Esportes

Jornalista britânico denuncia:
Fifa quer ver o Brasil campeão

DANIEL LIMA - 16/06/2014

Quero ver como vão reagir os colunistas esportivos independentes, poucos por sinal, diante de nova denúncia do jornalista britânico Andrew Jennings, incensado por todos eles pelo combate à corrupção na Fifa. Desta vez o também autor de “Jogo Sujo – O Mundo Secreto da Fifa” - mexe com os interesses emocionais verde-amarelos. Isso significa, como tem provado a história, que a “pátria de chuteiras” pauta a agenda de ética mesmo dos profissionais mais exemplares. Será que vamos ter um silêncio constrangedor? Tomara que não imitem o quase generalizado silêncio constrangedor na Província do Grande ABC, onde Fifas de diversas áreas agem sem o menor pudor, elegendo vencedores e vencidos.


 


Em longo e precioso artigo ao jornal Estadão, no Caderno Aliás, o também repórter investigativo Andrew Jennings afirma que a Fifa tem todo interesse em ajudar o Brasil a ser campeão do mundo. O jogo de estreia – e agora o comentário é deste jornalista – deu provas disso. O pênalti que Fred cavou e a Rede Globo tentou transformar em dúvida aos pobres telespectadores durante o Jornal Nacional do dia seguinte foi apenas um dos muitos erros da arbitragem em 90 minutos – todos favoráveis ao escrete nacional, de futebol muito abaixo da expectativa. Os erros discretos, que os torcedores comuns não enxergam, costumam provocar estragos continuados que esgotam as energias e o equilíbrio emocional dos adversários. E assim o foi durante os 90 minutos.


 


Mas vamos a alguns trechos do texto preparado pelo jornalista, roteirista e escritor britânico no que se refere às possibilidades de a Seleção Brasileira ser campeã deste Mundial:


 


 Caso Sepp Blatter (presidente da FIFA) queira sair inteiro do aeroporto do Galeão, o Brasil precisa ser campeão da Copa do Mundo. Por isso, se Neymar, Fred ou Hulk quebrarem a perna ou se Marcelo sofrer um mal súbito como ocorreu com Ronaldo em 1998, não há motivo para preocupação. Por pior que seja o desempenho da seleção nos campos, Blatter tem muito poder sobre o resultado. No passado, alguns juízes das partidas não passaram de fantoches interessados apenas em viajar pelo mundo, receber quantias vultosas e participar de intercâmbios culturais nos bordéis do tipo em Seul em 2002, demonstrando que nada tem a aprender com os criminosos responsáveis por resultados arranjados que ele tanto gosta de criticar. (...). Se a seleção não for capaz de avançar por mérito próprio, os juízes de Blatter resolverão o problema. Ele é mesmo um grande presidente!(...). Jornalistas como eu, que revelam como ele (Blatter) e seus associados subornam funcionários menos ricos na África e na Ásia, são denunciados como “racistas”. Ele não tem limites. Sem nenhum constrangimento, mais dinheiro é doado aos gananciosos funcionários para que comprem votos para Blatter. (...) O Parlamento suíço deve anunciar que, antes do fim do ano, a Fifa deve usar os grotescos lucros obtidos no Brasil para tornar tudo disponível na web. Registros de reuniões, votações nominais, recibos de despesas, pagamentos “especiais” autorizados por Blatter e, especialmente, o grande segredo da Fifa: a quantia que ele recebe como salário e as bonificações que atribui a si. Na rede podemos descobrir as atividades de nossos governos. A imensa corrupção comandada por Blatter contra o esporte das multidões só pode ser reparada com uma transparência proporcional. Se a Fifa não atender a essa demanda, será necessário expulsá-la do palácio de vidro e mármore nas colinas nos arredores de Zurique.


 


Esperando por Kfouri


 


O jornalista Juca Kfouri, a quem admiro, não perderá, certamente, uma oportunidade de ouro para avaliar o artigo do britânico. Vejam o quanto Kfouri admira o trabalho do jornalista e escritor que atazana a vida dos cartolas da Fifa:


 


 Recebi depois do almoço, da Panda Books, o novo livro de Andrew Jennings, o jornalista britânico que, em suas reportagens na BBC, foi fartamente responsável pela elucidação do escândalo da falência da ISL, a mega-agência de marketing esportivo da Fifa, e pela consequente desgraça política da dupla João Havelange/Ricardo Teixeira. O “Um Jogo Cada Vez Mais Sujo” tem 238 páginas e, estarrecido, ainda estou na 80a., sete capítulos lidos, outros 14 a serem lidos. Estarrecido mesmo que o assunto não me seja nada estranho, ao contrário. Trata-se de mais uma história muito bem contada e com especial interesse aos leitores brasileiros, não só porque esmiúça os mal feitos da dupla nacional como porque a nossa Copa do Mundo é protagonista -- escreveu Juca Kfouri em maio deste ano.
 
As Fifas da Província
 
Quando escrevi antes da Copa do Mundo começar que não consigo torcer pela Seleção Brasileira no mesmo nível de vibração que dedico ao meu time do coração apenas expressei um fundamento emocional que se espalha por milhões de torcedores. A diferença é que a maioria prefere ser discreta ou politicamente correta. Vejo a Seleção Brasileira como um time qualquer. Na Copa do Mundo de 1970 saí à farra madrugada adentro.
 
Os interesses econômicos e políticos aumentam na medida em que mais dinheiro frequenta os corredores das organizações esportivas. Se no mundo dos negócios e da política, principalmente no Brasil, a impunidade grassa, o que dizer do esporte, território livre ou quase livre para uma invasão permanente e insidiosamente suspeita? Há inclusive na Província do Grande ABC recentes exemplos de escuridão absoluta na gestão de clubes profissionais, dependentes de favores exagerados do Poder Público, como é o caso do São Bernardo Futebol Clube do candidato a deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, como também da chamada nova sensação regional, o Água Santa de Diadema, cujos recursos financeiros à manutenção da máquina de vitórias trafegam a léguas de distância da transparência.
 
A Fifa é comprovadamente um exemplar de poder paralelo que incentiva toda a cadeia esportiva mundial a projetar-se num ambiente de dúvidas, quando não de clareiras enormes à investigação das instituições competentes. Mas o que esperar dessas instituições que mal têm estrutura para alguns casos de roubalheiras públicas em combinação com empresários predadores?
 
A Província do Grande ABC tem várias Fifas, subdivididas em várias especialidades como o mercado imobiliário, as pastas de saúde, as pastas de educação, as pastas de obras e tantas outras pastas. Somos uma gigantesca Fifa à espera de ações mais incisivas, regulares e escarafunchadoras do Ministério Público.  


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