Esportes

Técnicos dorminhocos provocam
chuva de gols em São Bernardo

DANIEL LIMA - 06/03/2014

Quem relacionar o empate de cinco a cinco entre o São Bernardo e Rio Claro ontem à noite no Estádio Primeiro de Maio à beleza e à arte do futebol brasileiro merece ficar de castigo, joelhos sobre milhos. O jogo pela Série A do Campeonato Paulista só teve tantos gols, no placar mais extravagante da temporada, porque os técnicos Edson Boaro e Fahel Júnior foram incompetentes. Eles provavelmente dormiram à beira do gramado. A eles foram dadas de bandeja oportunidades de demonstrar um mínimo de arte no ofício de conduzir taticamente as equipes.


 


Fracassaram redondamente. O castigo atingiu mutuamente às duas equipes, que terminaram o jogo com menos possibilidades de disputar as quartas de final do estadual e também de se classificarem à Série D do Campeonato Brasileiro.


 


Faltou ao técnico do São Bernardo Edson Boaro um mínimo de cautela depois de a equipe terminar o primeiro tempo com vantagem de 3 a 1 e um jogador a menos: o volante Dudu foi expulso porque insiste em trocar a bola pela canela dos adversários. Qualquer treinador em noite razoavelmente lúcida teria voltado com o time diferente no segundo tempo. A vantagem de dois gols e a desvantagem de um jogador desenhavam um cenário lógico: o adversário iria se expor em busca de gols. Antídoto: um terceiro zagueiro ou um volante de contenção para reequilibrar o sistema defensivo, retirando-se da equipe um dos dois centroavantes escalados – preferencialmente o tosco Eliomar Bombinha, já que Careca é mais habilidoso e versátil. E muito contragolpe, claro.


 


O que fez o sonolento Edson Boaro? Manteve o time com um a menos e aberto defensivamente, sem poder de contra-atacar. Bastou o Rio Claro impor qualidades de jogadas por aproximação em velocidade que o São Bernardo não tem para enfiar 5 a 3 no placar em apenas 14 minutos.


 


Agora entra em cena o igualmente descuidado e soneca técnico Fahel Júnior, do Rio Claro: ele registrou a proeza de desperdiçar a oportunidade tática de enfiar uma goleada no adversário. Bastava, com um jogador a mais, trocar um meio campista mais liberal ou mesmo um atacante esgotado fisicamente por um volante de contenção ou mesmo por um terceiro zagueiro, e chamar à emboscada o adversário que partiu em busca da salvação. O que fez Fahel Júnior? Nada.  Mais que isso: o Rio Claro entendeu que o jogo estava resolvido, relaxou na marcação, ofereceu as laterais para o São Bernardo fazer o que mais sabe, ou seja, virar o jogo e cruzar na pequena área.


 


Mais erros duplos


 


Edson Boaro fez de tudo para enterrar de vez a cabeça numa noite de escorregões quando substituiu o lateral Rafael Cruz pelo meia-atacante Jean Carlo. Está certo que Jean Carlo foi jogar de lateral/ala pela esquerda e o lateral Eduardo foi deslocado à direita. Tudo que um adversário atento poderia explorar, porque, sem um volante de contenção e com a mexida nas laterais, o São Bernardo estava ainda mais entregue à derrota com o acentuar de dificuldades de posicionamento. Mas Fahel Júnior preferiu deliciar-se com a vantagem. Só não saiu derrotado porque teve sorte, já que o São Bernardo, no ritual pragmático de sempre, de correria e cruzamentos, por pouco não virou o jogo.


 


Até prova em contrário – e provas em contrário são exceção, não regra – um jogo com tantos gols não passa mesmo de pelada tática iluminada por algumas virtudes técnicas individuais. Times verdadeiros que se prezam não sofrem tantos gols. Principalmente no contexto dos 10 gols de ontem à noite no Estádio Primeiro de Maio, de oportunidades de estrangulamento desperdiçadas porque os técnicos pareciam dormir à beira do gramado.


 


Os cinco a cinco provavelmente serão um ponto fora da curva do São Bernardo num campeonato em que ainda nutre expectativa de sucesso, quer como eventual segundo colocado num grupo em que o concorrente maior é a Ponte Preta, derrotada em Bragança Paulista, quer como um dos dois paulistas a preencher vagas na Série D do Campeonato Brasileiro – o Botafogo de Ribeirão Preto ganhou em Sorocaba do Atlético e praticamente carimbou passagem ao calendário nacional, porque passou a ter vantagem de seis pontos sobre o São Bernardo.


 


Os três jogos que restam ao São Bernardo, dois em casa contra Mogi Mirim e Oeste e um em Bragança Paulista, são oportunidades para Edson Boaro provar que todo treinador tem o direito de cometer bobagens. Dez gols em 90 minutos para um time que apresentava até então média de 1,72 gol por jogo, contando os tentos favoráveis e contrários, pode ter sido um show de emoções, mas foi um monumento à estupidez. A recíproca a Fahel Júnior é verdadeira. 


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