Esportes

Provamos: jogar fora na Série B
Paulista é uma grande roubada

DANIEL LIMA - 07/02/2014

Escrevi ontem sobre o assunto e volto à carga hoje, mas provavelmente não faltarão pontos a abordar no futuro. Disse que jogar fora de casa na Série B do Campeonato Paulista é uma pedreira, que também pode ser entendida como roubada, por conta principalmente da suscetibilidade ambiental das arbitragens. Além disso, os homens do apito são muito inferiores tecnicamente e também disciplinarmente quando confrontados àqueles que atuam na Série A do Estadual. Escrevo e repito porque tenho visto os jogos. A incidência de incorreções técnicas e de tolerância disciplinar irrita.

 

Na Série B do Paulista, também conhecida por Série A-2, até a quarta rodada apenas 22,25% dos jogos foram vencidos por visitantes. Fiz contagem semelhante após seis rodadas incompletas (os jogos de ontem à noite não entram na estatística) na Série A e constatei que 34,54% dos jogos são vencidos pelos visitantes. Uma diferença de 35,58%.

 

Poderia argumentar com larga possibilidade de persuasão que nada está mais cristalino como suporte à interpretação que produzi do que os resultados da Série A do Campeonato Paulista. Poderia, mas não o faço, embora os utilize para consolidar mesmo que provisoriamente a certeza que estes olhos já captaram: independentemente do que as estatísticas confirmarem ou negarem, o pau come muito mais na Série B em favor dos mandantes, principalmente nos casos dos mandantes cujos torcedores são mais aguerridos, mais agressivos, mais tudo, e os estádios mais acanhados. Como ocorreu quarta-feira em Bragança Paulista no jogo entre o “mandante” Guarani e o São Caetano.

 

Grandes distorcem

 

Alertei no texto produzido ontem que comparar a Série A com a Série B do Paulista enseja a possibilidade de confrontar produtos diferentes, porque os grandes clubes do Estado estão lá, na Série A, a confirmar na maioria dos casos (o Corinthians que anda caindo aos pedaços é uma exceção à regra que em breve virará passado) a diferença que os separam dos médios e dos pequenos. Ou seja: Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos distorceriam os resultados que procurariam definir alguma comparação entre o índice de vitórias fora de casa na Série B e na Série A.

 

Pensando nisso, fiz outro cálculo sobre os 55 jogos disputados na Série A desta temporada (ou seja, ainda sem contabilizar os jogos de ontem à noite) e a diferença foi reduzida mas não nega o enunciado de que o pau come feio mesmo na Série B. Sem contar as vitórias dos grandes em jogos disputados foram de seus respectivos campos (cinco no total, das quais três do Palmeiras, uma do Corinthians e uma do Santos), o universo de vitórias dos visitantes seria reduzido a 14 jogos em 50, ou 28% dos pontos disputados. Uma  vantagem de 19% em relação às vitórias dos visitantes na Série B. 

 

Fosse, portanto, construir uma teoria simplista, apenas a título explicativo, diria que o peso das arbitragens caseiras sobre os visitantes na Série B é 19% superior ao peso das arbitragens nos jogos da Série A. Ainda mais: isso significaria que quem joga fora de casa na Série B de árbitros de segunda linha e, principalmente, sem os olhos eletrônicos das emissoras de TV para flagrá-los em delitos intencionais ou não, tem praticamente 20% menos possibilidade de sucesso do que as equipes da Série A. Noves fora os times grandes da praça.

 

Destrinchando ainda mais os resultados das duas competições, medi também o desempenho dos times mandantes e, também nesse caso, quem recebe na Série B leva a vantagem relativa de estar mais próximo das vitórias. Em 50% dos jogos da Série B os times mandantes fizeram os três pontos em cada disputa, enquanto na Série A, contando com os jogos dos times grandes, o índice chegou a 47,27%, ou 5,46% inferior. Retirando-se os jogos dos times grandes na Série A, o total de vitórias dos mandantes cairia de 26 para 16 num universo de 45 jogos, ou 34,78%. Quando se confrontam vitórias dos mandantes da Série A, sem contar os resultados dos times grandes, com as vitórias dos mandantes da Série B (34,78% versus 50%) a conclusão é que na Segunda Divisão de São Paulo os times da casa reúnem 30% mais possibilidades de saírem com os três pontos a cada noventa minutos em relação aos confrontos de pequenos e médios da Série A.

 

Mais devassadora

 

Mas há ainda, acreditem leitores e tenham um pouco mais de paciência, uma fórmula ainda mais devassadora e por que não mais apropriada para medir o tamanho da distância entre jogar em casa e fora de casa nas duas principais competições do Estado de São Paulo. Se forem contabilizados na Série A apenas os jogos entre pequenos e médios, como são todos os jogos entre pequenos e médios da Série B, o que chamaria de escândalo das arbitragens pró-mandantes na Série B estaria caracterizado sem sofismas. Sem contar os jogos de ontem à noite da Série A, foram realizados 33 confrontos entre pequenos e médios. Ou seja, sem a participação dos grandes. Nesse caso, que coloca muito mais próximo de situação de igualdade a disputa com a Série B, foram registradas 14 vitórias dos times mandantes (42,42%) e 30,30% dos visitantes (10 dos 33 jogos).

 

Ou seja: os jogos entre pequenos e médios da Série A são vencidos por mandantes em 17,87% oportunidades a menos que os jogos dos mandantes da Série B e, por conta disso, os visitantes da Série A alcançam a média de 30,30% de vitórias, ante 22,25% da Série B -- ou 26,56% mais possibilidades de sucesso.

 

Última tradução dos números entre semelhantes da Série A e da Série B: os visitantes da Série B começam os jogos em média com desvantagem de 26,36% em busca de vitórias em relação aos visitantes da Série A, e os mandantes da Série A iniciam os jogos com 17,87% de desvantagem em relação aos mandantes da Série B. O restante é composto de empates.

 

Como me conheço e sei que não vou parar por aqui, que vou perseguir esses números para fortalecer quase que empiricamente a teoria de que ser visitante na Série B é uma grande roubada, antecipo que outros ângulos ainda serão abordados, com e sem a contabilização dos times grandes da Série A. Retirá-los de confrontos estatísticos é uma forma de harmonizar o poderio técnico-econômico entre as equipes da Série A e as equipes da Série B. Isso quer dizer o seguinte: os times da Série A ficarão mais parecidos entre si e os times da Série B continuarão mais parecidos entre si. Daí, as diferenças evidentes no tratamento aos visitantes na Série B deverão escancarar-se nos números. Como as que apresento neste texto.

 

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