A projeção de números finais da Série B do Campeonato Paulista continua cruel para o Santo André chegar à Série A e se tornou relativamente desconfortável para o São Caetano permanecer na competição no ano que vem. A derrota em casa para o União Barbarense por 2 a 0 acendeu de vez a luz amarela de risco do São Caetano. E a vitória do Santo André no Estádio Bruno Daniel por 3 a 1 diante do lanterninha São José acalenta perspectiva que alguns exageram na dose de otimismo.
Os índices de rendimento atuais indicam que o Santo André precisa ganhar 15 dos 18 pontos que restam a disputar para chegar aos 35 necessários à subida, enquanto o São Caetano deve somar pelo menos oito para chegar aos 21 que o livrariam do rebaixamento. Esses indicadores são potencialmente volúveis, mas a variação para mais ou para menos é estreita.
Aparentemente, apenas aparentemente, a situação do Santo André é de entusiasmo classificatório. Afinal, está a apenas quatro pontos do quarto colocado, o Marília (24 pontos contra 20 do Santo André). Acima do Marília estão o líder São Bento (27 pontos e saldo de nove gols), o Capivariano (27 pontos e saldo de cinco gols) e o Mirassol (25 pontos). Entre o quarto colocado Marília e o oitavo Santo André estão o Red Bull (24 pontos), Guarani (21) e Monte Azul (os mesmos 20 pontos do Santo André mas com cinco vitórias contra quatro da equipe da região).
Produtividade altíssima
Quatro pontos não dão a exata dimensão da classificação. O índice de aproveitamento é que traça perspectiva mais segura e confiável. Para chegar próximo aos 61,5% de aproveitamento do quarto colocado Marilia, mais precisamente a 60,41%, o Santo André precisa ganhar os três próximos jogos dos seis que restam e torcer para que tanto Marília, como Guarani, Red Bull e Monte Azul, que estão à frente, não registrem eficiência semelhante. Isso tudo significa que a baixa viabilidade de o Santo André chegar à Série A (15 pontos em 18 significam 83,33% de produtividade, ante 51,3% até agora na competição) aumentará ou reduzirá de acordo com o andar da carruagem de resultados agregados. Se o índice de produção do quarto colocado sofrer rebaixamento, a meta do Santo André será menos maratonista. Convém lembrar que não necessariamente o quarto colocado seria o atual ocupante da posição. Há concorrentes em seus calcanhares.
A situação do São Caetano é mais cômoda porque não existe outro objetivo no campeonato senão fugir da zona de rebaixamento, na qual voltou a ingressar na rodada do final de semana porque o Guaratinguetá goleou o Batatais por 4 a 0 no Vale do Paraíba. São José (sete pontos), Grêmio Osasco (oito) e Grêmio Barueri (10) completam a lista de rebaixáveis. Além do Guaratinguetá (14 pontos), o São Caetano joga para fugir do rebaixamento tendo os olhos postos também no Rio Branco (14), Itapirense (14), Velo Clube (15), União Barbarense (15) e até no Grêmio Catanduvense (16). Batatais (17) e Ferroviária (19) estão praticamente livres da ameaça.
Talvez 20 pontos não sejam suficientes para escapar da Série C do Campeonato Paulista. Na história da Série B jamais uma equipe caiu ao somar 21 pontos, a maioria que fez 20 também se livrou, mas como a fórmula de disputa foi alterada (agora se classificam os quatro primeiros diretamente à Série A, enquanto antes os oito primeiros disputavam mata-matas) é possível que haja alterações nas pontuações referenciais. Por isso 21 pontos são uma margem de segurança maior.
Crise de identidade
Talvez a melhor explicação para a péssima campanha do São Caetano na Série B seja o que seria chamado de crise de identidade tática. O time inicialmente dirigido por Nedo Xavier foi excessivamente clássico numa competição que exige transpiração permanente. Agora o time de Paulo Cezar Catanoce é essencialmente guerreiro, quando a competição também recomenda técnica. Resumo: o São Caetano saiu do oito aos 80 e não encaixa uma personalidade tática que confirme a qualidade individual do elenco.
Na derrota para o União Barbarense, no Estádio Anacleto Campanella, o São Caetano entrou em campo teoricamente com a melhor estrutura tática possível: quatro zagueiros (com os laterais subindo sempre), dois volantes (Fabinho e Esley para proteger a defesa e o segundo avançando campo adentro), dois meias de armação e ligação (Kleber e Danilo Bueno) e dois atacantes (o forte Paulão e o veloz Fabinho). Tudo conforme o figurino de quem pretende fazer prevalecer a técnica. Mas o São Caetano se perdeu com excesso de ansiedade, passes errados, pressa em demasia, baixa compactação e demora na construção de jogadas.
Mesmo com todas essas deficiências o São Caetano foi melhor no primeiro tempo, com pelo menos três oportunidades para marcar, mas se descuidou nos últimos 15 minutos ao deixar os costados do lateral Janilson livres demais para o veloz atacante Erick incomodar com penetrações em diagonal.
O segundo tempo foi um desastre total a partir de um chute de longa distância do atacante Amaral e uma indecisão do goleiro Luiz, provavelmente encoberto. O gol deu tranquilidade para o Barbarense explorar contragolpes. A expulsão de Luiz Eduardo aos 12 minutos, combinada com a assinalação de pênalti porque o bandeirinha observou que o zagueiro atingiu o centroavante adversário propositadamente na chegada da bola na pequena área, liquidou com as possibilidades do São Caetano. O Barbarense fez 2 a 0 na batida da penalidade.
Mais uma vez o técnico Paulo Cezar Catanoce transmitiu a ideia de que não conhece a fundo os jogadores. Ao voltar no segundo tempo com o segundo volante Anselmo no lugar de Kleber, Catanoce desmontou o potencial até então pouco explorado de interligação mais criativa entre o meio de campo e o ataque. Anselmo tem características diferentes das de Kleber, porque vem de trás, como segundo volante. A melhor opção teria sido a substituição de Fabinho, volante apenas marcador, recuando Esley, mais dinâmico, à frente da zaga e liberando Anselmo para avançar com a bola dominada. O São Caetano ficaria mais ofensivo e criativo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André