Esportes

O que será do São Caetano nas 12
rodadas que restam na Série C?

DANIEL LIMA - 11/06/2014

O novo técnico do São Caetano, que assume nesta segunda-feira, quando o elenco volta de férias excepcionais de 15 dias por conta da Copa do Mundo, vai ter dois desafios para tentar evitar  rebaixamento à Série D do Campeonato Brasileiro. Primeiro, terá de definir um time titular que seja mais competitivo e organizado que a indefinida equipe herdada de Vilson Tadei após os seis primeiros jogos (e cinco derrotas) da competição. Segundo, terá de contar com planejamento que coloque em primeiro plano a fuga das duas últimas e fatais colocações. 


 


Paulo Roberto é chamado de Luxemburgo do Interior, uma referência de duplo valor, não necessariamente convergentes: seria um tático capaz de mudar um jogo e também um motivador pronto para espantar qualquer crise, mesmo que rescaldos apareçam no dia a dia dos treinamentos. Paulo Roberto é um técnico de resultados, de eficácia e não compulsoriamente de eficiência. Ou seja: nem sempre escolhe o caminho mais suave para chegar aos resultados de que a equipe precisa. 


 


Certo mesmo é que qualquer comparação entre o técnico que entra e o técnico que sai vai encaminhar definições que fogem a qualquer paralelismo: Vilson Tadei é menos intenso, mais metódico e pouco surpreendente durante os 90 minutos. Paulo Roberto é polêmico, personalista, convicto até a raiz do cabelo nas definições individuais e coletivas. Tanto ele quanto Vilson Tadei são vencedores em competições de acesso. Na última Série B do Campeonato Paulista Paulo Roberto levou o São Bento de Sorocaba à Primeira Divisão e Vilson Tadei fez campanha extraordinária com o Santo André, no qual, embora  ganhasse 72% dos pontos disputados, não chegou entre os quatro primeiros.


 


Estilos diferentes


 


O confronto de estilos e de resultados entre Vilson Tadei e Paulo Roberto, portanto, não é destacadamente favorável ou contrário a qualquer um dos dois. Mas como remédio e veneno, o que o primeiro deixou de dívida classificatória (penúltima colocação entre os 10 integrantes do Grupo A) e tática-organizacional no São Caetano (um time sem definição de titulares e de esquema tático) pode virar legado do segundo.


 


Futebol não é ciência exata, como se sabe. Não existe fórmula mágica. O vilão de hoje pode ser o herói de amanhã. A recíproca é verdadeira. O que os dois treinadores têm em comum e que absolveriam preliminarmente a direção do São Caetano de definições depreciativas quanto à escolha do comandante do elenco na Série C é que saíram vitoriosos da última competição, a Série B Paulista.


 


Talvez a contratação de Paulo Roberto seja a terapia mais indicada para o raquitismo de um São Caetano que ganhou uma pausa providencial de 49 dias até voltar a campo ante o Guaratinguetá. Os pouco mais de 30 dias que Paulo Roberto terá para reorganizar a equipe parecem tempo suficiente para uma lufada de esperança.


 


O treinador que está chegando deverá mostrar as digitais de estrategista mas não pode perder de vista que o São Caetano não terá escapatória senão jogar para não ser rebaixado à Série D. Sonhar com o G-4, que levaria à fase de mata-matas, pareceria exagero. Tanto que poderia implicar em escolhas autofágicas durante a competição que resta. Escolhas autofágicas são, por exemplo, desprezar um empate razoavelmente satisfatório numa situação de jogo fora de casa e arriscar mudanças em busca da vitória.


 


Um ponto faz falta


 


Ganhar um ponto em empate fora de casa parece pouco em determinadas circunstâncias, mas quando se constata que além do acréscimo de pontuação própria o adversário não amealha três vezes mais, o resultado pode fazer a diferença no final da competição. O São Caetano estaria a apenas dois pontos do Macaé (atualmente, três pontos contra oito) se não fosse ao ataque no final do jogo disputado naquela cidade do Rio de Janeiro e sofresse o gol de 1 a 0 nos minutos finais em jogada de contragolpe.


 


Se a projeção para a classificação à segunda fase da Série C no Grupo B do Campeonato Brasileiro prevalecer nas 12 rodadas que faltam, o São Caetano precisará de 61,11% dos pontos para escapar do rebaixamento. Hoje, a primeira equipe fora do Z-2, a zona de descenso, é o Guarani. Com oito pontos em 18 disputados, o time de Campinas soma aproveitamento de 44,44%. Esticando-se o índice, chegaria a 24 pontos ao final de 18 rodadas. Nesse caso, o São Caetano teria de chegar a 25 pontos para não depender de critérios de desempate. Ou seja: como tem apenas três, precisaria de outros 22 em 36 a disputar, o que significa 61,11% de aproveitamento.


