Uma semana após divulgar pelo endereço privativo do Clube dos Especuladores Imobiliários (Acigabc) que seu conglomerado empresarial ganhou um prêmio de uma revista da Capital, o marketing promocional do empresário Milton Bigucci sofreu duro revés. Nada mais constrangedor. Quem entregou a premiação a Milton Bigucci foi o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, um dos corruptos apontados pela revista Veja deste final de semana em novo desdobramento dos escândalos que envolvem a Petrobrás sob o comando do PT.
Nada mais emblemático do que a mão do destino para colocar os pingos nos respectivos is. Edison Lobão, um novo (ou não seria tão novo assim?) corrupto, entre tantos da base aliada do governo federal, forma dupla inusitada com o presidente da MBigucci, tal qual Pato e Ganso no São Paulo -- embora com significado diametralmente oposto.
Criancinhas poderiam acreditar que Lobão e Raposão são ocupantes de zoológico. Afinal, se Lobão é Lobão no próprio nome de batismo, de pai e mãe, com o qual fez carreira política que espelha bem as facilidades no mercado de voto no País, Milton Bigucci é Raposão, segundo os amigos mais próximos e os inimigos que se multiplicam. Raposão porque a estatura física e a desenvoltura nos negócios o remetem a álbuns de figurinhas não necessariamente carimbadas.
Lobão e Raposão só poderiam mesmo se encontrar num ambiente festivo. Não se conhece bem os critérios da premiação “As Melhores da Dinheiro 2014”, da revista Isto é Dinheiro, da Editora Três. Sejam quais forem e por mais consistentes que possam ser, a escolha da MBigucci entre três dezenas reunidas em noite de festa no Citibank Hall, em São Paulo, registrou uma imprecisão monumental. Eleita a Melhor Construtora de Capital Fechado do Brasil, a MBigucci provavelmente concentra todos os atributos divulgados pela assessoria de imprensa de Milton Bigucci quando se trata de desempenho dos negócios e justificativa ao troféu. Menos um, clamorosamente citado no material promocional: responsabilidade social.
Herodes e as crianças
Com a folha corrida de inúmeros escândalos e irregularidades, é impossível vincular a MBigucci a qualquer ação social a ponto de merecer destaque como símbolo a ser invejado. Denunciada pelo Ministério Público do Consumidor de São Bernardo como campeã de abusos contra a clientela, a MBigucci jamais poderia constar de qualquer relação séria que considere o tema. Correlacionar a MBigucci à responsabilidade social é destinar a Herodes a função de salvar criancinhas.
Lobão e Raposão poderiam ter se encontrado e festejado a premiação da MBigucci porque em outros quesitos apontados a empresa com sede em São Bernardo apresenta desempenho bastante satisfatório. Além dos méritos de empresário que os mesmos adversários e inimigos que o chamam de Raposão não negam, embora lhe façam restrições, Milton Bigucci não pode ser desprezado como agente político sem pasta. Suas andanças pelos corredores dos poderes públicos são produtivas. Mas também lhe dão muitas dores de cabeça. A MBigucci faz parte da imensa lista de empresas corruptas que vampirizaram os cofres da Prefeitura de São Paulo juntamente com a Máfia dos Fiscais. As dobradinhas entre empresários e fiscais culminaram no encolhimento do ISS e do IPTU.
A repercussão da premiação da Isto é Dinheiro determinada por Milton Bigucci para abafar o pesadelo de ter sido descoberto e desmascarado como agente capitalista de braços dados com bandas podres dos poderes públicos provavelmente provocará efeito contrário. O marketing durou pouco e se transformou em tiro no próprio pé.
Resultado natural
Quem poderia imaginar que justamente o ministro de Minas e Energia badaladíssimo como agente que entregou a Milton Bigucci o troféu da Editora Três estaria metido nas lambanças da Petrobrás? Apenas quem desdenhou da possibilidade do ex-executivo da maior empresa brasileira, Paulo Roberto Costa, desistir de botar a boca no trombone para a Polícia Federal em delação premiada que estremece a política brasileira. Seria praticamente impossível, conhecendo-se como se conhecem as práticas obscuras dos agentes políticos incrustados nas máquinas estatais por força de acordos partidários, desprezar a imersão de Lobão no lodaçal da Petrobrás.
Quem conhece bem as regras de qualquer poder vinculado à composição de maiorias parlamentares não tem dúvidas em afirmar que atrás de cada chefia graduadíssima existe um potencial imensurável de corrupção.
Está certo que o Raposão não deu sorte de ter o Lobão como padrinho de premiação. Não se sabe se foi escolha aleatória, dessas que se improvisam na hora, ou previamente combinada. Seja lá o que for o fato é que a MBigucci deu com os burros nágua depois de chamar para si, dia seguinte ao evento, a divulgação da conquista.
A expressão “Deus escreve certo por linhas tortas” talvez seja inapropriada como apêndice ou simbologia da dupla Lobão e Raposão no centro do palco daquela casa de espetáculos da Capital. Quem sabe “Juntou a fome com a vontade de comer”, menos rebuscada e bíblica, seja mais didática e autoexplicativa? Também há alternativa adaptada de que “os iguais se atraem”. Façam suas escolhas.
De qualquer forma, por vontade do destino ou por obra de Deus ou do Demônio, o encontro público entre Raposão e Lobão preservou a idoneidade de marketing de outras empresas que, igualmente premiadas, tiveram outros portadores de troféus por indicação dos promotores na homenagem aos vencedores. Lobão e Raposão parecem feitos um para o outro.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!