamente ao estilo da Série B ao montar uma equipe experiente e repleta de malícia. Um time que dita o ritmo que mais lhe interesse no jogo. Mas o excesso de cartões amarelos e vermelhos pode comprometer a estrutura tática da equipe que não tem no Estádio Bruno Daniel sempre com público inferior a mil torcedores fator de desequilíbrio.


 


Uma realidade de apoio popular um pouco melhor que a do São Caetano, equipe mais técnica mas que só agora, após quatro rodadas, parece ter caído na real da competitividade da Série B. A derrota de ontem à noite em Bragança Paulista para o Guarani por 2 a 0 foi, paradoxalmente, a melhor exibição coletiva do São Caetano. Com falhas ainda inquietantes no sistema ofensivo, com dificuldade de definir os titulares, o São Caetano só perdeu o jogo porque o Guarani foi igualmente vibrante, mais contundente e contou com ambiente de final de campeonato.


 


Os quase mil bugrinos que tomaram Bragança Paulista influenciaram na arbitragem mais condescendente com a virilidade excessiva dos jogadores de Campinas. Fosse o jogo no Brinco de Ouro de maiores dimensões, o São Caetano não teria sofrido as consequências ambientais. O Estádio de Bragança Paulista aproxima o torcedor do gramado e isso vale muito numa Série B. A impressão que o jogo deixou é que o Guarani não perdoou a derrota em casa para o São Caetano na Série B de 2012, na última rodada, resultado que decretou seu rebaixamento à Série C.


 


O São Caetano perdeu o jogo porque enfrentou um Guarani inspiradíssimo. E também porque se descuidou durante todo o primeiro tempo do lado direito do sistema defensivo, com avanços de Samuel Santos e dificuldades do zagueiro Fabinho em cobrir o espaço às costas. Foi por ali que o lateral Jefferson e o ponteiro Fabinho destruíram a marcação do São Caetano. Os dois gols começaram por ali. Quando corrigiu a marcação no segundo tempo, deslocando o volante Esley à direita da defesa, marcando diretamente Fabinho e dando ainda mais liberdade a Samuel Santos, o São Caetano não só equilibrou o jogo taticamente como passou a ter maior posse de bola.


 


Mas aí já era tarde. O Guarani, que marcou intensamente à frente no primeiro tempo, recuou a marcação no entorno da intermediária e impediu as penetrações centrais do adversário. O São Caetano voltou com dois atacantes mais volumosos em físico, o estreante Cássio e Marcelo Soares, e buscou nos cruzamentos uma cabeçada salvadora, ou mesmo um chute de fora da área de Wagner Carioca, mas o Guarani provou-se monolítico.


 


Um inacreditável gol perdido pelo zagueiro Fabinho no primeiro tempo, quando o Guarani vencia por 1 a 0, poderia ter alterado o rumo do jogo. Tudo como resultado de uma cobrança de falta combinada que mostra a evolução do São Caetano. Uma evolução ainda não suficiente para ameaçar mais constantemente a defesa adversária. Principalmente de um Guarani brilhante, exaustivamente marcador, rapidíssimo no contragolpe. Um time que, a repetir a exibição de ontem com frequência, não teria adversários na Série B. O São Caetano fez tudo que era possível, foi até melhor durante todo o segundo tempo e não fraquejou no primeiro, exceto nos descuidos à direita da zaga, e nem assim escapou da derrota.


 


No caso desse jogo em Bragança Paulista, a arbitragem foi de certa forma permissiva com a impetuosidade defensiva de alguns jogadores do Guarani, mas não decretou a derrota do São Caetano. O adversário foi mais incisivo. O São Caetano precisa de pelo menos uma opção de velocidade no ataque. Anderson Pimenta segue no banco de reservas. Escalá-lo é o melhor caminho para deixar o adversário inquieto do lado esquerdo da defesa. Como Fabinho, do Guarani, fez com o lado direito da defesa do São Caetano ontem.


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