Santo André e São Caetano encerraram a disputa da Série B do Campeonato Paulista no último sábado sem comemorações: o Ramalhão venceu por 3 a 1 o clássico disputado no Estádio Anacleto Campanella mas a combinação de resultados não foi suficiente para chegar entre os quatro primeiros e disputar a Série A no ano que vem. O São Caetano só escapou do rebaixamento à Série C do ano que vem pela combinação favorável de resultados. O Santo André de resultados favoráveis quase recompensados vai virar pó, porque o calendário é de baixo estímulo às equipes que não constam do circuito nacional. Já o São Caetano terá de passar por mudanças a toque de caixa porque em menos de duas semanas estreia contra o Guarani na Série C do Campeonato Brasileiro.
O desmanche do Santo André é inevitável. Não há estrutura econômica para suportar a manutenção do elenco atual durante mais de sete meses. A disputa da Copa Paulista, competição praticamente sem valor e aberta a quem se dispuser a preencher o calendário estadual, é apenas um tapa-buraco. A reestruturação do São Caetano é inexorável, mas provavelmente não será radicalizada às vésperas da estreia na Terceira Divisão do futebol brasileiro.
Santo André e São Caetano são exemplos emblemáticos do que o futebol reserva de surpresas. Antes da Série B Paulista começar poucos acreditavam no Ramalhão e muitos depositavam fé no acesso do São Caetano. O que se deu em campo, com o Santo André disputando o acesso até a última rodada e o São Caetano caindo na tabela rodada após rodada, foi consequência principalmente dos cuidados gerenciais com a escassez e com a abundância.
Com um time praticamente na conta do chá, sem reservas aparentemente em condições de ser titulares, o Santo André ganhou corpo e alma porque passou por poucas mudanças individuais e por aperfeiçoamento coletivo. Já o São Caetano de elenco bem mais numeroso e supostamente competitivo em várias posições, jamais definiu os 11 titulares e, pior ainda, sequer, chegou a flertar com um esquema tático condizente com as características dos jogadores.
Treinadores explicam
O divisor de águas das duas equipes foi a troca de treinadores durante a competição, quando os resultados não se associavam aos planos de acesso. Roberto Fonseca foi substituído no Santo André por Vilson Tadei, que deixara a Ferroviária. A mesma Ferroviária que goleara o Santo André em pleno Estádio Bruno Daniel por 5 a 1. O Santo André acertou em cheio. Vilson Tadei fez operações táticas pragmáticas que estabilizaram a equipe num primeiro instante e a catapultaram à série de vitórias.
Nedo Xavier deixou o São Caetano porque não somava bons resultados por conta de não se adaptar à realidade da Série B Paulista, ele que é um treinador essencialmente clássico. A contratação de Paulo Cézar Catanoce, fora do mercado havia muito tempo, foi um desastre. Ele minou a evolução coletiva que Nedo Xavier deixara e piorou o encaixe tático. Fez ou tentou fazer do São Caetano um time de guerreiros.
A vitória do Santo André no clássico de sábado foi a essência dessas diferenças. O São Caetano não teve capacidade de neutralizar os pontos fortes do adversário e só não saiu do Anacleto Campanella goleado porque houve certa displicência dos atacantes do Santo André nos últimos 15 minutos.
O técnico Vilson Tadei deu um nó tático em Márcio Griggio. Tanto que o Santo André dominou três quatros do jogo. Em apenas um quarto (dos 25 até o final do primeiro tempo) o São Caetano equilibrou as ações com maior aproximação entre meio-campistas, mas insistiu em deixar Marcelo Soares isolado no ataque. O São Caetano saiu de um encolhimento tático total no primeiro tempo para uma operação camicase na etapa final. Só poderia mesmo ser derrotado.
Obras de laboratório
O primeiro gol do Santo André, aos 39 minutos com Nunes, é obra do laboratório de Vilson Tadei: o lateral-direito Ângelo avançou em velocidade rente à lateral, recebeu lançamento de Michel, do outro lado do gramado, nas costas do lateral adversário, Luiz Eduardo, foi à linha de fundo e cruzou na cabeça do atacante. O segundo gol seguiu o mesmo roteiro de preparação prévia: aos 26 minutos do segundo tempo, com o São Caetano todo ofensivo mas desorganizado na marcação, o falso ponta Chico, sempre deslocado às costas dos volantes, dominou livre e fez o passe preciso para Muller penetrar entre os zagueiros e chutar contra a saída do goleiro. O terceiro gol do Santo André, aos 33 minutos, foi outra obra pré-concebida: o São Caetano continuava adiantado e aparvalhado na marcação, Michel dominou no meio de campo e fez lançamento em diagonal para a entrada do lateral Renato Peixe, que só teve o trabalho de completar. Renato Peixe fez um gol que poderia ter marcado logo no começo do jogo, quando também sobrou livre ao penetrar em diagonal. O gol de Cássio, de cabeça, aos 35 minutos, amenizou o estrago do São Caetano.
O despreparo do São Caetano para marcar os principais pontos do adversário evidencia sérios problemas na comissão técnica. No caso específico dessa derrota, nada garantiria que, mesmo se preparando melhor o São Caetano obteria resultado favorável. O Santo André joga com pragmatismo, simplicidade e fluência. O coletivo bem arranjado torna as individualidades melhores.
