O São Bernardo faz a melhor campanha da história na terceira participação na Série A do Campeonato Paulista, tem amplas possibilidades de classificação tanto às quartas de final da competição como à Série D do Campeonato Brasileiro, mas faz jogo de cena de que teria sido prejudicado pela Federação Paulista de Futebol tanto por conta da tabela como da distribuição de grupos.
É muito provável que o presidente Luiz Fernando Teixeira exercita a arte da dissimulação para, quem sabe, usufruir de favores ou de um ambiente motivacional ao elenco.
Na realidade, o São Bernardo é protegido pelos deuses do Olimpo porque tanto numa coisa quanto na outra – na tabela e na distribuição de grupos – contou com sortilégios.
Primeiro, uma análise da distribuição das equipes nos respectivos agrupamentos. O presidente Luiz Fernando Teixeira propagou antes de o campeonato começar que o São Bernardo caiu no Grupo da Morte, já que disputaria duas vagas no Grupo C com Ponte Preta, Santos, Portuguesa e Paulista. Uma verdade potencial, porque o Santos é grande-grande e a Ponte Preta e a Portuguesa são grandes-pequenos. Todos disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro do ano passado. O Paulista é um pequeno-médio. O São Bernardo um pequeno-pequeno.
O que o dirigente do São Bernardo escondeu, ou não ressaltou com ênfase semelhante, é que o pau que bate em Chico de classificação no grupo bate em Francisco de classificação à Série D. Explica-se: como o regulamento determina que as equipes de um mesmo grupo na Série A do Paulista não jogam entre si na primeira fase, o São Bernardo levou vantagem sobre os concorrentes dos outros grupos na luta por duas vagas à Série D do Brasileiro, os quais enfrentaram ou estão enfrentando Santos, Portuguesa e Ponte Preta.
Vida e Morte
Desta forma, se o grupo da Série A do Paulista em que foi metido o São Bernardo merecia o título de Grupo da Morte, com vistas ao Brasileiro da Série D tornou-se Grupo da Vida. E numa hierarquia de importância, exceto o título de campeão estadual, o que vale mesmo para o São Bernardo como projeto de solidez é chegar ao calendário nacional. A Série D do Brasileiro é uma porta pouco acessível, mas está aberta a dois paulistas nesta temporada.
Também reclamou o São Bernardo do presidente Luiz Fernando Teixeira que a tabela da Série A do Paulista (ou seja, a distribuição e a ordem de jogos) prejudica sua equipe. A justificativa: dos seis primeiros jogos, quatro foram fora de casa. Mais uma vez o dirigente escondeu o outro lado da moeda da competição: o São Bernardo é a única equipe entre as que disputam para valer uma vaga às quartas de final do Paulista e também à Série D do Brasileiro que teve a programação de três dos últimos quatro jogos em casa. Isso é uma vantagem e tanto, porque na medida em que teoricamente o favorece, complica a vida dos concorrentes. E dos últimos seis jogos, um processo inverso do começo do campeonato, porque jogará quatro em casa.
Responda rápido: é melhor jogar quatro das seis primeiras partidas fora de casa no começo da competição ou quatro das seis últimas em casa quando a competição está na reta de chegada? Sem nenhum receio de cometer erro de avaliação, é muito melhor a segunda alternativa. Início de campeonato é início de campeonato. Os níveis de estresse estão controlados, não há riscos de rebaixamento e nem luta encardida por uma classificação. A mala preta de premiações paralelas é desconsiderada. Qualquer competição começa a pegar fogo depois da metade do programado. Jogar com um Corinthians, como jogou o São Bernardo, em início de preparação, é uma coisa; jogar agora, com o time precisando classificar-se, é outra.
Muitos outros exemplos poderiam ser rebocados para explicar por que jogar em casa mais vezes numa etapa final da competição é mais vantajoso do que a desvantagem de jogar fora de casa no começo da temporada. Ainda mais que o São Bernardo organizado e planejado preparou-se como poucos, no segundo semestre do ano passado, para começar o campeonato a todo vapor. Como começou, aliás.
Vejam a situação oposta, do Rio Claro, que jogou três partidas em casa e três fora no começo do campeonato e, na reta de chegada, nas últimas seis rodadas, jogará terá jogado quatro vezes fora e somente duas em casa, ante um grande chamado São Paulo. Nem o argumento de que o São Paulo perdeu o interesse pela fase classificatória porque já garantiu uma vaga tem consistência, porque as grandes equipes querem não só a condição de cabeças de chave como, principalmente, acumular pontos para decidir mata-matas com o apoio da torcida. E o apoio da torcida majoritária em cada jogo só se dará se o adversário somou menos pontos.
Favoritismo às vagas
Até que a rodada deste meio de semana fosse realizada, o São Bernardo era um dos principais favoritos a uma das duas vagas à Série D do Brasileiro e levava vantagem perspectiva ante a Ponte Preta, embora em desvantagem na classificação. As rodadas que completariam a fase eram amplamente favoráveis ao São Bernardo como mandante de três jogos, nenhum dos quais, nem como visitante, ante um dos grandes do Estado. Já os demais concorrentes têm pelo menos um time grande no caminho e jogam no máximo duas vezes com o apoio da torcida.
Não fosse o desastroso empate de quarta-feira diante do Rio Claro em pleno Estádio Primeiro de Maio, o São Bernardo estaria iniciando os festejos de classificação dupla. Mas nem tudo que a tabela e o sistema de distribuição de equipes em agrupamentos classificatórios oferecem de bonificação são materializados em campo. Algo absolutamente natural. A chiadeira do presidente Luiz Fernando Teixeira cheira à encenação de quem tem ótimo relacionamento com as instâncias de poder esportivo e pretenderia, no fundo, no fundo, dar ressonância midiática aos lamentos para evitar qualquer tipo de ilação. Uma antiga arte do futebol que os mais experientes conhecem de sobra e, por isso mesmo, não costumam aceitar passivamente. Até mesmo para não passarem recibo de ingênuos.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André