 


É muito provável que não será preciso tantos pontos. O índice de aproveitamento do antepenúltimo colocado deverá baixar, mas é melhor construir um cenário de alarmismo. O baixo rendimento do São Caetano e também do Duque de Caxias, os dois últimos colocados, colabora para a definição da marca de corte do rebaixamento. Quanto menos pontos os dois últimos colocados somar, mais se consuma a margem de segurança de pontuação do antepenúltimo. Qualquer melhora relativamente forte das duas equipes deverá alterar os números.


 


Limite de 30 pontos


 


A projeção para quem pretende disputar a próxima fase, classificando-se entre os quatro primeiros, não se descola demais da faixa de fuga do rebaixamento. Após seis rodadas, levando-se adiante os 10 pontos do quarto colocado Tupy de Juiz de Fora, seriam necessários 30 pontos ao final da competição para festejar classificação à fase seguinte. O São Caetano só chegaria ao G-4 se ganhasse 75% dos pontos. Nem o Mogi Mirim, 13 pontos acumulados em 18 disputados, chegou a tanto em seis jogos. Conta com aproveitamento de 72%.


 


Se o ambicioso traçado de pontos que o São Caetano deverá percorrer não pode ser deixado ao deus-dará, ou seja, precisa mesmo de uma proposta que divida os 12 jogos restantes em minitorneios, com as respectivas metas de produtividade, a escolha do time-base que deverá perseguir esse objetivo é decisiva. Paulo Roberto receberá nesta segunda-feira um elenco que ao disputar as 11 funções de titulares só contou com três jogadores praticamente intocáveis nas primeiras seis rodadas: o lateral Renato Peixe e os volantes Ramalho e Esley. Outros dois passaram a sugerir que entrariam nesse grupo, no caso o goleiro Saulo, que veio do Santo André, e o zagueiro Sandoval, que disputou a Série B pela Ferroviária de Araraquara. Mais da metade do time está em aberto.


 


Como jogará o time de Paulo Roberto? Se pretender mesmo ganhar os pontos de que a equipe precisará não poderá cometer os erros  de avaliação do antecessor. Jogar sem um primeiro volante, um meia de articulação e um centroavante é flertar demais com o imponderável. Vilson Tadei insistiu demais nessa fórmula. Chegou a escalar três segundos volantes numa mesma equipe (Esley, Anselmo e Ramalho), mas nenhum primeiro volante (Rodrigo Thyssen, Moradei e Leandro Carvalho são especialistas na função). Também jogou sem o único armador de que dispõe o elenco (Kleber) e testou dois centroavantes de área (Giancarlo e o reforço recém-chegado Laércio), além de também ter optado por uma equipe sem um especialista entre os zagueiros, na derrota no Rio de Janeiro para o Madureira.  


 


Mais de meio time aberto


 


Paulo Roberto vai contar com a vantagem de que mais da metade do time não tem titulares definidos e sacramentados. Caberá a ele, durante os treinamentos, fazer as melhores escolhas. O sistema 4-2-3-1 parece o mais indicado tendo em vista o estoque de valores de que disporá. Kleber é o único pensador do meio de campo, mas tem-lhe faltado mais ritmo de jogo e principalmente alguém que lhe repasse motivação. Disputou nesta temporada algumas ótimas partidas, principalmente com o técnico Nedo Xavier. Saiu machucado, trocou-se o técnico e o passado recente de atuações acabou esquecido e ele passou a constar do banco de reservas. Cacá, meia-atacante que veio do Santo André, completaria com um primeiro volante de verdade e Ramalho um meio de campo de peso. Esley pode aumentar o volume de marcação do setor jogando como falso ponteiro em situações que exigem mais cuidados defensivos.


 


O que mais causa espanto nos adversários do São Caetano é o contraste entre os valores individuais e a tábua de classificação. Não existe lógica aparente. A melhor explicação é que o São Caetano carece de encaixe tático resultante da melhor combinação técnica individual. Encaixe tático é uma associação de valores, desde capacidade de compactação defensiva e ofensiva, passando por mobilidade, arsenal de bolas paradas, equilíbrio de rendimento ao longo de cada jogo, entre outros vetores. O São Caetano de Vilson Tadei não foi diferente do São Caetano de outros treinadores: sempre deixa a expectativa de que vai desabrochar, mas acaba se fragilizando. Praticamente não disputa três partidas seguidas que transmitam a confiança de que finalmente engrenou. Caberá a Paulo Roberto resolver esse enigma.


 


Talvez a medida mais sensata seja não inventar funções para as quais os jogadores não estejam habilitados. Há certos conceitos no futebol que valem em qualquer lugar e situação. Por isso as escolhas devem considerar um plano de metas. E até prova em contrário o plano de metas do São Caetano é fugir do rebaixamento. E time que quer fugir do rebaixamento e está em situação emocionalmente frágil não pode subestimar um sistema de marcação forte. Não se sai do inferno sem extremos cuidados.


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