No São Caetano, o individual se perde em meio aos desarranjos coletivos. Um time que oscila tanto durante uma competição, intermediando uma boa apresentação como a do empate em Araraquara com vários jogos sofríveis, como o de sábado e os anteriores contra Grêmio Osasco e São José, por exemplo, não pode aspirar mesmo grandes resultados.
Calendário malvado
Pois é esse São Caetano a ser remontado que vai estrear em duas semanas na Série C do Campeonato Brasileiro num agrupamento de 10 equipes complicadíssimas, porque dividirá a luta pelo acesso ou pelo rebaixamento com outros três paulistas (Guarani, Guaratinguetá e Mogi Mirim), três cariocas (Duque de Caxias, Macaé e Madureira), dois gaúchos (Caxias e Juventude) e um mineiro (Tupi). Essas equipes vão jogar entre si em dois turnos e os quatro primeiros seguem na disputa de mata-matas com os melhores do outro agrupamento, que reúne equipes de outras regiões brasileiras. Os dois últimos colocados da fase classificatória serão rebaixados à Série D, ou Quarta Divisão, última etapa à eliminação do calendário nacional.
Caso do Santo André que, tivesse ainda no circuito, precisaria de poucos reparos para jogar com possibilidades de obter grandes resultados. Afinal, o que a equipe tem de melhor é o conceito de que não se faz nada sem coletivismo associado a um arsenal tático azeitado. Algo que Vilson Tadei incorporou ao grupo quando chegou e tomou as providências necessárias: a centralização de Nunes como centroavante, a retirada de Renato Peixe do meio de campo, deslocando-o à lateral, os deslocamentos de Chico e de Muller às costas dos volantes para confundir os adversários e abrir espaços às penetrações dos laterais, e posse de bola indispensável para um time com elevada média de idade. Com Vilson Tadei o Santo André ganhou 72,72% dos pontos disputados (sete vitórias, três empates e uma derrota), índice superior ao do Capivariano, o primeiro colocado. Com ele, Nunes saiu de apenas de um gol para 10, tornando-se artilheiro do campeonato. O saldo de gols era um negativo e passou a oito positivo.
O Santo André reconheceu-se preparado para jogar um futebol simples e funcional na Série B Paulista e só não chegou entre os quatro primeiros porque demorou para perceber que empatar demais é um mau negócio: foram oito dos 19 jogos. Perder 10 pontos em casa pesou muito também. Mas a campanha na reta de chegada foi espetacular. O milagre do acesso quase virou realidade, mas mesmo ganhando 15 dos últimos 18 pontos disputados, acabou morrendo na praia. Uma competição de tiro curto como a Série B Paulista,, assim como a Série A, costuma punir oscilações. O Corinthians ficou seis jogos sem vencer na Série A, reagiu mas perdeu uma vaga às quartas-de-final.
Rodada dramática
A rodada final da Série B Paulista foi tão dramática quanto esperada. Afinal, nada menos que oito dos 10 jogos disputados no mesmo horário decidiam a sorte de 13 equipes que ainda não haviam garantido o acesso ou o descenso. As duas vagas a preencher o quadro dos novos integrantes da Série A do ano que vem ficaram para o Marilia (venceu o Guaratinguetá no Vale do Paraíba por 1 a 0) e para o São Bento (venceu o Catanduvense por 2 a 0 em Catanduva). O Mirassol também venceu (3 a 0 em casa, diante da Ferroviária de Araraquara), mas acabou sobrando no primeiro critério de desempate: ganhou 10 jogos contra 11 do Marília, que somou 36 pontos ganhos. O São Bento fez 37. O Santo André jogava com três alternativas de acesso, desde que vencesse o São Caetano. A vitória não adiantou porque todos os adversários na disputa das duas vagas restantes também venceram. Dois precisariam perder.
O São Caetano foi salvo do rebaixamento pelo gongo, depois de terminar o primeiro tempo na Série C. Contou, no final, com uma das quatro alternativas combinadas em caso de derrota no clássico regional. Se empatasse, teria outras quatro alternativas associadas para não descer. Só não dependeria de terceiros se vencesse o Santo André. O Grêmio Osasco perdeu de 3 a 2 para o Monte Azul no Interior, o Grêmio Barueri foi derrotado pelo Red Bull por 3 a 1 em Campinas e o Itapirense perdeu de 3 a 1 do Capivariano em Capivari. Se um dos três times derrotados somasse três pontos, o São Caetano estaria rebaixado. Outra equipe contra a qual o São Caetano torceu escapou da queda: o Rio Branco foi a Campinas e venceu o Guarani por 3 a 2. O que salvou o Azulão, além de uma vitória de virada do Monte Azul contra o Osasco, foi principalmente a disputa pelo título da competição de duas equipes (Capivariano e Red Bull) que enfrentaram dois dos ameaçados (Itapirense e Grêmio Barueri). O Capivariano fez 40 pontos como o Red Bull, mas comemorou o título por ter conquistado uma vitória a mais – 12 contra 11.
A Série B do ano que vem vai ter oito novos integrantes. Os quatro rebaixados da Série A (Atlético Sorocaba, Comercial, Oeste e Paulista de Jundiaí) e os quatro primeiros da Série C, que ainda não estão definidos.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André